v.1
Ao ter de comparar a si próprio com obreiros fraudulentos que operavam em Corinto, Paulo como que cai em si: “Um momento: estou aqui mais uma vez me defendendo? Eu não preciso disso.”
E usa forte ironia falando de “alguns” - falsos mestres que certamente tiveram de lançar mão de cartas quando chegaram em Corinto.
(Detalhe: Paulo de forma alguma era contra o uso de cartas de recomendação. Ele mesmo recomendou obreiros com cartas. A ironia é específica para os falsos de Corinto).
E se refere a dois tipos de carta de recomendação sobre ele próprio: a de alguém para os irmãos de Corinto e a dos irmãos de Corinto para quem interessasse.
Pois Paulo não precisava de nenhuma!
v.2
Quanto à do seguindo tipo, eles nem precisariam fazer, pois é como se a própria vida deles estivesse gravada no coração de Paulo para quem quisesse ler.
Em vez de Paulo ter uma carta deles no bolso para abrir e mostrar a quem quisesse ver, ele tinha a própria vida deles gravada no coração. E falar sobre o efeito real de Paulo na vida deles era muito mais forte do que ler uma carta.
conhecida e lida por todos os homens: ou porque Paulo falava deles abertamente ou qualquer pessoa poderia conhece-los se quisesse.
Quando você fizer um trabalho na vida de alguém, muito mais importante do que uma carta declarando o que você fez, é o resultado real na vida dele - mesmo que ele próprio não se refira a você, não seja muito grato.
A realidade do que você fez é muito mais forte do que uma carta formal, muito mais visível a quem quiser ver e muito mais gratificante a seu coração.
v.3
Como carta de Cristo:
Quanto ao primeiro tipo de carta, de alguém recomendando Paulo para os coríntios, também não havia necessidade, pois já existia uma carta dessa, escrita por ninguém menos que o próprio Senhor Jesus Cristo!
E a carta era eles próprios.
Dois contrastes sobre a carta:
... não com tinta: não uma carta comum, tradicional, que se perderia ou apagaria
... mas pelo Espírito do Deus vivente
Cristo não pegou tinta e saiu escrevendo para eles.
Ele enviou o Espírito Santo, o Espírito de Deus para fazer um trabalho interno, espiritual.
... não em tábuas de pedra
O esperado seria “não em papiro ou pergaminho”,pois quem escreve com tinta em pedra?
Mas Paulo lembrou-se das tábuas da Lei, gravadas em pedra e entregues a Moisés.
Quem as lesse, saberia o que Deus esperava dele, mas isso não implicava em nenhuma mudança espiritual.
... mas em tábuas de carne, isto é, nos corações
Não um gravação externa, mas íntima, no coração, transformadora.
Lembra as promessas de Deus em Jr 31.31-33 e Ez 36.26-27.
Observe:
a. A Trindade presente na vida do convertido.
b. A Trindade se utilizando do ministério de Paulo para realizar trabalho tão bonito.
Mesmo ressalvado o peso do ministério apostólico de Paulo, podemos falar assim de qualquer crente entre irmãos.
Quem gosta de aconselhar, de ouvir, de orientar, não pode imaginar a beleza, a riqueza em valores espirituais do trabalho que faz.
As três Pessoas da trindade estarão não apenas interessadas nesse trabalho, mas operando através de você.
v.4-5
Nesta carta, é impressionante o cuidado de Paulo em ficar na defensiva, tão fortes eram os ataques que estava recebendo de alguns em Corinto.
Avança falando da excelência do seu ministério, mas logo se retrai um pouco e se explica.
É esse tipo de explicação que ele dá agora nesses dois versículos:
Não é da cabeça dele toda a confiança de que o seu ministério é aprovado por Deus.
É Cristo quem o convenceu disto. É por Cristo que Deus opera em Paulo.
É impressionante o peso desse argumento.
É como se dissesse: “Se vocês não aprovam o meu ministério, acham que sou indigno de ser apóstolo, se me acham insincero, então se entendam diretamente com Cristo!”
E para que não pareçaem que está sendo ousado e arrogante, explica:
não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós
capaz: gr ικανος hikanos: suficiente, devidamente habilitado, adequado, próprio.
Ou seja, Paulo se declara incapaz, por si mesmo, de até mesmo pensar alguma coisa.
