Cl 3.18-19 Ef 5.22-33 62 minutos 27/08/2017
Mauro Clark
Já falamos sobre várias dessas características, para cada crente em geral.
Agora, dos v.18 a 21, Paulo fala do efeito prático que o novo homem deve ter em grupos específicos de pessoas. São 6 grupos, 4 relacionados com família e 2 com trabalho.
Veremos agora os dois primeiros grupos da família: esposas e maridos.
Como o nosso texto é muito resumido, vamos usar o paralelo, muito mais completo:
Ef 5.22-33
Novidade do NT: os salvos após a 1a. vinda de Cristo, Igreja, é a noiva dEle.
Nessa passagem, Paulo entrelaça 2 relacionamentos: marido-mulher e Cristo-Igreja.
Dos relacionamentos familiares, o do casal é o mais importante, porque :
* Casal é a base, o núcleo da família
* Relacionamento sadio entre casal é um grande passo para filhos sadios
* Casal ilustra mistério de grande valor no plano da salvação: tipo de Cristo e Sua Igreja.
Esposas
v.22: As mulheres sejam submissas ao próprio marido...
Esta é a principal exigência que a Bíblia tem para a esposa crente.
Pedro toca no mesmo ponto em 1Pe 3.1-2, inclusive indo mais fundo, deixando claro que a submissão é exigida mesmo a um marido não crente.
Observe:
1. A posição hierárquica inferior da mulher no casamento não é novidade do NT.
Vem de Gênesis, de Adão e Eva! E como maldição pelo pecado: Gn 3.16c
... o teu desejo será para o teu marido:
No original, a palavra hebraica significa mais “inclinação, se voltar para”, do que “desejo.”
Kaiser sugere: “Tu te voltarás para o teu marido” (antes, era só para Deus). Assim:
“O teu desejo será subordinado ao desejo e aprovação do marido (que te governará).”
Essa maldição tem causado todo tipo de sofrimento e humilhação à muher mundo afora.
E todo marido que causa esse sofrimento dará contas de Deus.
Mas é sempre bom lembrar: a própria mulher foi responsável pela maldição, que veio porque ela pecou.
2. Note que o NT não cancelou esse princípio (e não poderia, pois foi decreto de Deus). Manteve-o, mas de forma belíssima: a mulher continuaria submissa ao marido, sim, mas a um marido que deveria amá-la como ama a si mesmo, conforme veremos.
E mais: dignificou tanto o casal que cumprisse esse modelo, que o comparou ao próprio casal Cristo-Igreja.
Ou seja, o que surgiu como maldição terminou sendo revertido em bênção.
Concordo que uma esposa realmente subjugada por um marido duro, insensível, cruel, sofre na pele o peso da maldição da queda e deve se sentir infeliz e oprimida.
Mas uma crente, submissa a um marido amoroso, tem tudo para se sentir feliz, realizada.
Exatamente da maneira como os crentes se sentem felizes e realizados em serem submissos a um Salvador cheio de amor.
v.22
como ao Senhor (Cl 3.18: ... como convém no Senhor):
Duas ideias, ambas válidas.
* Da maneira como é submissa ao Senhor (guardada as proporções)
* De acordo com a vontade do Senhor (prefiro esta).
Sutileza: Paulo assume que uma leitora crente faria questão de agir conforme Deus gostaria e, pelo menos por isso, seria submissa ao marido.
v.24
Comparação clara entre a esposa e Igreja.
Mas o que seria mesmo essa famosa SUBMISSÃO da esposa?
“Antes de tudo, é uma atitude da esposa para com o marido, em que ela reconhece uma hierarquia de funções que o próprio Deus estabeleceu na família, na qual o marido ocupa a função de cabeça.
Como consequência dessa atitude a esposa segue a orientação do marido nas coisas concernentes ao lar. Ela compreende que é dele a última palavra nas complexas decisões relativas ao funcionamento da família. Mesmo havendo extensos diálogos sobre os mais diversos assuntos – moradia, maneira de criar os filhos, colégios, mudanças de residência, trabalho da esposa, transporte da família e muitos outros – a mulher está pronta para aceitar a decisão final do esposo. Ela entende que agindo assim estará, em última análise, obedecendo e honrando ao próprio Deus, que estabeleceu esses critérios.
Submissão, de uma maneira geral, é uma postura dentro de um relacionamento - seja entre duas pessoas, uma família, ou uma organização qualquer. O próprio conceito de ordem e funcionalidade requer a existência de uma hierarquia, com diversos níveis de autoridade, em que alguém terá a última palavra. O que está acima na hierarquia não é essencialmente melhor do que está abaixo. É uma questão funcional.
Os crentes de uma igreja devem ser submissos aos seus líderes (Hb 13.17). Isso não significa que o pastor seja melhor cristão que os seus liderados, e muito menos que esses tenham de lhe prestar uma subserviência desonrosa. Na realidade, numa igreja, todos são servos uns dos outros.
Mas a maior prova de que a submissão em si não tem nada a ver com a dignidade de quem se submete, encontramos em 1Coríntios 15.28: “E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos”.
