Qualquer recém convertido sabe que a grande responsabilidade da Igreja é pregar o Evangelho. Pregar para quem?
Para os perdidos, afim de ganhá-los para Cristo e para os salvos, visando edificação.
Na semana passada, foquei na questão de pregar para os perdidos, vendo lições de evangelismo pessoal do apóstolo Paulo.
Mas quero ir mais fundo e perguntar: a responsabilidade da Igreja, coletivamente, e do crente, pessoalmente, se limita a pregar, tipo “Pregue e está tudo bem?” Não.
Existe uma responsabilidade paralela a ser cumprida, enquanto pregamos. Qual?
Mt 5.14-16
v.14a: Vós sois a luz do mundo...
Afirmação clara, direta, contundente: somos a luz do mundo.
Impressionante é que Cristo disse que quem é a luz do mundo é Ele próprio: Jo 8.12!
Quer dizer que somos luz do mundo exatamente como Cristo é a luz do mundo?
Não. A fonte de luz é Ele. Nós não temos luz nenhum emanando de nós.
Nós refletimos a luz dEle.
O fato é que a luz tira a escuridão, destrói a falsa impressão das penumbras, revela o que é verdadeiro.
Continuando com a figura, Jesus fala duas coisas sobre a luz:
v.14b-15
1. É impossível esconder algo que está iluminado e está exposto.
2. Se alguém acendeu uma luz é porque quer iluminar algo. Portanto, não tem sentido acender uma lâmpada para esconder.
Então faz a aplicação, que na realidade é uma ordem:
v.16: Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens
Jamais uma lamparina tímida vai correr para debaixo da mesa depois de acesa.
Se o dono colocar em cima, lá ela ficará.
Mas uma pessoa se move.
Um crente tímido pode querer se esconder ao descobrir que está refletindo a luz de Cristo. Só que o próprio Cristo adverte: não se esconda!
É como se dissesse: “Você não é luz do mundo por acaso. Eu lhe fiz luz, jogando sobre você a minha luz. E fiz com um um propósito: lhe expor ao mundo”.
E por que tanto interesse de Jesus que o crente não se esconda e assim, se torne bem visível aos outros?
...para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus
O assunto aqui não é pregação, mas modo de vida, comportamento, testemunho!
Os crentes devem se comportar de tal modo que os outros vejam e falam bem do Deus maravilhoso que os transformou.
Somente pregar o Evangelho, portanto, não é tudo!
Dizer para alguém ir a Cristo para obter salvação não é tudo.
Ao mesmo tempo em que você diz isso, você precisa ter vida exemplar.
E a vida exemplar de cada um terminará caracterizando a igreja como sendo excelente!
Vejamos alguns pontos práticos que mostram essa excelência:
Fp 2.14-16
Paulo toca em dois pontos fundamentais:
1. Diz que somos luz do mundo. Ou seja, repete as palavras de Cristo.
Ao dizer isso, faz quatro recomendações quanto ao nosso comportamento:
a) Que não haja murmúrio, queixa entre os crentes. Esse murmúrio rapidamente sairá pelos portões da igreja e alcançará os ouvidos do mundo.
b) Que não haja brigas (pode e até deve haver discordância, mas sem briga)
c) Que sejamos irrepreensíveis. Esse é o ideal, o alvo.
Mas como somos pecadores, a perfeição na terra é impossível. Então, ser irrepreensível, na prática cristã, é quando errar/pecar, reconhecer e tratar devidamente (com Deus e as pessoas).
d) Que sejamos sinceros. Como Jesus odiava a hipocrisia!
2. Que esse mundo, do qual somos luz, é pervertido e corrupto (estragado).
Implicação óbvia: isso torna ainda mais difícil andar de modo exemplar.
A nossa própria carne já é ruim o suficiente para nos impedir um andar perfeito.
Mas como se isso não bastasse, o mundo nos puxa para baixo, nos atrapalha.
Essa mistura “nossa carne + malignidade do mundo” é altamente explosiva. Cuidado.
Antes de encerrar, veja a importância do testemunho para ganhar almas a Cristo:
1Pe 2.11-12
... mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios...
Decisões internas naturalmente se refletem num comportamento externo.
