Rememorando a pregação passada:
v.26
Ao chegar a Jerusalém, três anos antes após a sua conversão, Paulo não conseguia ser reconhecido pelos irmãos em geral e os apóstolos e líderes da igreja.
A reação era de medo e desconfiança, uma situação delicada e constrangedora para ele.
v.27
É quando Barnabé entra em cena.
Falei um pouco sobre a importância desse homem nesse momento da vida de Paulo.
Mas vale a pena aprender mais de Barnabé, examinando algumas características dele.
Barnabé vendera um campo e dado à igreja que nascia em Jerusalém (Atos 4.36-37).
Agora leva Paulo aos apóstolos e conta a história dele.
Cinco pontos para apreciarmos em Barnabé:
1- Um coração aberto para acreditar no testemunho de Saulo.
Os crentes não acreditavam em Saulo. É torturante falar a verdade e ninguém crer.
Mas, como exceção, Barnabé, que lhe deu a oportunidade de contar o seu caso.
Era isso o que Paulo precisava: alguém que o ouvisse sem tabu, de coração aberto, crendo na sinceridade dele.
E Barnabé acreditou. Que alivio deve ter sido para Paulo!
Vinte anos depois, escreveu o amor tudo crê (1Co 13.7): teria ele pensado em Barnabé?
O mundo está cheio de mentira e engano. Todos desconfiam de tudo e de todos.
A palavra tem pouco valor.
Os crentes não devem ter essa atitude de desconfiança, especialmente entre irmãos.
O amor crê que o outro é sincero, mesmo que circunstâncias pareçam o contrário.
Não é bom ser ingênuo, mas é melhor errar pela ingenuidade do que sendo duro em crer.
Irmão, seja mais crédulo com as pessoas.
2 - Disposição de ajudar o irmão que lhe agrediu mas agora está em dificuldade
Quando alguém nos maltrata é difícil evitar o desejo de vê-lo em dificuldade.
Se não para descontar, mas para que aprenda a ter mais consideração com os outros.
É um mistura de sede de vingança (que é errado) com sede de justiça (que é certo).
Barnabé teve uma boa oportunidade de ver o grande perseguidor Paulo em maus lençóis.
Mesmo sem o extremo de perseguir Paulo, devia ser tentador deixá-lo penar um pouco.
Mas, não foi assim: ao se convencer da sinceridade de Paulo, Barnabé resolveu ajudá-lo.
Paulo também escreveu depois: levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo - Gl 6.2. Pois foi o que Barnabé fez aqui. E as portas se abriram para Paulo.
Com poucas palavras podemos ajudar uma pessoa que não tem acesso a alguém que nós conhecemos.
Seja uma ponte entre alguém que necessita e outro que pode resolver o problema.
Além de interceder, promoveu paz: Sl 34.14; 37.3; Hb 13.16
3- Visão para a obra: Barnabé entendeu que a igreja precisava de pregadores
Por que Barnabé resolveu investir em Paulo, ouvindo-o e levando-o aos apóstolos?
Deve ter entendido que ali estava um tesouro que jamais poderia ser desperdiçado.
Paulo era muito especial, pelo zelo no que cria, conhecimento, vasta cultura, liderança.
v.28-30
Depois de recebido pelos apóstolos, Paulo inicia um breve ministério em Jerusalém, pregando ousadamente em nome do Senhor.
Como os helenistas logo queriam matá-lo, irmãos o tiram da cidade.
Levaram-no até Cesareia e dali a Tarso, cidade natal dele, onde ficaria quatro anos.
At 11.19-26
Quatro anos depois, ocorreu algo interessante entre Paulo e Barnabé.
Chegando a Antioquia, Barnabé pregou, com excelente resultado.
Lucas lhe rasga elogio: homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé.
Com o trabalho ficando pesado e complexo, Barnabé sabia que precisaria de alguém mais capacitado do que ele. E Paulo era o homem certo.
Aqui entram o quarto e o quinto pontos sobre Barnabé:
4- Paixão pelo trabalho de Deus, que o dispunha a enfrentar e resolver problemas.
Em vez de desanimar com o tamanho da obra e voltar para Jerusalém, Barnabé resolve buscar Paulo, mostrando planejamento, estratégia e garra.
