PREGAÇÃO

Perdão gera amor

Lc 7.36-50      66 minutos      16/08/2020         

Mauro Clark


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1181 – Perdão gera amor

 

Lc 7.36-50

 

Nessa curiosa história, é crucial entender que a mulher já estava perdoada por Deus antes do encontro com Jesus. Já havia crido em Jesus como Messias e Salvador.

 

v.36-38a (até …cabelos)

Jesus é convidado para jantar na casa de Simão, fariseu. E aceita.

De repente entra uma mulher de péssima reputação na cidade – prostituta ou mulher fácil.

Na época, era comum não convidadas entrarem, circularem, comerem a sobra. Mas não uma prostituta, ainda mais na casa de um fariseu.

 

Mas aquela mulher teve coragem e entrou, não por acaso:

sabendo que ele estava à mesa: Ela queria encontrá-Lo.

Vem com perfume caro, coloca-se por trás de Jesus e, chorando, molha os pés dele com lágrimas e os enxuga com os próprios cabelos.

Embora pareça que chorava de tristeza pelos seus pecados, o contexto não sugere isto.

Chorava de alegria e emoção por ter sido perdoada.

Agora estava salva e muito tocada pelo privilégio de poder lavar os pés do seu Salvador.

Sua atitude revela humildade.

Aliás, Jesus, mostrando humildade, fez exatamente isso com os discípulos: Jo 13.1-5

 

Mas a vontade daquela mulher de externar gratidão a Jesus e de se humilhar perante Ele, ainda não chegara ao limite.

v.38b:  … e beijava-lhe os pés…

Única vez na Bíblia que alguém beija os pés de outro.

Gesto de profunda humildade, gratidão, de vontade de servir, de agradar, de adorar.

Qual de nós aqui, crentes, não se sentiria privilegiado em tão somente poder beijar os pés santos que levaram o nosso Salvador para toda parte, fazendo o bem?

 

…e os ungia com o unguento

Mas beijar os pés ainda não era tudo o que ela queria com respeito a Jesus.

Ela queria ir além e mostrar a sua disposição de se dar por ele, de se gastar para ele.

Provavelmente o perfume era usado na sua profissão, para ficar atraente aos homens.

Agora ela não precisava mais daquilo, era “nova criatura” (2Co 5.17)

Bem que poderia ter vendido e apurado um bom dinheiro.

Mas ao derramar tudo nos pés de Jesus, mostrou-se disposta a se sacrificar por Ele.

 

Muitos que se convertem passam a usar a sua inteligência, habilidade, dinheiro, tempo, para causa de Cristo.

É o seu caso?

Davi fez questão de pagar pelo campo onde sacrificaria.

 

v.39

A reação de oposição não custaria a chegar. Aliás, é impressionante como reagiam quando alguém se achegava a Cristo (às vezes os próprios discípulos reagiam):

* Mulher siro-fenícia – mandaram que Ele a despedisse

* Cego de Jericó – mandaram ele se calar

* Cego de Jo 9 – todo tipo de pergunta e insinuações maldosas dos fariseus

* Mulher hemorrágica – estranharam que Ele tivesse sentido o toque por trás

 

Desta vez é o anfitrião que se opõe, embora apenas pensando.

Aliás, ele deve ter se arrepiado quando viu aquela mulher entrando na sala dele!

O raciocínio dele foi até lógico: se Jesus fosse profeta, saberia quem é essa mulher. E se soubesse, jamais a deixaria fazer tudo aquilo. Se ele permitiu, é porque não sabia. E se não sabia, é porque não era profeta.

Parece que havia convidado Jesus por mera curiosidade ou para pegá-lo numa cilada.

Seja como for, ele acertou na 1a. parte do raciocínio, mas errou na segunda.

Acertou quando pensou que se Jesus fosse profeta, saberia quem era aquela mulher.

Na realidade, Ele era muito mais que profeta e bem sabia quem era aquela mulher.

Mas o fariseu errou quando concluiu que se Jesus soubesse quem ela era, não a deixaria fazer aquilo.

E Jesus a deixou lavar os pés com lágrimas, enxugá-los, perfumá-los e beijá-los.

 

Quer dizer que Jesus não se incomoda com os pecados das pessoas?

Incomoda, e muito – a ponto de vir morrer para pagar pelos pecados dos homens.

E de mandar para o inferno quem não se arrepender.

Mas Jesus está sempre pronto para perdoar os arrependidos e estender-lhes as mãos.

