PREGAÇÃO

Recompensa, sim!

Lc 6.27-36      64 minutos      08/03/2020         

Mauro Clark


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Temos a tendência de valorizar as coisas mais diretamente espirituais do que as humanas, ou seja, de valorizar mais o nosso relacionamento direto com Deus do que nosso relacionamento com os homens.

Está correto, mas nunca esqueça que o mandamento de amar o próximo está bem próximo do de amar a Deus: Mt 22.36-40.

 

Agora, para o crente, amar a Deus é muito fácil!

Mas amar o próximo, aí depende.

Se uma mãe perguntar ao filho de 3 anos: Você me ama? Ele dirá sim.

E por que? Ah, porque é boazinha para mim, ou me dá bombom.

 

É meio engraçado, só que levamos essa tendência para a fase adulta e continuamos a querer dedicar o nosso amor a quem é bonzinho conosco, que nos dá ajuda, apoio e até mesmo chocolate!

 

Mas, aos olhos de Cristo, agir assim não tem muito valor, como veremos.

 

v.27-31

Jesus fala exatamente da ordem de amar os homens.

E destaca uma característica de alguém que deve ser alvo do nosso amor: inimigo.

Depois, ele detalha 4 tipos de inimizade e como devemos proceder com cada um:

1. Os que nos odeiam. Como reagir? Fazendo o bem.

2. Os que nos maldizem. Como reagir? Bendizendo (falando bem).

3. Os que nos caluniam. Como reagir? Orando por eles.

4. Os que nos agridem. Como reagir? Não retaliar de imediato, ardendo de raiva no coração e espírito de vingança. Mas agir com calma, benigno, com justiça e retidão, de modo que se o outro quiser agredir de novo, que faça.

5. Os que nos exploram. Como reagir? Não explorá-los, mas continuar como nosso procedimento costumeiro, que os levou a nos explorarem. Se quiserem explorar de novo, que o façam. Isso não significa que você não pode buscar caminhos corretos para justiça ser feita. Mas sempre sem ódio no coração, sem vingança, querendo ser benigno e pensando no bem do outro, acima dos seus valores materialis envolvidos.

 

Em suma: devemos ser largos com quem nos hostiliza e tratá-los como gostaríamos de ser tratados, mesmo no caso de cometermos algum erro contra ele.

Jesus parece imaginar o comentário: “Mas, Senhor, amar pessoas hostís é muito difícil”.

Ele até concorda, implicitamente, mas usa um argumento curioso para nos incentivar:

 

Chegamos ao foco da pregação:

v.32-34

Qual o argumento de Jesus? Existe uma recompensa que vem de Deus!

Jesus faz três perguntas retóricas e afirma a mesma coisa depois de cada uma.

Com isso, deixa claro:

 

1. Amar o que nos ama, fazer o bem a quem nos faz o bem e emprestar a quem esperamos receber – tudo isso é fácil, pois é aceito pela natureza pecadora de cada um.

Fácil no sentido de não necessitar esforço para ir contra a natureza pecadora. É instinto.

Afinal, mesmo quem natureza pecadora, ama.

Grandes pecadores também fazem coisas boas: eles amam, fazem o bem, são filantrópicos.
Só que são coisas a nível humano, utilizando-se do amor que trazem do berço, como resquícios da imagem e semelhança do Criador, amor distorcido, misturado com pecado.
A prática desse tipo de amor não indica qualquer capacidade espiritual.

 

2. O que significa a pergunta “qual a vossa recompensa?”

Recompensa: χαρις charis geralmente graça, aqui seria “prova de que se utilizaram de graça”. NVI: O que é que estão fazendo demais?

 

Duas coisas:

a. Para Deus, não há nenhum exercício de graça quando alguém segue a própria carne se agrada, ou seja, sem valor espiritual.

b. Fazer algo benigno quando é contra a natureza pecadora, embora seja muito difícil, é extremamente agradávael a Deus.

 

3. Quando alguém age contra a carne é tão agradável a Deus que Ele faz questão de recompensar – aqui mesmo ou no futuro, ou os dois!

 

Quer dizer que é lícito crente agradar a Deus pensando em recompensas?

Sim, é lícito. Não que se vá fazer tudo por causa da recompensa, mas pensar e considerar e esperar é lícito.

