ALMA QUIETA
Na pregação passada, vimos que, além de pregar o Evangelho, o crente deve estar atento para uma chance de conversar, explicar, exortar o outro.
Comentei que esse componente crucial do dever cristão na divulgação do Evangelho, parece estar em baixa atualmente.
E apontei como uma das causas a ideia moderna de “ganhar a vida”, encher o tempo com empregos, cursos, viagens e negócios, numa rotina agitada, “sem tempo”, “no sufoco”.
Ora, esse modo de vida é exatamente o oposto do que a Bíblia considera tão importante, e que será o nosso tema hoje: quietude de alma.
Embora seja uma pregação temática, quero tomar como ponto de partida o texto:
Ex 14.13-14
Contexto: fuga do Egito, Faraó atrás, mar Vermelho bem à frente.
O povo reclama apavorado, mas Moisés os acalma, dizendo três coisas:
1. Não temais
O medo alimenta a si próprio, formando um ciclo vicioso até virar pânico.
E turva o raciocínio, impedindo exame cuidadoso da situação, opções, etc.
Boa parte das suas agitações deve ser causada pela falta de confiança em Deus.
Você pensa: “Se eu não resolver minhas necessidades, quem o fará? É eu ou ninguém”.
Só que você sabe que é fraco, é um recurso muito precário. E começa a ficar com medo.
Quanto mais medo, mais se agita.
A primeira coisa é cortar o medo, com o ganho de confiança em Deus.
Is 7.2-4,7: Não temas...
Temos mania de nos apavorar com os Rezims e Pecas que deixam os nossos corações intranquilos como árvore numa ventania. E não passam de tocos de tição fumegante!
Temos tantas promessas de Deus sobre proteção, orientação.
Antes de fazer um milagre, Jesus gostava de dizer “Não temais”.
- E como faço para diminuir meu medo e aumentar minha confiança em Deus?
Não posso me concentrar nesse assunto agora, mas, resumindo: oração, leituras, alimentar-se com a Palavra de Deus, meditação.
Temo que seja grande a falta de costume do crente hoje em ter momentos a sós com Deus, com calma, para ao menos dar oportunidade ao Espírito Santo interceder por ele.
Livros alertam sobre o perigo dos pastores se envolverem tanto com tarefas administrativas, providências, vai e vem, que deixam em 2o. plano momentos quietos para meditar, orar, contemplar a Deus.
Voltando: Moisés continua:
2. Aquietai-vos. Em outras palavras: “Parem com toda essa agitação, calma”!
Moisés então apresenta um motivo prático e fortíssimo:
3. Vede o livramento do Senhor que, hoje, vos fará
A palavra mais importante dessa frase não é “livramento”, mas “VEDE”.
Ficar quieto e sem medo não era o objetivo final, mas um MEIO, uma condição necessária para que eles pudessem usufruir plenamente da experiência que viria a seguir.
A experiência seria “somente” a abertura do Mar Vermelho, a passagem segura e o fechamento após eles, afogando os egípcios.
Reconheço que não adianta alguém dizer apenas “Não tenha medo, irmão, fique calmo”.
- Mas... com base em que eu não devo ter medo? E por que vou ficar calmo?
- Porque você tem um Deus que cuida de você. E você somente poderá OBSERVAR esse Deus cuidando de você se ficar com alma quieta.
E ao ter a quietude para observar esse Deus agindo, você APRENDE dEle.
Os judeus aprenderam tantas coisas ao observarem Deus abrindo o Mar Vermelho.
Nesse sentido, eu gostaria de ter o privilégio de ser um Moisés para você e dizer:
“Calma. Aquiete a sua alma, para observar ao redor, analisar, receber informações das Escrituras e diretamente do próprio Espírito Santo”.
Lembram-se de Marta e Maria? Por que Jesus elogiou Maria e não Marta?
Porque foi ela quem entendeu que os afazeres domésticos teriam de parar naquele momento pois era hora de ouvir e aprender. E permitiu-se um sossego de alma aos pés de Cristo.