E o fato é que Jesus não via mais a mulher como uma pecadora imoral e impenitente. Mas como uma filha de Deus, perdoada dos pecados delas.

Esse foi o ponto que o fariseu não compreendeu.

 

Quem pretende vir a Jesus, arrependido, precisa saber duas coisas:

1) Haverá oposição: dos parentes, amigos, sociedade, até da própria carne! E do diabo.

2) Jesus vai lhe receber, por maiores que tenham sido os seus pecados.

 

v.40-43

Obviamente Jesus leu os pensamentos do fariseu.

Criou uma pequena história e fez uma pergunta fácil ao fariseu, preparando uma lição.

Observe na história que os dois devedores foram perdoados por iniciativa do credor.

Depois de perdoados, ambos certamente amarão o bondoso homem.

Só que um amará mais do que o outro, pois foi mais perdoado.

Esse é o ponto que Jesus queria ensinar.

Nesse momento, Ele poderia ter apenas aproveitado a moral da história e dito: “Essa mulher tem demonstrado muito amor por mim porque sabe do tanto que foi perdoada.”

Mas Jesus quis contrastar o amor da mulher com o dele próprio, Simão.

 

v.44-47

Jesus fez 3 contrastes entre o que o fariseu DEVERIA TER FEITO e o que a mulher fez:

* Não deu água para lavar os pés, comum segundo a etiqueta da época.
A mulher fez muito mais, lavando com água e enxugando com os cabelos.

* Não deu ósculo (beijo) – também segundo o costume.

A mulher não parava de lhe beijar os pés.

* Não ungiu a cabeça com óleo, também segundo o costume (óleo de oliva, barato).

A mulher O ungiu não com óleo, mas com perfume.

 

Então Jesus declara:

perdoados lhes são os seus muitos pecados (dela), porque ela muito amou

A tradução não é muito feliz, pois Jesus parece estar afirmando que ela estava sendo perdoada naquele momento pela sua demonstração de amor.

Mas isso não combinaria com a parábola, que falou de um amor depois do perdão.

E o original permite exatamente essa tradução, tanto que a NVI é:

NVI: ... os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito.

É como se na nossa versão fosse algo como: ... eis o porquê de ela muito ter amado.

Em suma: Jesus afirma que a grande demonstração de amor da mulher foi consequência do grande perdão do qual ela foi alvo.

Curiosidade teológica: no grego, “perdoar” está no tempo perfeito: ação que se encerrou no passado mas cuja consequência continua no presente.

Assim é o perdão dos pecados: ocorreu no passado, mas com efeito eterno.


Jesus continua:

... aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama

É fácil saber a quem Jesus se referia -  ao fariseu, é claro!

O pouco (ou nenhum) amor mostrado a Jesus é porque  não conhecia o perdão de Deus.

E quem não conhece o perdão de Deus não se sente devedor, não se quebranta, está muito à vontade diante de Deus.

 

Jesus inverteu os valores daquele fariseu - e da maioria das pessoas:

* Ele, Simão, o anfitrião, dono da casa, o religioso respeitado.

* Ela, coitada, uma pobre intrusa, pecadora do mundo, desprezível.

Agora, na frente de todos, (inclusive da própria mulher), Jesus compara os dois, rebaixa o fariseu e exalta a mulher.

(Bom exemplo do amor e consideração da Bíblia às mulheres em geral).

 

Três lições:

1) No reino dos céus, os padrões são contrários aos padrões do mundo

2) Vemos aqui exemplo prática do que falou Jesus: “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado." (Mt 23.12)

3) Não seja como Simão, se achando muita coisa comparado com outra pessoa.

Pode ser que aos olhos de Cristo, a realidade seja o contrário.

 

v.48-50

Jesus tem um curto diálogo com a mulher.

Afirma, ou melhor, confirma que os pecados dela foram perdoados.

Os que jantavam, admiraram-se pelo poder que Ele se arrogou de perdoar pecados.

Ele não comenta e a despede em paz, dizendo que a FÉ dela a havia salvado.

Implícito que não foi a boa ação.

 

Amigo, saiba que, como o credor da parábola, é Deus quem sempre toma a iniciativa de perdoar o pecador.

Agora, Ele nunca vai perdoar alguém que não está convencido de que é devedor.

Convença-se de que é pecador, peça perdão a Deus e você verá o valor do amor perdoador dEle.

E depois você o amará profundamente e sentirá mais amor pelas pessoas.

É isso o que se passa no coração de todo o que foi verdadeiramente salvo.

 

Que Deus nos abençoe! Amém

 

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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