É próprio do ser humano pensar em recomensa, isso vem do senso de justiça que temos.

Se ajudei uma pessoa, é razoável esperar que ela um dia me ajude.

Quem acha uma carteira cheia de dinheiro, é razoável esperar que receba um valor.

 

O conceito de recompensa pode parecer meio deslocado da essência do cristianismo:

1. Como a salvação é pela graça (favor imerecido), não há motivo para sermos recompensados por alguma coisa que façamos a Deus.

 

2. Esperar recompensa pode dar a ideia de barganha com Deus.

 

Por mais razoáveis e lógicos que pareçam, essas explicações são anuladas por um simples fato: o próprio Deus não apenas ensina, mas incentiva a desejarmos recompensa.

Sendo assim, não devemos nos envergonhar em pensar nas recompensas.

Aliás, é até útil pensar nelas em momentos de dificuldade, de sacrifício, de desesespero.

Talvez por isso Cristo tanto falou nas recompensas.

 

Ele nunca disse que é mal amar os que nos amam, fazer o bem a quem nos faz o bem, emprestar a quem nos paga.

Apenas não tem valor aos olhos de Deus, em termos de recompensa.

 

Veja como Cristo espera de Seus discípulos um comportamento muito acima dos outros, que tenha valor aos olhos de Deus, que evidencie o amor de Deus derramado nos corações. Que mostre que são filhos de Deus.
Detalhe: esse comportamento requer poder espiritual.
Humanamente falando é difícil, é impossível ir contra a natureza.

O descrente não consegue fazer, está acima dele.
É aí onde o crente precisa ser diferente do homem natural.

 

Após dizer o que NÃO tem valor para Deus, Jesus passa a dizer o que tem, e agora fala na forma de ordem, de imperativo:

 

v.35a

1. Amar os inimigos
Pense em um ou dois inimigos e avalie se o ama e o que tem feito para mostrar isto.

2. Fazer o bem (implicitamente aos que não nos fazem o bem)
Quais suas ações com relação a pessoas que não lhe fazem o bem?
Não precisa pensar em inimigos lá fora. Pode ser em irmãos aqui mesmo da igreja.

3. Emprestar sem esperar paga.
Se você empresta e não há retorno, com qual sentimento você fica?

Se já esperava isso, não se abala muito, acha quase natural.

Irmãos, isso é cristianismo puro, dito pelo próprio Cristo!

Verdadeiro cristianismo não é apenas falar de Cristo o dia todo, ter experiências espirituais fortes, ler livros e a Bíblia, ter encontros emocionantes na igreja ou em grupos. Certo que tudo isso faz parte.

Mas sem esse aspecto de amar quem nos maltrata, de ser mão aberta para quem nos pede, o cristianimso é incompleto, é manco!

 

v.35b

2 resultados de agirmos assim:

1. Será grande o nosso galardão
galardão: μισθος misthos: salário, recompensa.

Não apenas seremos recompensados, mas largamente recompensados.
Mas como será essa recompensa no futuro?

Bíblia não responde, mas pode ser em termos de glória, de gozo espiritual, até mesmo em termos de serviço, de cargo, de responsabilidade: Lc 16.11; Mt 24.45-47;25.21

2. Sereis filhos do Altíssimo

Ou seja, comprovarão que são filhos do Altíssimo.
Considerando que temos doutrina sadia, provamos quem somos através das nossas ações.
É fundamental a importância de “Doutrina + Ações”.
Doutrina sem ação: hipócrita, legalista

Ação sem doutrina: sem valor espiritual, ofensivo aos olhos de Deus.

 

pois Ele é benigno até com os ingratos e maus

O crente que age com amor pelos os que não merecem, prova que é filho de Deus exatamente porque estão imitando a esse Deus que também age assim.

Se Deus, Santo e puro, é benigno com os ingratos e maus, quanto mais nós deveríamos ser, que somos parecidos com eles!

 

v.36

Como que onclui o assunto:

Sede miseric com também é misericordioso o vosso Pai

 

Em nossas relações pessoas, muitas vezes somos duros, intransigentes.

Com pessoas necessitadas, somos mesquinhos, frios.

Nosso Pai celestial não é assim. Vamos imitá-Lo!

 

Termino com a Bem-Aventurança:

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

 

Que Deus nos abençoe. Amém

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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