Época: aproximadamente seis meses antes de Sua morte (36° mês de ministério).
Não consta em todos os manuscritos de João. Algumas versões estão em parênteses.
Conforme F.F.Bruce, é seguro considerá-lo genuíno como texto bíblico, embora não se tenha certeza quanto ao evangelista que o escreveu.
v. 1-2: É provável Jesus ter passado a noite em oração, no monte.
Voltou ao templo e passou a ensinar.
v. 3-6: Escribas e fariseus trazem à sua presença uma mulher surpreendida em adultério.
escribas: estudantes, intérpretes e professores do Velho Testamento, muito respeitados.
Foram acusados por Jesus de terem anulado a Lei de Deus por suas tradições.
fariseus (separados), chamados pelos inimigos, não se metiam em política. Surgiram no tempo dos Macabeus (150aC).
Guardiões da Lei oral e escrita, muito cerimonialistas, hipócritas e espiritualmente frios.
Aqui, juntos, eles apelam para a Lei, querendo passar por justos e corretos.
Só que a Lei de Moisés dizia que ambos deveriam ser apedrejados (Lv 20.10).
Onde estava o homem? Deixaram escapar? Estava combinado com eles?
mandou Moisés... tu, pois que dizes?:
Queriam confrontar Jesus com Moisés.
Não uma pergunta para instrução, mas para terem do que acusá-Lo (v.6).
Foram muito astutos: se Jesus dissesse para não apedrejar, estaria indo contra Moisés. Se dissesse para apedrejar, onde estava o Seu amor pelos pecadores?
Além do mais, poderiam acusá-Lo de querer decretar uma morte, algo que somente o Sinédrio poderia fazer, e mesmo assim com a confirmação do governador.
Reação de Jesus: não respondeu e começou a escrever na terra com o dedo. Notemos:
1) A situação era tão hostil que ele não dirige uma só palavra aos fariseus, nem à mulher, nem ao povo: silêncio total.
Existem momentos em que o silêncio é a melhor solução: Ec 3.7; Am 5.13.
Ele mesmo ficou em silêncio perante:
* Anás, sumo sacerdote - Mc 14.60-61a
* Pilatos, governador da Judéia – Mc 15.4-5
* Herodes Antipas, tetrarca da Galileia – Lc 23.8-9
2) Ele não se dignou a iniciar uma discussão bíblica com os escribas e fariseus. Bem sabia os motivos deles e por isso não iria perder tempo.
Cuidado com discussões bíblicas estéreis. Se perceber que o propósito não é sábio, pare.
3) Não sabemos o que Jesus passou a escrever. Esta é a única vez que fala dele escrevendo alguma coisa, e mesmo assim na areia, onde não duraria muito tempo.
O Homem sobre o qual mais livros têm sido escritos no mundo não deixou uma só linha de Seu próprio punho.
Todo o Seu ensinamento foi verbal. (E se tivesse deixado algo, seria idolatrado hoje).
v. 7:
Como insistissem na pergunta...
Seu pronunciamento tornou-se indispensável.
Resposta extremamente inteligente, mas, sincera e clara, sem tentar sair do aperto.
Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra
Apoiou a observância da Lei, autorizando o apedrejamento. Mas, usando Sua autoridade divina, neste caso particular, impôs uma condição para os apedrejadores: sem pecado!
Na realidade, a Lei de Moisés não exigia esse detalhe.
Mas estava sendo tão deturpada em seu aspecto básico, o espiritual, que não tinha sentido obedecê-la aos pedaços, ainda mais por motivos escusos.
A Lei foi feita para ser seguida por um povo sincero, temente a Deus onde as cerimônias e sacrifícios fossem uma consequência natural do que se passava no coração.
Mas nada disso estava acontecendo.
Então, ao mesmo tempo em que respeitava a Lei, Jesus mostrava que nenhum deles estava em condições de aplicar uma punição a outro.
aquele que dentre vós estiver sem pecado:
Jesus conhecia o coração dos homens e sabia que era mau: Jr 17.9
Uma das piores armadilhas de Satanás é fazer o homem pensar que:
* É bom (mesmo com algumas falhas aqui e acolá).
* É aceitável perante Deus, que afinal, não é tão exigente como dizem. “A Bíblia não diz que Deus é amor???”
* Não tem de que se arrepender, salvo alguns grandes pecados, que já foram perdoados por algumas esmolas.