Mas o que significa esse “alguma coisa”?
Não creio que seja qualquer coisa até mesmo o pensamento de beber um copo dágua (embora isso seja também verdade - At 17.28).
Mas algo dentro da esfera do ministério dele.
Qualquer capacidade de Paulo como obreiro não vinha diretamente dele, inclusive o de ter pensamentos espirituais, entendimento das coisas do alto, etc.
Então vinha DE QUEM? E responde, numa bela afirmação do poder de Deus sobre nós:
pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus
suficiência: exatamente a mesma palavra traduzida acima por “capaz”.
A suficiência e habilidade de Paulo no trabalho de Deus vinha do próprio Deus.
Segredo da vida cristã vitoriosa: reconhecer-se inerentemente incapaz, pequeno, desesperadamente necessitado da ajuda divina e até de outros irmãos: Fp 2.3
Alguns personagens bíblicos se sentiram assim:
Davi: 2Sm 7.18-19
Salomão: 1Re 3.5-7
Gideão: Jz 6.11-16
Três observações importantes:
1. Paulo não disse que era totalmente desprovido de capacidade. Ele era altamente capaz e habilitado para a obra que estava fazendo.
A questão é que a FONTE dessa capacidade não era ele próprio, mas Deus!
Não vale usar essa confissão de Paulo para as famosas desculpas do tipo “não sei fazer nada”, etc. como fez.
Moisés fez assim e foi repreendido (Ex 6.12), assim como Jeremias (Jr 1.4-8)
2. O fato da nossa capacidade vir de Deus não significa que ficaremos deitados apenas aguardando poder do alto.
Deus faz questão de contar com nossas próprias capacidades e virtudes, por menores e imperfeitas que sejam.
Paulo não se poupava para servir a Deus. Usava todos os seus recursos - pequenos ou grandes. Veremos isso no próprio decorrer de 2Co.
Cada crente deve se esforçar o máximo para Deus, mesmo que esse máximo seja ridiculamente pequeno. É onde entram as disciplinas espirituais: estudo, oração, serviço ao próximo, etc.
3. O fato da nossa capacidade vir de Deus não nos livra da responsabilidade pelos nossos erros, defeitos, fraquezas.
A suficiência que Deus transmite para nós é perfeita, pura, poderosa, mas infelizmente perde muito ao passar pelo nossa mente corrompida, corpo preguiçoso, etc.: é o tesouro em vaso de barro: 2Co 4.7
Temos de tomar providências para que essa perda seja a menor possível.
E isso ocorrerá com a nossa luta contra o pecado e o processo de santificação.
Termino com uma conclusão: é muito firme, segura, estável a posição de um obreiro que tem um ministério centrado em Cristo, com doutrina, atitude, vida pessoal e familiar, tudo conforme os padrões de Cristo.
As pessoas podem até não gostar muito do jeito desse irmão, do estilo, do método, mas não podem duvidar da genuinidade do seu chamado, da sinceridade da sua vocação, da origem da sua habilidade.
E o efeito disso sobre o próprio obreiro é enorme: embora atento e humilde para corrigir seus defeitos, o seu coração descansa com grande tranquilidade e confiança de que, sendo seu trabalho em Cristo, então está sendo aprovado e habilitado pelo próprio Deus.
Neste ponto Paulo passa a fazer um contraste entre o ministério dele, de uma Nova Aliança e o de Moisés, o ministério da letra (Velho Testamento).
Veremos na próxima mensagem.
Resumo das lições práticas para nós, crentes:
1. A realidade do que você fez na vida de alguém é muito mais forte do que uma carta formal, muito mais visível a quem quiser ver e muito mais gratificante em seu coração.
2. Quem ajuda com conselhos, orientação, faz um trabalho belíssimo e agradável a Deus.
3. É importante reconhecer-se incapaz e pequeno, necessitado da ajuda divina, sem deixar que essa atitude sábia e humilde se resvale em desculpa para não se esforçar no ministério e nem em se sentir responsáveis pelas próprias falhas e pecado.
Quanto a você, amigo, peça para Cristo enviar o Espírito do Deus vivente para transformar o seu coração duro em coração sensível, e deixar gravada nele como que uma carta, deixando o bendito registro de um alma regenerada.
Que Deus nos abençoe a todos.