2Co 12.7-8 58 minutos 01/11/2015
Mauro Clark
Na pregação passada, parei na metade do v.7 e dediquei praticamente toda a pregação para enfatizar o motivo pelo qual Deus teve de tomar uma providência drástica e impor a Paulo um enorme sofrimento, como resultado direto da ida ao Paraíso.
O motivo, como vimos, era o perigo da arrogância - como ocorre com cada um de nós.
Agora vamos à providência de Deus na vida do Seu servo:
v.7
... foi-me posto...
Veja o papel PASSIVO de Paulo: foi colocado sobre ele, sem qualquer consulta prévia.
Ele não pôde fazer nada para evitar.
Somos seres ativos, inteligentes, racionais e com muita responsabilidade sobre o que fazemos ou deixamos de fazer, ou seja, como agimos ativamente.
E obviamente todos sabemos que, ao mesmo tempo, também temos um papel passivo, coisas que são impostas a nós, que não dependem de nós.
O problema é que, por vários motivos, inclusive a arrogância, temos muito mais facilidade de lidar com o aspecto ativo do que com o passivo. Quando o passivo é agradável, ótimo!
Mas quando é duro, difícil, sofrido - tendemos a reagir (isso quando não vem revolta).
Mas devemos ser bem receptivos à passividade, às coisas que a vida nos impõe.
Afinal, na realidade, não é a vida que nos impõe... mas Deus!
Ele se utiliza das coisas, pessoas, até do diabo, mas, a rigor, é Deus quem impõe.
... um espinho na carne
espinho (algo pontudo): óbvio que era algo muito desagradável e sofrido.
na carne: causava um sofrimento físico, corporal.
(Alguns acham que é “um espinho PARA a carne”, dando aspecto espiritual ao “espinho” e ao sentido de “carne”. Mas o mais provável é que seja mesmo algo físico.
Que espinho era este? Muitas sugestões:
* doença na vista (que ele tinha vista ruim, isso é certo)
* epilepsia
* malária (ou febres recorrentes)
O fato é que não sabemos.
Mas sabemos a origem imediata deste mal:
... mensageiro de Satanás
mensageiro: αγγελος aggelos: mensageiro, embaixador, alguém que é enviado, anjo
Na realidade, um demônio (anjo decaído).
... PARA ινα hina: que, a fim de que, para que.
me esbofetear (NVI: atormentar): lit.: bater com a mão; metaf.: maltratar, atormentar
Objetivo: atormentar Paulo. E, claro, com o sofrimento, Satanás queria que viesse o desanimo, a queda da produtividade do ministério, a decepção com Deus, impaciência com os irmãos, etc.
Ou seja, um propósito altamente maligno.
Aqui algo interessante: pela segunda vez a palavrinha grega ινα hina: a fim de que:
... A FIM DE QUE não me exalte
Ou seja, havia um segundo objetivo para o espinho de Paulo.
E esse objetivo partia de outra fonte, diferente da primeira (Satanás/seu mensageiro).
E agora, quem era essa 2ª. fonte?
Não diz. Mas pelo propósito altamente benigno fica óbvio que era Deus.
Aliás, aqui é repetição do v. 7a: para que não me ensoberbecesse.
Ou seja, era um propósito protetor.
Interessante: o mesmo sofrimento, mas com objetivos diferentes partindo de fontes diferentes: Deus e o diabo.
Isso não estaria meio confuso? Afinal, quem pôs o espinho na carne de Paulo?
- Satanás, é claro. Não foi um mensageiro dele próprio?
Resposta certa. Mas superficial e incompleta.
Há um nível mais profundo para responder esta pergunta.
Além do propósito benigno, que combina com Deus e não com o diabo, o v.8 deixa claro:
v.8
três vezes pedi AO SENHOR que o afastasse de mim
Vemos aqui o grau de sofrimento e incômodo de Paulo.
E não foi a Satanás que Paulo pediu. Mas ao Senhor.
Quem tinha o poder final para que o espinho fosse retirado de Paulo era o Senhor.
