PREGAÇÃO

Se necessário, Deus disciplina até os mais fiéis (Série JOSIAS 5 de 5)

2Cr 35.20-27      67 minutos      04/10/2020         

Mauro Clark


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Essa história é muito curiosa. Os papéis parecem invertidos!

Pano de fundo: data: 609 aC, 4 anos antes de Nabucodonosor iniciar a invasão de Judá e 23 anos antes da destruição final de Jerusalém (586).

Assíria: poder dominante. Babilônia: crescendo, ameaçando a Assíria.

Há indícios de que Josias teria sido aliado da Babilônia.

Os assírios haviam colocado a capital em Carquemis (norte da Síria, perto da Turquia).

Os babilônios travavam guerra contra Assíria em Carquemis e Neco, faraó do Egito, iria se juntar à Assíria, contra a Babilônia

Foi aí que Josias resolveu interferir, impedindo Neco de chegar até Carquemis. 

Os personagens:

Josias (2Cr 34.1-2): um dos melhores reis de Judá. Fez uma reforma religiosa/espiritual profunda: purificou o templo, etc.

Neco: rei pagão, do Egito. 

v.20-21

Josias resolve impedir a campanha militar de Neco.

Neco manda avisar que Josias não se metesse, afirmando que estava nessa campanha por ordem do próprio Deus.

E com um detalhe: Deus havia mandado que ele fosse logo.

Adverte então a Josias para não se opor a Deus, sob o risco de ser destruido.

Neco chega ao ponto de afirmar que Deus estava com ele!

Incrível: parece um homem de Deus falando a um pagão! E era exatamente o contrário! 

v.22-27

Josias insiste. Entra na guerra disfarçado e é ferido por uma flecha, retirado da batalha e levado para Jerusalém, onde morre aos 39 anos (ou chegou morto).

É enterrado sob grande pranto e lamentação. Era um rei querido e havia feito muitas coisas boas (2Cr 35.26).

Foi um homem fiel a Deus o tempo todo. 

À primeira vista, a história é esquisita, desanimadora, mais confunde do que esclarece.

Não é bem assim: temos aqui várias lições valiosas. 

1) Deus se expressa não apenas através de crentes, mas também de não crentes.

Essa observação não inclui revelação infalível, que é somente nas Escrituras.

E nem se refere à compreensão de doutrinas bíblicas, limitada aos crentes.

Refiro-me à influência de Deus sobre os homens em geral para dizerem ou fazerem algo que Ele queira, numa determinada situação.

Deus falou a todo o reino da Babilônia através de Nabucodonosor: Dn 4.1-3.

Deus falou através do incrédulo sumo-sacerdote Caifás sobre a morte de Jesus: Jo 11.51.

Deus usou Ciro para mandar os judeus de volta a Israel: 2Cr 36.22-23.

Até mesmo através de um animal Deus já se expressou uma vez: Nm 22.28-31.

Quando disse que as pedras clamariam se os discípulos calassem, Jesus queria dizer exatamente isso: Lc 19.39-40.

Em suma: para se expressar, Deus pode se utilizar de qualquer coisa que Ele criou. 

Não há motivos para Deus ter cessado de agir assim. Todos os homens são servos dele. Tudo o que existe está sob o controle de Deus.

E ninguém pode resistir, conscientemente ou não, ao que Deus manda fazer.

Nada impede que alguma pessoa, mesmo não crente, fale algo que Deus ordenou.

Ou de um animal fazer o que Deus quer que faça. 

Não pensemos que todo mundo esteja falando o que Deus expressamente ordenou.

Mas o outro extremo é limitar a Deus, achando que os crentes são a única e exclusiva fonte de Deus se manifestar e se expressar. 

Isso nos leva à segunda lição:

2) Por sermos crentes, filhos de Deus, não podemos nos dar ao luxo de desprezar sugestões, conselhos e até repreensões  de pessoas não crentes.

* Abraão, o pai da fé, foi repreendido por Faraó e Abimeleque: Gn 12.17-20; Gn 20.9-10

* Davi foi aconselhado por Abigail para não atacar Nabal.

* O sábio dá ouvidos a conselhos: Pr 12.15; 15.22; 24.6 (aqui conselhos estratégicos). 

Existem pessoas incrédulas com certa sabedoria de Deus.

O próprio fato do homem trazer a imagem e semelhança de Deus, indica que alguma dose de sabedoria divina pode ser transmitida aos homens, independente da fé.

O conteúdo geral da filosofia do mundo é evidentemente errada e anti-Deus.

Mas não significa que é impossível pessoas assim falarem coisas boas isoladamente.

Devemos ter a humildade de ouvir bons conselhos ou repreensões de não crentes.

Se não se chocam com o princípio divino e têm bom senso, podem ser corretos. 

3) Mesmo assumindo que somos crentes fieis a Deus, isso não nos assegura que sabemos melhor do que outros a vontade de Deus específica para certo assunto.

