Cheiro de morte para morte, de vida para vida (Série 2 CORÍNTIOS 9 de 54)

Retomando o contexto anterior: após ter escrito com tristeza uma 3a. carta aos coríntios (perdida), dura, Paulo a enviou por Tito.

Após problemas em Éfeso, partiu para Trôade, ao Norte.

Parece que marcara encontro com Tito ali, e o esperou ansiosamente, com notícias sobre a reação dos coríntios pela carta. Mas Tito não chegava, deixando Paulo muito ansioso.

Mesmo com porta aberta em Trôade, partiu para uma cidade da Macedônia.

Lá chegando, após algumas angústias, Tito chegou com boas notícias e Paulo se sentiu confortado pelo próprio Deus.

Aqui se inicia uma longa DIGRESSÃO, que vai até cap. 7.4

Não é muito clara a lógica da conexão com o trecho seguinte.

Parece que agora Paulo recorda a sensação de alívio com a chegada de Tito.

v.14:

Paulo dá graças a Deus por dois motivos:

I) ... que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo

conduz em triunfo: grego θριαμβευω thriambeuo, tem 2 sentidos:

1) Levar alguém a triunfar – (como em Cl 2.14-15).

2) Triunfalmente conduzir os cativos – conquistador levando seus cativos numa parada.

Triunfo romano: Procissão em homenagem a um general vitorioso: os magistrados da cidade na frente, trombeteiros, espólios conquistados, bezerro branco para o sacrifício, os cativos com o seu rei à frente, os oficiais e soldados vencedores, os músicos tocando, cantando e dançado, e por fim o próprio general. Havia queima de incenso e flores no ar.

Os que interpretam como triunfo romano, se dividem quanto a como Paulo se identificava:

a) Vitorioso, levado por Deus a triunfar. (Rm 8.37)

b) Cativo em Cristo, exposto ao mundo por Deus. 

Ambas as opções são interessantes, estimulantes e bíblicas.

Vou considerar a primeira opção, mais de acordo com a alegria de Paulo ao ver Tito.

Três características desse “ser conduzido em triunfo”:

1)  Sempre: no mínimo constante. Faz parte do crente triunfar em Cristo.

2)  É Deus quem nos conduz. Não conquistamos nada por nós mesmos, especialmente na área espiritual. Nossa suficiência vem de Deus (2Co 3.5)

3)  Em Cristo: (expressão predileta de Paulo): envolvendo Cristo e envolvidos por Cristo. Estando enxertados nele, como o corpo está com a cabeça.

Se alguém NÃO está em Cristo, Deus não o conduz em triunfo. Aliás, conduz ao inferno!

Cuidado você que diz que crê em Deus, mas quanto a Jesus Cristo não está convicto de Ele ser o que a Bíblia diz.

Se você é crente e anda em Cristo, então é um VITORIOSO. Mesmo com grandes lutas, terá vitórias garantidas.

Não obrigatoriamente vitórias materiais, mas especialmente espirituais: seu testemunho, relacionamentos, sua comunhão com Deus. São vitórias fáceis de serem observadas.

Além disso, acho que há vitórias que nem conseguimos enxergar nesta vida.

Quem está em MISSÃO SECRETA não sabe a parte que desempenha no projeto.

E nem sabe bem a que o chefe se refere quando diz “Parabéns pela sua participação”.

O crente está envolvido em muitas tarefas secretas, dentro do grande plano de Deus.

E se andar EM CRISTO, fique certo de que será sempre conduzido por Deus em triunfo.

Segundo motivo pelo qual Paulo dava graças a Deus:

II) por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento:

Ao falar de aroma, tudo indica que Paulo continuava pensando no triunfo romano, ou por causa do incenso ou das flores jogadas.

Seja como for, Paulo diz que Deus o utilizava para manifestar o aroma agradável do conhecimento dEle, Deus.

Embora não possamos esquecer a particularidade de Paulo como apóstolo, acho que as figuras utilizadas podem ser aplicadas a qualquer pregador ou mesmo a qualquer crente.

Já pensou em VOCÊ ser utilizado da mesma forma?

Só isso é suficiente para você se considerar alguém com grande sentido na vida.

Que honra ser CANAL para levar ao mundo a revelação de Deus. Isso é ser vencedor!

Onde quer que você entre (escola, trabalho, antessala do médico, avião) considere-se desfilando numa procissão de um exército vencedor, pronto para encher o lugar com o aroma agradável da Palavra de Deus.

Até aqui Paulo sugeriu que quando falamos das coisas de Deus, fazemos exalar uma boa fragrância perante as pessoas ao redor.

v.15:

Agora ele revela algo fantástico, mudando um pouco o sentido da figura: esse aroma somos nós mesmos e somos bom perfume PERANTE O PRÓPRIO DEUS!

Deus aspira do céu e gosta quando agimos em Cristo. (Lembra Lv 1.9,13,17; Nm 15.7).

