Cl 1.24 57 minutos 15/01/2017
Mauro Clark
v.24
Agora, me regozijo...
Em que? Num passeio, um encontro com amigos, uma boa notícia?
Nenhum problema se fosse, é claro. Mas, era o caso?
No caso agora, ele diz explicitamente EM QUE se alegrava:
... nos meus sofrimentos...
Quando vamos parar de associar alegria do crente com coisas agradáveis?
Lembram como Paulo estava quando escreve esta carta? Preso em Roma!
Mas essa terrível situação não era motivo para estragar a alegria dele.
Um dos temas mais frequentes em Paulo é a alegria-fruto do Espírito.
Filipenses (escrita também na prisão!) têm a palavra “alegria” ou “regozijo” 12 vezes:
Fp 1.4,18; 2.2,17,18,28,29; 3.1; 4.1,4
A alegria espiritual é bálsamo para corpo e alma sofridos, um antídoto poderoso contra as consequências do sofrimento: dor, desespero, desânimo, angústia, depressão.
... por VÓS
Estas 2 palavrinhas tem um significasdo enorme.
Antes de tudo, vemos que o sofrimento dele não era isolado, por motivos próprios, mas por uma causa muito maior.
E ao falar da causa, poderá ter dito “sofrimento por Cristo”- que obviamente era verdade.
Mas preferiu dizer que seu sofrimento tinha relação com outros, com irmãos em Cristo.
Uma relação, obviamente, altamente benéfica:
... POR vós: υπερ huper: em benefício de (entre outros significados)
Ou seja, Paulo estava sofrendo para que os irmãos de beneficiassem!
Só esse motivo dá uma base racional para a alegria: “Ora, se pelo meu sofrimento alguém está se beneficiando, então o sofrimento já não é assim tão ruim”.
Em geral, sofrimento (esforço, cansaço) no trabalho de Deus é em benefício de alguém.
* Um cansativo ensaio do coral: a igreja vai lucrar
* Uma aula preparada à noite com sono: os alunos vão lucrar
* Uma gozação na faculdade porque você falou de Cristo: alguém vai lucrar.
Essa convicção de que outros estão ganhando com o seu esforço-sofrimento é altamente motivadora e reconfortante... uma verdadeira fonte de alegria!
Voltando:
O sofrimento de Paulo, além de alegrá-lo por beneficar outros, tinha ainda outro significado extremamente importante para ele:
... e preencho na minha carne o que resta das aflições de Cristo
Antes de tudo, note que Paulo via essa tarefa como um missão sendo cumprida. Se tivesse de haver sofrimento, que fosse. O importante é que fazia parte do seu ministério.
Em suma, o sofrimento dava a Paulo a sensação de dever cumprido!
O soldado, no auge de uma missão difícil, deve se reconfortar na certeza de estar fazendo o que é para fazer e pensando na honra que receberá depois.
Um segredo para você aliviar o cansaço-esforço-sofrimento no trabalho cristão é se sentir fiel por estar cumprindo uma missão dada por Deus.
Mas, vejamos o que significa a afirmação de Paulo:
preencho na minha carne o que resta das aflições de Cristo a favor da igreja
Antes de tudo, isso NÃO significa que Cristo não sofreu o suficiente no Calvário, a ponto de precisar Paulo ou alguém completar.
Cristo sofreu o suficiente, cumpriu o plano de se sacrificar, conforme declarou na cruz:
* Jo 19.30: Está consumado: τελεω teleo: completo, feito, pago.
* Hb 10.10-14: uma vez por todas...para sempre... um único sacrifício... única oferta... para sempre.
Jesus Cristo está hoje no céu com todo poder e não está mais sofrendo fisicamente, em t ermos de sacrifício vicário. (Aliás, tem é alegria!).
Só que Cristo é o Cabeça de um corpo místico, a Igreja: Ef 1.22-23
Na época de Paulo (e ainda hoje) a Igreja está em formação, até Cristo voltar.
E essa formação seria constituída de muito sofrimento dos que se envolveriam: apóstolos, discípulos, todos os crentes.
A soma de todo sofrimento individual de cada crente pela igreja, até Cristo voltar, é o que Paulo chama de resto das aflições de Cristo. E por que “de Cristo”?
É típico de qualquer corpo que, se um membro sofre, todo o corpo sofre: 1Co 12.26
Ora, se um simples membro sofre com o sofrimento de outro, quanto mais o Cabeça do corpo, Aquele que deu a vida para salvar esse corpo. Ele sofre muito mais!
O próprio Paulo ouviu de Cristo: por que ME persegues? At 9.4
Ver ainda: 1Pe 4.12-13; Mt 25.40,45,46
Voltando:
Ao sofrer fisicamente na prisão, Paulo fazia a parte dele nesse processo, e alegremente!
Para ele, sofrer por Cristo era uma forma de comunhão com Ele, Cristo: Fp 3.10
Sofrer por Cristo é um privilégio do crente: Fp 1.29
Voltando: ... a favor da igreja: mesma palavra υπερ huper: em benefício de
Paulo repete a ideia de estar sofrendo em favor dos irmãos cristãos.
Sendo assim, quando você, crente, se cansa, ou se desgasta, ou mesmo sofre no serviço cristão hoje, está ainda preenchendo o que resta das aflições de Cristo a favor da igreja.
É bom então verificar se você...
* passa por isso alegremente, sabendo que está beneficiando outros
* considera um privilégio se esforçar, se cansar, até sofrer por Cristo.
* quando pensa em comunhão com Cristo, inclui sofrimento.
Ao falar da igreja, Paulo comenta uma missão muito especial, confiada por Deus a ele: revelar um mistério antes oculto, e agora manifestado aos santos.
Mistério: não um suspense, mas um segredo ainda não revelado.
Na próxima pregação veremos que segredo era esse.
Que Deus nos abençoe. Amém!