Essa passagem diz claramente que o próprio Jesus Cristo, quando colocar tudo e todos sob a sua autoridade, Ele mesmo se sujeitará ao Pai celestial. O verbo grego traduzido aqui por “sujeitar-se” é exatamente o mesmo usado para ordenar à esposa submeter-se ao marido. Bastaria esse fato para fazer cessar todo e qualquer argumento de que submeter-se é uma atitude de inferioridade inerente. Cristo, quando se submeter, não estará sendo inferior ao Pai – eles sempre serão iguais em divindade, poder e glória.”
Em suma: ser submissa não tem nada de indigno ou que indica inferioridade intrínseca.
v.33
Outra exigência para a esposa (na realidade, consequência da primeira):
Respeito: grego: phobeomai: temor (= 1Pe 2.17): reverência respeitosa.
Guardadas as proporções, Cristo deseja que a esposa crente, com relação ao marido, reflita, em nível espiritual, a submissão o e respeito da Igreja ao seu Noivo.
Maridos
v.23
Jesus Cristo, sendo o Salvador da Igreja, é seu cabeça - orientador, que dá o rumo.
Essa mesma posição se estende ao marido: ele dirige a mulher, é o seu cabeça, dá os rumos do casal.
Mas isso não é INFERIORIZAR, HUMILHAR a mulher?
Além do que já falamos sobre hierarquia, considere:
v.25-27
Maridos, amai vossa mulher como também Cristo amou a igreja e a si mesmo...
As mulheres foram colocadas em posição exaltadíssima!
São comparadas com a Igreja de Cristo no aspecto de ser alvo de um imenso amor.
O amor de Jesus Cristo aos salvos, à igreja é de entrega total.
E mais:
v.26-27
Sem detalhar: Jesus purificou cada crente (conversão), o santifica e um dia apresentará todos juntos, a Igreja, gloriosa, sem mácula, nem ruga.., santa, sem defeito. Belíssimo!
Guardadas as proporções, este deve ser o amor do marido à sua mulher.
Um amor multiforme: sacrificial (entregar-se por ela), purificador e aperfeiçoador.
E mais: v.28-29
* Um amor igual ao que tem por si mesmo. Isso é muito difícil, mais do que ser submissa.
* Um amor sustentador, que alimenta
* Um amor cuidador, que protege carinhosamente - 1Pe 3.7
A ordem da mulher ser submissa é junto com a ordem para o marido amá-la e protegê-la.
Qual a mulher que não teria PRAZER em ser submissa a um marido que a ama como a si próprio, que a sustenta, cuida dela, que a protege carinhosamente?
Dentro da analogia, é como o crente que se submete a Cristo com grande alegria!
A união do casal é perfeita dentro desses padrões. Esse é o ideal divino.
E se esse ideal não se cumpre, a culpa não é de Deus!
- E se a minha mulher não é submissa, posso deixar de cuidar dela?
- E se o meu marido não me ama, posso deixar de ser submissa?
Não e não! A obrigação de um não desaparece porque o outro não cumpre a sua.
Exemplo: Somos ordenados a amar o próximo. Mas se o próximo me trata mal, torna-se meu inimigo, continuo na obrigação de amá-lo.
Ora, se esse princípio é válido para um inimigo, quanto mais para um cônjuge.
Além do amor, mais uma característica do marido crente ideal:
Cl 3.19: Maridos, amai vossa esposa, e não a trateis com amargura
tratar com amargura: πικραινω pikraino: tornar amargo; produzir um gosto amargo no estômago; amargar; exasperar; tornar-se furioso, indignado.
É uma vergonha o marido gritar com a mulher, ser ácido, grosseiro.
v.30-31
Cristo e Igreja: um só corpo. Ela, os membros. Ele, o cabeça.
Como modelo de Jesus Cristo e a Igreja, o casal é visto por Deus como um só corpo, como se fossem duas pessoas vivendo uma só vida.
Uma unidade muito forte, que ultrapassa o mero relacionamento sexual.
Uma união mesmo no plano espiritual, tendo por trás a união máxima que o casal representa: Jesus e Sua Igreja.
v.32: Mistério: maravilha revelada.
v.33: Resumo do casal ideal.
Temos a tendência de entender essas coisas como ordens: mulher, trate de ser submissa ao marido, é Deus quem está mandando.
Marido, trate de amar a sua mulher. É Deus quem manda.
Se quiser olhar por esse prisma, não deixa de estar certo. Certo, mas meio míope!
Na realidade, essa atitude, de um e de outro, deve brotar naturalmente de uma mulher e um homem convertidos. O novo homem deve produzir isso.
Se a esposa não consegue ser submissa ao marido, é sinal de que o novo homem não está conseguindo se expressar. O andar cristão dessa mulher deixa muito a desejar, por mais que seja forte em outras áreas.
E assim com o marido: a característica que mais deve sobressair nele é o amor pela esposa. Se não é o caso, está fraco no seu andar. O velho homem ainda está bem ativo!
Que Deus nos abençoe. Amém