2Co 5.11-13 53 minutos 04/01/2015
Mauro Clark
No trecho anterior Paulo falara da existência presente num corpo fugaz, em contraste com o corpo eterno que teremos no céu. Disse que preferia deixar o corpo e habitar com o Senhor e terminou afirmando duas coisas importantes: que se esforçava para ser agradável a Deus e que todos os crentes iriam se apresentar diante do Tribunal de Cristo, para avaliação das obras nesta vida.
v.11
E assim...: portanto: como uma conclusão de que estava dizendo.
conhecendo o temor do Senhor, ou seja, tendo o temor a Deus.
Como se dissesse ao coríntios que o acusavam: “Vocês não estão lidando com um homem dedicado a construir um nome para si mesmo, a ser famoso e importante, a ter muitos liderados. Mas com um servo do Senhor altamente comprometido com Ele e que inclusive gostaria de já estar lá na presença dEle. E mais: eu não sou apenas comprometido com o Senhor, mas eu TEMO o Senhor. Eu sei que prestarei contas a Cristo por tudo o que estou fazendo aqui.”
“Temor do Senhor”: irmãos, que condição para vocês desejarem ouvir, até mesmo EXIGIR de seus pastores, de seus líderes.
Quando se pensa nas habilitações de um pastor, vem à mente se prega bem, se tem cuidado com as ovelhas do rebanho, se é bom caráter, se tem boa família.
Tudo muito importante. Mas talvez haja uma condição meio esquecida e mais importante que todas as outras para o pastorado: o temor do Senhor.
Um pastor pode pregar muito bem e não ter o temor do Senhor.
Pode ser visitador, atencioso com as pessoas, e não ter o temor do Senhor.
Pode ser bom caráter, sério, e não ter o temor do Senhor.
Pode ter boa família e não ter o temor do Senhor!
Mas o que verdadeiramente tem o temor do Senhor cuidará de cada item deste e de todos os outros da sua vida, diante de Deus, buscando agradá-Lo, exercendo disciplina pessoal, lutando contra a carne e sabendo que será cobrado por um Deus santo, exigente e altamente CIUMENTO do rebanho dEle!
Mas como saber se um pastor tem o temor do Senhor?
Não é fácil. Acho que somente com o dia a dia, com as atitudes (grandes e pequenas).
Pelo menos uma coisa suplico: OREM para que seus pastores tenham e cresçam no temor do Senhor.
Mas uma igreja não deve se conformar que apenas os pastores e líderes tenham temor a Deus. Mas todos.
Afina, é condição fundamental para qualquer crente: Pv 1.7
Talvez o que mais leva o crente a pecar é pouco temor a Deus.
Voltando:
persuadimos os homens...
Deixando claro que na base do seu trabalho havia o temor a Deus, Paulo reconhece claramente que seu ministério era persuadir as pessoas.
persuadir: πειθω peitho: persuadir, i.e. induzir alguém, pelas palavras, a crer. Pode ter também o sentido de ganhar o favor de alguém, obter a boa vontade de alguém, ou tentar vencer alguém, esforçar-se por agradar alguém (Strong).
Persuadir o que a quem? Duas sugestões:
1. Persuadir os irmãos do caráter dele, da genuinidade do seu ministério
2. Persuadir a todos com o Evangelho.
... e somos cabalmente conhecidos por Deus
cabalmente conhecidos: φανεροω phaneroo: tornar manifesto ou visível ou conhecido o que estava escondido ou era desconhecido, manifestar, seja por palavras, ou ações, ou de qualquer outro modo
Para Paulo o importante é que Deus sabia quem ele era.
Era tranquilizador para ele saber que era totalmente conhecido por Deus.
Mesmo assim, isso não significava que desprezava o que pensavam dele:
... e espero que também a vossa consciência nos reconheça.
... nos reconheça: mesmo verbo traduzido por “cabalmente conhecido”.
Ou seja: “... e espero que também sejamos plenamente reconhecidos pela vossa consciência”.
Embora o alvo principal do pastor/líder é estar transparente diante de Deus, ao mesmo tempo procurará mostrar coerência, ganhar a confiança, ser devidamente reconhecido como autêntico ministro de Cristo.
Aliás, isso vale para qualquer crente.
v.12
Não nos recomendamos novamente a vós outros; pelo contrário, damo-vos ensejo de vos gloriardes por nossa causa, para que tenhais o que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração.