Esse aroma é figura do PRAZER que Deus sente quando interagimos com dois tipos de pessoas: os salvos e os perdidos.

Ora, na Terra só há esses 2 tipos de gente, logo exalamos o bom perfume de Cristo quando interagimos com QUALQUER pessoa.

Não qualquer tipo de interação, como bater um papo, aceitar um emprego, fazer um favor.

Mas uma atuação em que Cristo é o centro: falar de Cristo, dar testemunho como um salvo, alguma coisa em que Cristo seja o alvo maior, a base, a razão de ser daquilo.

Veja como para Deus é INDIFERENTE se, através da nossa ação, conseguimos levar a pessoa à conversão ou não!

Só o fato de agirmos já é muito agradável a Deus.

Isso deixa totalmente sem sentido crentes tristes e se sentindo inúteis quando não conseguem levar alguém aos pés de Cristo.

O bom perfume que exalamos não é quando alguém para quem falamos se converte.

O bom perfume é exalado SÓ EM FALARMOS dEle!

Assim, quem deve se sentir inútil é o crente que não fala de Cristo.

Quando alguém está perfumado, várias pessoas ao redor sentem o aroma.

Já vimos que o nosso perfume é sentido de maneira agradável pelo próprio Deus, quando falamos de Cristo, seja para os que se salvam como para o que continuam perdidos.

- E como será que esse perfume é sentido por pessoas dos dois grupos?

v.16:

Para os PERDIDOS, somos cheiro de morte para morte.

cheiro de morte: no grego, o sentido é “cheiro que procede da morte”.

Um perdido é morto espiritualmente, e cheira como morto.

Tudo em torno dele e dentro dele cheira a morte.

Ele não consegue sentir outro aroma. Mesmo que um crente lhe fale da esperança em Cristo, da oportunidade de salvação, ele não alcança o tamanho da oportunidade que está sendo oferecida, não consegue sentir o aroma de vida eterna contido na mensagem do Evangelho.

Coitado, tudo o que sente é cheiro de morte.

Para as suas narinas, o próprio crente que lhe falou de Cristo tem esse cheiro de morte.

... para morte: no grego: na direção da morte, rumando à morte.

A ideia é clara e apavorante: aquele perdido está espiritualmente morto, respirando a  morte que vem de dentro dele.

Foi-lhe oferecida vida, uma vida de aroma tão agradável que o melhor perfume francês parece colônia barata. Mas ele tem repugnância por esse precioso aroma.

E continuará eternidade adentro com o cheiro da morte.

Para os que SE SALVAM, cheiro de vida para vida

cheiro de vida: Pela graça de Deus, aqui e ali ocorre de alguém ouvir o Evangelho e o Espírito Santo decidir salvá-lo.

O pecador sente-se irresistivelmente atraído por Cristo, entende a negridão do seu pecado, passa a achar-se mal cheiroso, se arrepende e torna-se regenerado em Cristo.

Ele agora enxerga a Cristo de maneira diferente, enxerga a si mesmo de modo diferente.

E não apenas “enxerga”, mas agora ele é uma pessoa diferente, uma nova criatura, perdoado por Deus.

E ganha novo “olfato” espiritual. E naquele que lhe falou de Cristo, aspira cheiro de vida.

... para a vida: agora ele se dirige para a vida eterna.

* Lc 2.34: Cristo seria motivo tanto para ruína de uns e levantamento de outros em Israel.

Neste ponto deve ter vindo à mente de Paulo que a igreja de Corinto estava sendo vítima de falsos apóstolos. Muitos que se dizem ministros de Deus não o são. E pergunta:

v.16b:

Quem, porém, é suficiente (ou digno ou idôneo) para estas coisas?

Ou seja: Quem está realmente em condições de dizer que, em Cristo, é conduzido em triunfo por Deus? Quem pode dizer de si mesmo que é o bom perfume de Cristo?

Não responde, mas é óbvio: poucos.

v.17

Mercadejar: no grego καπηλευω kapeleuo: vendedor ambulante, que faz qualquer coisa para ganhar mais: ilude, altera o produto, mente, etc

Metaf.: Tentar conseguir vantagem com o ensino da verdade divina, mesmo que precise adulterá-la.

Paulo não era como os muitos que usavam a Palavra de Deus para benefício próprio.

Será que isso é coisa do passado, ou ainda existem os que ficam ricos, milionários, explorando, distorcendo, falsificando o Evangelho?

Paulo era honesto: falava em Cristo, diante de Deus, ordenado pelo próprio Deus.

Que diferença dos comerciantes da Palavra de Deus!

Graças a Deus, por você, crente, vencedor em Cristo e bom perfume de Cristo.

Continue falando dEle e exalando esse perfume agradável a Deus e aos que se salvam.

Quanto a você, sem Cristo, implore para ter a sua alma transformada e em plenas condições de também sentir o perfume de Cristo, da vida e para a vida.

Que Deus nos abençoe. Amém