E mais: apenas observar Deus agindo e aprender sobre Ele ainda não é o alvo do crente, mas o ponto de partida para uma aventura espetacular.
Essa aventura é aproximar-se de Deus, conhecer melhor a Pessoa dEle, se apaixonar por Ele e fazer com que tudo na vida se torne secundário.
Esse é o resultado final, o prêmio de quem tem a alma quieta: conhecer por experiência própria, que Deus é Deus: Sl 46.10
O próprio termo “saber” tem o sentido de conhecer, descobrir, discernir, saber por experiência (Strong).
Agora imagino você dizendo:
"Puxa, tudo isso é tão legal. Como eu gostaria de ser mais quieto, viver mais tranquilo e crescer no conhecimento pessoal de Deus."
Ótimo. Decida, ponha isso como OBJETIVO claro e palpável nesta vida.
Para isso, alguns conselhos práticos da Bíblia:
* 1Tm 2.1-2: ... para que vivamos vida tranquila e mansa (gr: quieto, calmo - Strong)
O estado de tranquilidade ou intranquilidade da nação interfere na quietude pessoal do cidadão.
Para isso a Bíblia sugere orar por quem tem poder para interferir no bem estar da população.
* 1Ts 4.10b-11: diligenciardes por viver tranquilamente
tranquilamente: igual à segunda palavra acima: quieto, calmo.
Duas observações:
a. diligenciar: ser ambicioso, esforçar-se ardentemente, querer muito.
Tranquilidade é um alvo difícil de ser alcançado, que precisa ser perseguido tenazmente!
b. Viver tranquilamente NÃO significa viver ociosamente, mas pode incluir cuidar do que é vosso, trabalhar com as próprias mãos.
Mas não um trabalho que obriga a viver correndo para lá e para cá, elétrico, afobado, cheio de afazeres que não dá conta, etc.
Mas um tipo de atividade que permita quietude de espírito.
Repito: para conseguir isso, é preciso ter um alvo e dar duro para alcançar!
* Sl 131.1-2: Não ande à procura de grandes coisas, projetos complicados, alvos que lhe roubarão tempo e cabeça, e exigirão grandes sacrifícios na família, na saúde, no serviço cristão e especialmente na comunhão com Deus.
Duas dicas importantes do texto sobre andar à procura de coisas assim:
1. Pode ser resultado de soberba
2. É incompatível com uma alma sossegada (veja a força de “pelo contrário”).
* Pv 17.1
Aqui NÃO está dizendo para preferir uma vida pobre do que uma confortável.
Mas para ter uma vida confortável à custa de contendas, e tensões, então é melhor ser mais modesto, se isso trará tranquilidade.
Interessante: na vida moderna, não se faz esse questionamento.
Quanto mais confortável minha vida, melhor! E ponto final!
- Mas, e o custo disso?
- Ah, vou ter de pagar, isso faz parte.
Só que Deus diz o contrário: “Se faz parte, caia fora. Não pague o preço!”
* Sl 4.4b: Tenha como costume pensar nas coisas à sua volta, seus passos, opções.
Medite, dê tempo a si próprio.
Termino com uma passagem belíssima:
Is 30.15
Contexto: Judá com medo das ameaças da Assíria, pensava em se aliar com o Egito.
Deus ficou com ciúmes e disse que não adiantava alianças.
Se eles quisessem ser salvos, que se convertessem a Ele e ficassem quietos!
A força deles não seria militar, nem de alianças políticas, mas em ficaram tranquilos e confiando nEle.
A aplicação é tão clara: a força do crente não está no dinheiro, na saúde, no poder político: mas numa TRANQUILIDADE oriunda de profunda CONFIANÇA no Senhor!
Parece paradoxo, mas a força do crente está em SER TRANQUILO, em ter a alma sossegada em Cristo!
Quanto a você, amigo, vá a Cristo e veja o que é quietude de alma!
Que Deus nos abençoe. Amém