Explicarei de trás para diante.
O verbo gloriar-se aparece duas vezes
gloriar: καυχημα kauchema: motivo para gloriar-se, gabar-se.
O contexto aqui é gabar-se de alguém.
Há dois tipos de gente: o que gosta de elogiar, ou defender alguém com base no que a pessoa aparenta ser, numa análise superficial, mal feita.
Paulo estava sendo vítima de pessoas assim na igreja de Corinto.
Criticavam coisas superficiais dele, até a aparência física (2Co 10.10).
Esse tipo de gente, fútil, jamais iria se achegar a Paulo, a gostar e falar bem dele.
O outro tipo de pessoa se relaciona com base mais firme, o procedimento, o caráter, a atitude, coisas que vêm de dentro do coração.
Era esse tipo que Paulo queria atrair.
Alguem que observa o outro com mais profundidade, mais sabedoria.
E até dispensa que alguém fique falando de si mesmo, se auto recomendando.
Paulo queria que essa fase de se auto recomendar tivesse ficado para trás.
E que os coríntios vissem nele não apenas o que dizia de si mesmo, mas a vida.
E mais: não que eles apenas vissem isso em Paulo, mas SE GLORIASSEM nele, o defendessem diante dos outros que se preocupavam com a aparência.
Uma pergunta: você se preocupa mais em viver como cristão padrão ou em fazer propaganda de si mesmo, mostrando serviço, dons, qualidade, etc?
A sua resposta indicará que tipo de gente você atrai e se sente atraído.
Se sua preocupação é cultivar um coração reto diante de Deus, sabendo que esse coração lhe levará a agir como verdadeira cristão, é esse tipo de gente que você influenciará. E é esse tipo que lhe atrairá - fazendo um círculo virtuoso.
Se seu esforço é concentrado em se exibir, você atrairá gente superficial, que caiu no seu conto do vigário, que pensa que você é o melhor crente do mundo.
E mais: a tendência é você próprio se aproximar de pessoas assim - num círculo vicioso.
v.13
Porque, se enlouquecemos, é para Deus; e, se conservamos o juízo, é para vós outros.
... enlouquecer: εξιστημι existem lit.: tirar da posição, deslocar; metaf: estar maravilhado, atônito; estar fora de si, insano - que é o caso aqui.
Tudo indica que Paulo havia sido acusado de ser meio enlouquecido.
Em que aspecto?
Duas sugestões:
1. Zelo excessivo
* Por isso ele se expunha a tão grandes perigos.
* Por isso ele tocava em temas religiosos tão explosivos aos judeus, como a Lei, etc.
* Por isso ele parecia impermeável às mais duras críticas
* Ousado e vibrante nas pregações
Nesse contexto foi criticado por Festo: At 26.24
Jesus foi avaliado assim pelos próprios parentes: Mc 3.21 (fora de si: mesma palavra)
2. Práticas místicas: falar línguas, visões etc.
Seja como for, ele não deixaria de agir assim, mesmo que fosse mal compreendido.
E certamente foi mal compreendido pelos superficiais e que gostam das aparências.
Mas que pelo menos os outros soubessem que, quando ele parecesse estranho, era por profundo compromisso a Deus.
conservamos o juízo: σωφρονεω sophroneo: estar mentalmente saudável, sóbrio, em controle das próprias paixões.
Seria o asp ecto ordinário, normal, do ministério dele.
Quando ele agisse de modo obviamente ajuizado, quando fizesse o que todos aprovassem totalmente, que soubessem que tudo ele fazia por amor a eles.
Claro que no coração de Paulo, quer parecesse estranho ou ajuizado, era tudo por amor a Deus e ao próximo, ao mesmo tempo.
Em suma, se o que ele dizia e fazia era para Deus ou para o bem dos outros, por que as críticas?
Certamente é bom que queiramos agir com as pessoas (especialmente os irmãos) com bom senso e sobriedade.
Mas se às vezes nossa comunhão com Deus nos leva a agir de modo meio estranho, que seja assim mesmo.
Na próxima pregação veremos como Paulo leva esse raciocínio a alturas magníficas, com afirmações teológicas e práticas de imenso valor, incluindo proferindo um dos versículos mais famosos do NT.
Que Deus nos abençoe. Amém