Faremos um rápido passeio pelo primeiro capítulo de Gênesis (e um pouco do segundo), sem muitos detalhes, apenas comentando alguns pontos que considero importantes.
Assumo que o Universo foi criado ex-nihilo (do nada) em seis dias literais (Êx 20.11).
É bem melhor do que adotar teorias tipo “intervalo”, “dias era”, etc.
v.1
Os céus e a terra foram criados num determinado ponto no tempo.
Interessante é a naturalidade com que o escritor (Moisés) fala em Deus.
Simplesmente assume a existência de um Criador. Não se se preocupa em provar, argumentar e nem mesmo explicar quem é esse Deus. (Essa explicação viria pouco a pouco com a revelação das Escrituras).
v.2
A terra foi criada:
* com água não apenas na superfície, mas muito acima;
* sem porção seca;
* sem vida
* sem luz
O Espírito de Deus pairava por sobre as águas:
Primeira referência a uma outra Pessoa divina.
A ideia não é apenas de presença, mas de superintendência, supervisão.
E assim começa a Criação em seis dias do Universo.
Vai começar a vida na terra.
Daqui para a frente a Bíblia vai falar em dias.
Razões porque assumo que são dias de 24 horas, igual a hoje:
1) Palavra hebraica: yom:
* Usada 1200 vezes como dia literal. Apenas 65 vezes, como tempo indeterminado, tipo “tempo da adversidade”.
* Nenhuma vez indica longo período de tempo. Existem outras palavras para isso.
* Nesse relato, não é usada como tempo indefinido, mas:
a) Os dias foram numerados: primeiro, segundo, etc.
b) Foram estabelecidas as fronterias do dia: manhã e tarde
2) Muitas vezes o primeiro uso da palavra na Bíblia define o seu sentido. No v.5 o conceito de “dia” é explicado (embora a Bíblia também usa “dia” no sentido de abarcar manhã, tarde e noite).
3) Nos versículos 14-19 há o contraste entre dia e noite.
4) Em Êxodo 20.8-11 a semana de Deus é igual à semana do homem.
v.3
Haja luz: Talvez mais importante do que a própria criação da luz, seja a maneira como foi criada: apenas dizendo haja luz.
... e houve luz: Poder criador de Deus. Ele desejou, mandou e fez-se.
v.4
e viu Deus que ... era boa: não como fazendo experiência, mas comprovando.
v.4b-5
separação: alternância, ora dia, ora noite.
Primeiro: Numeração, ideia de ordem, sequência planejada.
v.6-8
Segundo dia: antes, a terra era envolvida por gigantesca camada de água.
Agora, essas águas foram separadas pelo céu.
v.9-13
Terceiro dia: Terra e mar; reino vegetal (primeira forma de vida, a mais baixa).
Segundo a sua espécie: perpetuação da espécie, por repetição, não através de aperfeiçoamento, como querem os evolucionistas.
Essa expressão será muito repetida, daqui em diante.
v.14-19
Quarto dia: sol, lua, estrelas. Não sabemos como era a luz anteriormente.
Talvez o próprio Deus a produzisse diretamente (Ap 22.5)
v.20-23
Quinto dia: animais marinhos e aves. Forma de vida mais elevada que os vegetais.
multiplicai-vos: primeira vez ordenada a procriação (também segundo a espécie).
v.24-25
Sexto dia: Animais da terra - domésticos, répteis, selváticos.
v.26
Façamos... nossa imagem: Sugestão de pluralidade de Pessoas.
Por trás dessa sugestão, saberíamos depois da existência de uma trindade.
Homem: obra-prima da Criação. Forma de vida muito mais complexa:
* Imagem e semelhança de Deus: noção de existência; personalidade, raciocínio; moral.
* Capacidade de dominar sobre toda a terra.
v.27-31
Criado o primeiro casal.
Alimentação:
Os homens deveriam comer apenas frutas e sementes (vegetariano). Depois do dilúvio, Deus permitiu comer carne: Gn 9.3
Os animais, quando criados, deveria comer erva verde.
Com o pecado, muitos ficaram carnívoros, até mesmo se alimentando de seres humanos.
... e eis que era muito bom: antes, era apenas “bom”. Agora, “muito bom”.
Talvez por causa da criação do homem ou pelo conjunto da obra, agora terminada.
2.1-2
Deus ... descansou: não que estivesse cansado, mas cessou a atividade criadora.
v.3
dia sétimo. O que viria a ser o Sábado dos judeus.
abençoou... santificou. Aqui estabelecido o princípio para os homens: período de sete dias, seguido por seis de atividades e um de descanso.
santificou. Separou à parte, consagrou para Ele.
Até hoje guarda-se um dia na semana por causa desse princípio.
... de toda a obra que, como Criador, fizera
Assim encerra o relato resumido da Criação, lembrando que Deus fizera todas as coisas:
* não como cumprindo ordens de alguém
* não como participante de uma equipe de outros criadores
* não por alguma necessidade, algo que O constrangesse a isso
* mas como Criador: único, absoluto, com o Seu próprio poder, segundo a Sua própria mente, porque quis, do modo que desejou, no tempo que marcou.
Observações finais:
Vemos hierarquia na Criação: planeta terra e astros sem vida; vegetais; animais (que comeriam os vegetais); e, acima de tudo, dominando, o homem.
E onde Deus entra na hierarquia? Explicitamente, só será comentado no capítulo 2.
Claro que há a ideia implícita de que, como criador, Ele estaria sempre acima de tudo e de todos.
Esse relato deveria ser mais lido pelos homens, para que se lembrem que são meras criaturas de um Deus Todo Poderoso.
E não o contrário, como gostam de dizer alguns ímpios: “o homem criou Deus à sua imagem e semelhança”.
Muita angústia existencial de milhões seria evitada se somente cressem em Gênesis 1.
Entenderiam melhor a sua origem, o sentido da existência, as obrigações e responsabilidades para com o Deus Criador.
Muitos dizem “ainda não me encontrei”. Mas se cressem no Criador e quisessem se relacionar com Ele, certamente terminaria encontrando a si mesmo (via Cristo).
Quanto a nós, crentes, só temos que dar graças por crermos que fomos criados por Deus, conforme o relato de Gênesis.
Mas isso ainda é pouco: tivemos o altíssimo privilégio de passar a fazer parte de uma segunda criação, a dos filhos de Deus, salvos pela fé em Cristo.
Que Deus nos abençoe. Amém