Ao se abster das paixões carnais, o crente automaticamente exibe um procedimento exemplar diante dos que são do mundo.
- Mas se somos estrangeiros e peregrinos, em vez de ficar dando satisfação aos que são daqui, não seria melhor deixar de prestar atenção neles?
Embora seja uma pergunta lógica, a resposta é NÃO.
O fato de não sermos daqui e estarmos de passagem, não significa que estamos dispensados de qualquer tipo de relacionamento com o mundo.
Ao contrário: estamos aqui exatamente para cumprimos o grande propósito de proclamar as virtudes de Deus, começando com os perdidos (conforme já falamos).
Pois bem, a FORÇA e o EFEITO dessa proclamação dependerão diretamente do tipo de procedimento que tivermos aqui.
Versículo 12b: ... para que, naquilo que falam mal contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras glorifiquem a Deus ...
Impressionante: Pedro repete literalmente o que Jesus falou!
Dois pontos aqui:
1) O mundo fala mal dos salvos.
Fala mal, dizendo o que? Que são malfeitores (lit. que praticam o mal).
Naquela época, os crentes eram acusados de imoralidade (festa do amor; intimidade de se chamarem irmão e irmã), subversão à ordem, canibalismo (comer corpo e beber sangue); deslealdade ao imperador; ódio da humanidade; insuflar escravos; ateísmo (não tinham ídolos).
Obviamente o contexto mudou nesses 2000 anos.
No Brasil, onde há liberdade e paz religiosa, não há acusação oficial contra crentes.
Mas de forma sutil e informal, ainda falam mal dos salvos em Cristo que tentam ser fiéis.
São acusados de falta de amor, de fanatismo, de incoerência, intransigência e tantas outras coisas.
2) O mundo precisa ver o CONTRASTE entre o que diz de nós e o que fazemos.
O que diz? Que somos malfeitores. O que devemos mostrar? Boas obras.
Veja que Pedro nem comenta sobre a necessidade de nos defendermos, mostrando a Palavra de Deus, argumentando, etc.
Podendo argumentar, é válido. Mas às vezes não é possível ou não adianta.
Jesus também argumentava, mas às vezes calava diante de acusações.
O importante é não esquecer que o FAZER é tão básico que o falar fica secundário.
O que adianta você dizer que não é malfeitor e FAZER coisas típicas de malfeitores?
A incoerência é fatal para o bom testemunho.
E POR QUE o mundo precisa ver contraste entre o que diz de nós e o que fazemos?
Qual a IMPORTÂNCIA desse nosso testemunho?
para que.., observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus
Até aqui, idêntico ao que Jesus falou.
Agora Pedro coloca um fator “tempo” desse glorificar a Deus pelos gentios:
... no dia da visitação
A que ocasião se refere? Duas interpretações:
1) Julgamento final, quando haverá confissão obrigatória (Ver Fp 2.9-11)
O homem sem Cristo é orgulhoso demais para reconhecer que estava errado e que os salvos são benfeitores e pregam a um Deus maravilhoso.
Farão isso apenas quando forem obrigados.
2) Visita de Deus à alma da pessoas, para efeito de conversão.
Assim pensa a maioria dos intérpretes, sendo a minha tendência.
A Vinda do Messias foi vista como visitação: Lc 1.68,78-79; 7.16; 19.44
Levada pelo Espírito Santo, a pessoa se rende, confessa-se pecadora e glorifica a Deus.
Então verá o quanto foi útil o testemunho dos crentes, de quem tanto falara mal.
Observe que nesse caso, o seu procedimento tem VALOR EVANGELÍSTICO!
Já pensou, levar alguém a Cristo pelo procedimento?
Seja como for, é importante sabermos que nosso procedimento, mesmo criticado, servirá para que os homens glorifiquem a Deus.
Só isso justifica que sejamos resistentes às críticas e às perseguições.
Deixem que falem mal de nós, quando fizermos o que Deus quer.
O Senhor está vendo. Ele falará bem de nós. Ele será por nós. E Ele sendo por nós, quem será contra nós?
E um dia Ele próprio reverterá tudo isso para a glória dEle.
Vamos levar pessoas a Cristo, tanto pela pregação, quanto pelo bom testemunho!
Que Deus nos abençoe. Amém