Não existe um trabalho para Cristo sem dificuldade.
Não somente o diabo atrapalha, como o próprio Deus nos testa com provações.
Você se dispõe a trabalhar para Cristo? Prepare-se para dificuldades. Simples assim.
5- Humildade em reconhecer a própria limitação e a maior capacidade de Saulo.
Barnabé devia saber que estava buscando um homem que se destacaria mais que ele. Saulo tenderia a crescer e Barnabé diminuir - o que, pouco a pouco, de fato aconteceu.
Nesse momento, Barnabé poderia ter se deixado tomar pela vaidade e pelo ciúme, e resolvido enfrentar tudo sozinho para ser o líder de uma poderosa igreja que surgia.
Mas foi humilde.
Grandes obstáculos para o crescimento espiritual do crente são o ciúme e a inveja.
Começa com um ciumezinho escondido no coração, depois vira despeito, inveja, depois raiva, vem uma discussão, depois briga e for fim inimizade. E a igreja sofrendo.
A Bíblia adverte: 1Co 3.3; Gl 5.20
A presença do verdadeiro amor destrói essas coisas: 1Co 13.4: não arde em ciúmes
Veja que pensamento bonito: “O homem que se mantém ocupado em ajudar quem está abaixo dele, não tem tempo para invejar quem está acima dele. Aliás, quem age assim, não tem mesmo ninguém acima dele". - Henrietta Mears (E7I-2676)
Quando Barnabé teve a lucidez de buscar Saulo em Tarso, ali estava nascendo uma grande amizade e uma poderosa dupla de obreiros cristãos.
Juntos eles:
* Voltaram a Antioquia e durante três anos fortificaram aquela igreja, que tornou-se a igreja gentia mais importante do Novo Testamento.
* Nesse ínterim, foram a Jerusalém levar ajuda para os crentes que enfrentariam fome.
* Realizaram a 1a. viagem missionária, que durou dois anos e meio.
* Voltaram a Antioquia onde trabalharam mais um ano e meio juntos.
* Viajaram a Jerusalém para o primeiro Concilio da Igreja (no retorno a Antioquia, Silas voltou com eles).
Mas no inicio da 2a. viagem missionária, ocorre um fato triste: os dois grandes e velhos amigos se desentendem.
At 15.36-41
Barnabé queria levar seu primo João Marcos e Paulo foi contra, pois João Marcos havia abandonado o grupo logo no início da 1a. viagem missionária.
No impasse, se separaram: Barnabé foi para Chipre com Marcos e Paulo levou Silas.
Pelo menos surgiram duas campanhas missionárias em vez de uma!
Neste ponto Barnabé desaparece do livro de Atos.
Vantagem bônus da briga: nos lembrar que eles eram homens como nós.
É importante notar que não foi uma briga por ciúme, mas por um princípio.
E talvez Barnabé estivesse com a razão.
Quinze anos depois, preso em Roma pela 2a. vez, no fim da vida, Paulo pede para Timóteo trazer exatamente Marcos, pois esse lhe era útil para o ministério (2Tm 4.11). Marcos foi “apenas” o autor do Evangelho de Marcos!
Seja como for, é importante lembrar a importância de Barnabé no início da carreira cristã de Saulo e o valor do trabalho do próprio Barnabé em Antioquia, em Jerusalém e em várias cidades gentias.
Embora valiosíssimo no início da Igreja, Barnabé é um personagem pouco lembrado. Quando se fala dele, é para dizer que foi companheiro de Paulo.
Mas não há mal nisso.
Para tornar um servo exposto, conhecido e famoso, Deus às vezes se utiliza de outros que quase não aparecem, mas ajudam, fazem companhia, consolam, incentivam.
Deus providenciou Arão para Moisés, Jônatas para Davi, Eliseu para Elias.
Até para Jesus na cruz, Deus mandou um ladrão, que se converteu, alegrando a Cristo.
Não precisamos ser um Paulo, grande em tudo o que fez.
É suficiente sermos como Barnabé, grande no caráter, na humildade, na disposição de ajudar outros, na visão aguda sobre o reino de Deus, na paixão pelas almas perdidas e tão necessitadas de Cristo.
Que Deus nos abençoe. Amém