Esse poder seria exercido sobre Satanás que tinha poder sobre o seu mensageiro.
Em suma, a resposta é: a rigor, em primeiro lugar, quem teve a vontade e tomou as providências para que fosse posto um espinho na carne de Paulo foi o próprio Deus, que se utilizou do diabo para isso. Tudo isso lembra muito o caso de Jó.
Observações e lições:
1. Tudo em nossa vida ocorre por vontade e providência de Deus
Acostume-se a pensar em Deus de maneira submissa, grata, apaixonada, em tudo o que ocorrer com você - das alegrias de sair pulando às tristezas de desesperar. At 17.24-28
2. A solução de Paulo para o alívio do sofrimento: orar
Mas será que foi a única providência?
Não terá ido a um médico ou tomado remédio? Pode ser - mas é irrelevante.
Mesmo que tenha sido o caso, o que de fato resolveria ou não seria a vontade de Deus.
Ou seja, a providência mais importante era de fato a oração.
Tudo bem que o crente recorra a médicos e remédios - uns mais e outros menos.
Mas tem uma coisa que deveria ser comum a todos: a primeira providência é orar!
A nossa principal fonte de cura ou alívio é Deus.
Os próprios médicos e remédios são meros instrumentos nas mãos dEle.
3. A insistência de Paulo
Não bastaria uma vez? Por que incomodar Deus com a segunda vez? E a terceira?
Nada errado. Somos até incentivados a insistir com Deus em oração: Lc 18.1-7
Não se acanhe em insistir com Deus.
Pergunta: Essa insistência na oração deve ser a vida toda, em qualquer situação?
Não. Houve ocasiões em que o próprio Deus mandou parar: Moisés, Josué, Jeremias.
E no caso de Paulo, ao informar que não tiraria o espinho é como se Deus mandasse parar de orar.
E nós, como fazermos, já que Ele não avisa de modo audível?
Só vejo uma resposta: paz no coração para continuar ou parar.
Se o crente está afinado com Deus, essa paz virá do Espírito Santo.
Importante: o fato de não dar exatamente o que pedimos não significa que Deus não respondeu.
Ele respondeu a oração de Paulo. Não como Paulo queria, mas como Paulo precisava!
No caso de Paulo, Deus explicou porque agiu daquele jeito.
Mas normalmente Ele não explica. Cabe ao crente aceitar pela fé que a providência de Deus foi a melhor: dar exatamente o que pedimos ou dar outra coisa - o que for!
4. Embora Satanás estivesse lhe causando grande sofrimento, Paulo não fez nem menção de recorrer a ele.
Nunca pense em conversar, dialogar ou mesmo ordenar algo diretamente a Satanás.
Peça ao Pai, em nome de Cristo.
O próprio grande arcanjo Miguel disse ao diabo: o Senhor te repreenda... - Jd 9
5. Se Paulo foi atormentado o resto da vida por um atroz sofrimento para neutralizar o perigo de ficar arrogante pela ida ao Paraiso, não teria sido melhor não ter ido?
É normal que esse tipo de pergunta venha à mente do crente que sofre em consequência de uma grande bênção.
O que não é normal é deduzir que, de fato, o melhor teria sido não receber a bênção.
Isso nunca!
Que vamos sofrer, isso é certo!
Jesus disse que iríamos sofrer: Mt 16.24. (Quanto a Paulo, falou a Ananias: At 9.6)
É um privilégio de sofrer por Cristo: At 5.41
Então, é claro que é melhor sofrer depois de uma benção do que sofrer sem bênção!
E mais: só o fato de Deus ter decidido o que fazer com Paulo (tanto a benção como o sofrimento) e como fazer conosco, já dispensa qualquer tipo de questionamento.
Ou não confiamos nEle?
Voltando:
E Deus, como reagiu a Paulo? Continuou em silêncio o tempo todo?
Não. Ele respondeu e explicou a resposta.
Veremos na próxima pregação.
Que Deus nos abençoe. Amém