O homem natural é pecador e precisa de um coração totalmente novo!
v. 8-9: Encerrou o assunto e deixou o resultado com eles.
... acusados pela própria consciência... Observe:
* O poder perscrutador da palavra de Jesus: alvo atingido em cheio.
* Como as consciências deles estavam pesadas!
* Jesus acertou: o motivo deles era ruim e estavam em pecado.
um a um: não uma retirada em massa, comandada por algum fariseu. Mas por constrangimento absolutamente pessoal.
... a começar pelos mais velhos: Por que? Talvez por consciência mais pesada.
Irmãos, uma palavra nossa, baseada na Bíblia, pode despertar consciências dormentes.
v.10-11:
Diálogo pessoa-a-pessoa, entre Jesus e a mulher.
Ela bem poderia ter ido embora, quando os outros foram.
Mas parece que desejava ouvir dEle alguma coisa.
E de fato ouviria, mas algo tão diferente dos fariseus!
Palavras brandas, de quem estava...
... preocupado com o bem estar espiritual dela, não em puni-la fisicamente
... pensando em seu futuro, não no seu passado
... querendo aliviá-la de cruel humilhação, não em esmagá-la por seu erro.
Diálogo bonito:
Ninguém te condenou?
Enfatiza o fato de que ninguém estava em condição de julgá-la, isto é, em termos de pecaminosidade, eles estavam iguais a ela.
Falando assim, Jesus talvez queria aliviar um pouco o vexame e a vergonha da mulher.
Nem eu tão pouco te condeno:
Vemos ao mesmo tempo uma semelhança e uma diferença entre Jesus e os fariseus:
Semelhança: também não a condenou ao apedrejamento. Quando Ele disse não te condeno, não estava falando de perdão de todos os pecados dela. Mas da condenação específica ao apedrejamento.
Diferença: motivo da não condenação.
Escribas, fariseus e os outros: porque eram pecadores, tal como ela.
Jesus: não porque Ele também tinha pecados. Sugiro três motivos:
1) Há muito tempo a Lei havia sido deturpada.
Aquela punição específica seria totalmente desenquadrada do contexto da época.
E mais: enfatizaria o erro dos fariseus de que o pior pecado é o exterior (aqui, o adultério).
Jesus queria mostrar exatamente o contrário: para Deus o importante é o interior.
O apedrejamento não contribuiria para essa correção importante que Jesus queria fazer.
2) Porque o propósito dos fariseus era mau.
Não era para melhorar o nível moral da cidade, mas apenas para apertarem Jesus.
3) O mais importante: Jesus estava preocupado com a alma daquela mulher.
Ele queria dar-lhe uma oportunidade. E faz uma proposta especial: Ele deixaria de lado a punição legal que ela merecia, e ela trataria de viver uma vida diferente dali para frente.
Importantíssimo o final: ... vai, e não peques mais:
Jesus claramente a qualifica de pecadora.
Interessante que ele não disse: “Vai e não adulteres mais”!
O adultério era apenas uma maneira de externar o pecado que ela tinha dentro de si.
E quando diz não peques mais fala de maneira bem geral.
Ela precisava de vida nova, de uma mudança radical em sua vida.
Ela teria dois caminhos a escolher:
1) Não ouvir e continuar na mesma vida de pecado, incredulidade e desobediência.
2) Acatar as palavras de Jesus e, por fé, arrepender-se profundamente de seus pecados, crer em Jesus como aquele que poderia lhe perdoar e salvar, e obedecer a ordem dEle para levar uma vida diferente e sem pecado.
Importante: Jesus deixou de condenar a punição na terra daquele pecado específico.
Aquele pecado, como qualquer outro, um dia seria cobrado pela justiça divina.
Se ela não ouvisse a Jesus, ela pagaria por aquele pecado no inferno.
Mas se ela obedecesse e cresse nEle, o que aconteceria com aquele pecado?
Seria esquecido por Deus? Não. Seria cobrado dEle próprio, Jesus, na cruz!
Era como se Ele lhe dissesse: “Arrependa-se, creia em mim e leve outra vida, que Eu me responsabilizo por este horrível pecado!”
Que proposta! Não sabemos o que ela fez (acho que foi salva).
Mas, essa proposta está sendo feita até hoje a todo pecador.
Nós crentes, já aceitamos. Mas, você está passando essa proposta adiante?
Que Deus nos abençoe. Amém