As doutrinas e profecias que Deus quis revelar, estão todas na Bíblia, onde encontramos planos e padrões e vontades de Deus com relação a muitas coisas.

Mas não encontramos o que Deus deseja para assuntos particulares. 

Josias conhecia a Lei de Moisés, que indicava a vontade de Deus para Israel.

Mas na Lei não havia cada detalhe das atividades políticas e militares de Israel.

Deus bem poderia ter se revelado a Josias diretamente ou através de profetas.

Mas por algum motivo que desconhecemos, não o fez.

Escolheu se revelar logo a um rei pagão, inimigo de Israel!

Também não sabemos porque. O fato é que assim quis. 

É difícil avaliar exatamente o que se passou com Josias para ter agido daquela forma.

Considerando a vida fiel dele, é razoável assumir que não tinha revelação de Deus sobre o assunto, ou seja, não pecou afrontosamente contra Deus ao ir para a batalha.

É provável que Josias tenha cometido dois erros:

1) Arrogância: “Se Deus não revelou o assunto a mim, que sou fiel a Deus, quanto mais a um pagão e idólatra desse. É evidente que está blefando”.

2) Imprudência. Pelo visto, não consultou a Deus diretamente ou por algum profeta. Parece que estava obcecado com a idéia de impedir Neco e partiu para a luta. 

Nós crentes devemos ter cuidado com arrogância ao nos compararmos com não crentes.

Como se soubéssemos tudo de Deus, e eles, nada.

E cuidado com a imprudência. Se alguém nos adverte com palavras que não comprometem princípios divinos e têm bom senso humano, pode ser Deus querendo nos dizer algo.

Precisamos no mínimo considerar, refletir, orar a Deus e pedir outras opiniões a pessoas. 

4) O fato de sermos crentes fiéis não nos livra de sofrer as consequências quando insistimos em ir contra a vontade de Deus.

Fazia parte do plano de Deus que Neco fosse ajudar a Assíria contra os babilônios.

Josias tentou interferir e encontrou a morte.

Não sabemos até que ponto Josias poderia ter checado a veracidade do que Neco falara. 

Seja como for, nada anula o fato de que Josias quis interferir nos planos de Deus. 

Ninguém pode se intrometer no que Deus tem a fazer: Jó 9.12; Is 14.27.

Se tivermos a infelicidade de ficarmos à frente de Deus, como obstáculos ao que Ele quer fazer, com certeza sofreremos as consequências. 

Talvez você pense:

Coitado de Josias. Será que valeu a pena ter sido tão fiel?

Vale a pena eu dar duro para ser fiel, trabalhando a vida toda para Deus, e por causa de um único gesto de arrogância, ou imprudência, ou o que for, ter final trágico?" 

Respondo com a quinta lição:

5) Vale a pena ser fiel qualquer que seja o nosso futuro aqui, qualquer que seja o final do nosso ministério.

Pelos menos por 2 motivos:

a. A obra que construímos aqui fica, mesmo depois de partirmos.

E serve para que os outros prossigam. Importa é que a obra seja para a glória de Deus. 

Veja a importância de uma sequência de ministérios em que Deus é o centro: 1Co 3.5-8.

O povo lamentou muito a Josias. Por que? Pela vida dele. Não por causa ou pela maneira como morreu.

Será bom deixarmos um rastro de vida tal que pessoas lamentem a nossa partida com saudade, sentindo falta do bom trabalho que fazíamos ao reino de Deus. 

b. Nossos galardões, nosso tesouro, está guardado no céu: Mt 6.20  

6) Deus é tão maravilhoso que até na tragédia abençoa os que são fiéis.

Josias morreu sem passar pelo profundo desgosto de ver o reino sendo destruído aos poucos pela Babilônia, iniciando em 605 aC, até culminar com a destruição total de Jerusalém em 587, com grande morticínio.

A profetiza Hulda havia predito que Josias morreria em paz, como prêmio da fidelidade dele (2Crônicas 34.26-28).

Morrer em paz aqui significa sem que o reino de Judá estivesse envolvido em guerra.

Isso foi um prêmio de Deus ao fiel rei Josias. 

Nenhum de nós deseja cometer o erro de Josias, interferindo nos planos de Deus.

Mas se acontecer e formos apanhados pelas consequências, podemos ter certeza de que Deus continua conosco e nos será benéfico: nada nos separa do amor dEle (Rm 8.38-39) e tudo concorre para o nosso bem (Rm 8.28).

E se a consequência for trágica ao ponto de nos levar a vida, estaremos no céu.

Nosso Deus é tão benigno, que nos leva para mais perto de Si mesmo quando precisamos ser punidos ou disciplinados, ou sofrer as consequências de um erro.

Em todas as situações, sem exceção, Ele nos trata com amor.

E no céu vai nos recompensar por tudo o que fizemos

Isso é maravilhoso!

Que Deus nos abençoe. Amém 

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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