2Co 1.1-2 59 minutos 16/03/2014
Mauro Clark
Começamos aqui uma série de pregações sobre todo o livro de 2Coríntios.
Data: 57 dC, escrita da Macedônia, talvez Filipos.
Pano de fundo aproximado (a quantidade exata de cartas escritas e de visitas feitas aos coríntios não é unanimidade. Vejamos a posição de 4 cartas e 3 visitas).
Durante 2a. viagem missionária, Paulo esteve em Corinto em 51 dC. - At 18.1-17.
Corinto: Na Grécia, a 80 km de Atenas.
A velha cidade foi destruída em 1858 por um terremoto e hoje só tem ruínas.
Uma nova Corinto existe hoje, a 3 km da velha, com uns 50 mil habitantes.
Paulo ficou lá 1,5 anos e fundou uma igreja.
De lá foi para Éfeso, com Áquila e Priscila, que ficaram lá.
Paulo rumou para Jerusalém. Em Éfeso, o casal encontrou Apolo, instruíram-no e o enviaram para Corinto, onde ensinou por um tempo.
Enquanto Apolo ainda estava em Corinto, Paulo iniciou a 3a. viagem missionária (53 dC), e voltou a Éfeso, onde ficou 2,5 anos.
Tudo indica que nesse período escreveu a carta aos coríntios, agora perdida (1Co 5.9). Essa foi de fato a 1a. carta de Paulo aos coríntios.
Ainda em Éfeso, soube por pessoas da família de Cloe que estava havendo divisões na igreja de Corinto (1Co 1.11).
Depois recebeu uma delegação da igreja, formada por Estéfanas, Fortunato e Acaico, que trouxe notícias mais atuais sobre os problemas lá. (1Co 16.15-18).
Nesse contexto deve ter escrito pela 2a. vez aos coríntios - a nossa 1Coríntios.
Mas continuaram chegando más notícias de Corinto.
Então Paulo resolveu fazer uma 2a. viagem para lá, diretamente de Éfeso. Foi o “encontro em tristeza” de 2Co 2.1.
O motivo principal pode ter sido a ação do homem descrito em 2Co 2.5 e 7.12 e falha da igreja em apoiar Paulo.
De Corinto, Paulo voltou a Éfeso, de onde escreveu pela 3a. vez aos coríntios (também perdida hoje, como a primeira), levada por Tito.
Foi uma carta escrita com muita tristeza (2Co 2.3-4) e muito dura (2Co 7.8-9).
Após problemas em Éfeso, partiu para Trôade, ao Norte - porto vizinho à cidade de Tróia (que ainda existe, na Turquia).
Parece que marcara encontro com Tito ali, e o esperou ansiosamente, com notícias sobre a reação dos coríntios quanto à 3a. carta.
Só que Tito não chegava. Paulo estava tão ansioso pela chegada dele, que não explorou uma porta que se abriu ali para a pregação do Evangelho. 2Co 2.12-13
E foi tentar se encontrar com Tito pelo caminho que ele viria. Terminaram se encontrando - em Filipos ou Neápolis, na Macedônia - hoje Grécia. 2Co 7.5-7
As notícias foram boas, em parte: os irmãos receberam bem a Tito, e a carta de Paulo com uma tristeza que gerou arrependimento.
E de fato haviam começado a tomar medidas para resolver os problemas.
Mas também havia más notícias: a igreja havia sido contaminada por uns falsos mestres que estava tentando envenenar a igreja contra Paulo, denunciando-o como falso apóstolo, com várias calúnias contra ele.
Um grupo na igreja, embora minoria, estava enfeitiçado por esses homens.
Uma das acusações era que Paulo não tinha palavra, pois na carta anterior (1Co) havia alterado um plano de visita a Corinto, feito anteriormente.
Paulo então escreve pela 4a. vez, a nossa 2Coríntíos.
E logo depois fez a 3a. visita àquela igreja, no final de 56 dC e início de 57. (At 20.2-3).
Há vários propósitos nesta carta:
1) Explicar porque alterou planos de viagem feitos anteriormente.
2) Defender o próprio ministério (com grande constrangimento).
3) Preparar os irmãos para terminar a oferta para os pobres de Jerusalém.
4) Expor e denunciar os falsos mestres
5) Preparar os irmãos para a visita que faria brevemente.
Ao longo da carta, além de fortes e tocantes pontos autobiográficos, passagens sobre:
misericórdia de Deus; conforto nas tribulações; confiança em Deus; oração intercessória;
ministério do Espírito Santo em nós; bom perfume de Cristo; ousadia no falar; nossa transformação de glória em glória; poder de Deus em nossas vidas; corpo celestial que nos aguarda; tribunal de Cristo ... e muitos outros pontos.
Hoje veremos apenas a primeira frase da carta:
v.1
Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus..
Com naturalidade, Paulo inicia se autoqualificando apóstolo de Cristo.
Apesar de gastar boa parte do final da carta defendendo seu apostolado, o fato é que esta afirmação categórica, logo nas primeiras palavras, é contundente.
“Sou apóstolo de Cristo. Se quiserem acreditar, tudo bem. Se não, lamento. Mas que sou um verdadeiro apóstolo de Cristo, afirmo que sou”.
Não havia meio termo: alguém estava mentindo e enganando. Ou Paulo ou os que se chamavam apóstolos em Corinto.
Os irmãos da igreja que estavam em dúvida, tinham de escolher em quem acreditar.
... pela vontade Deus
Das 13 cartas de Paulo, em 5 (1 e 2Co, Ef, Cl, 2Tm) ele iniciou dizendo textualmente que era apóstolo pela vontade de Deus. Em uma (1Tm) disse “pelo comando de Deus”.
Era uma convicção absoluta de que havia sido chamado para o apostolado de Cristo.
Agindo assim:
- Impunha sua autoridade.
- Indicava que abrira mão do controle da própria vida, que agora estava entregue a Deus.
Se alguém discordasse que ele fosse apóstolo, que se entendesse com Deus.
Pergunta: Até que ponto um crente pode afirmar sobre si mesmo: Esta é a vontade de Deus para a minha vida?
Sempre alerto do perigo de afirmações sobre questões particulares de cada um. Coisas futuras, é impossível dizer.
E mesmo as presentes e passadas, deve-se ter cuidado, pois pode haver impressões e emoções errôneas da nossa parte. Além do mais, há a vontade permissiva de Deus.
Vejamos 4 situações em o crente pode dizer categoricamente: Estou fazendo isso ou estou nessa situação por vontade prazerosa de Deus.
* Salvação: 1Co 1.21.
aprouve: gr. ευδοκεω eudokeo: ευ eu: bom + δοκεω dokeo: pensar, supor: parecer bom, ser a satisfação de alguém, achar bom, escolher, fazer de boa vontade
Se você é crente, seja firme e fala sem hesitar: Fui salvo porque Deus quis!
Vão querer que você defina salvação, cada um tem a sua definição, etc.
Aí vão dizer que isso só Deus sabe (e o próprio conceito de Deus é muitíssimo variado).
Seja como for, afirme que sabe que é salvo.
É uma convicção dada pelo próprio Deus: Rm 8.16
E aguente as acusações de orgulhoso, fanático, etc.
Se alguém se chateia com isso, que se entenda com Deus. Foi Deus quem resolveu lhe salvar e lhe deu essa convicção.
* Santificação: 1Ts 4.3-8
É absolutamente certo: Deus quer que você se torne dia a dia mais parecido com Cristo. E o contrário: Quando você faz algo que lhe “des-santifica”, você pode afirmar que essa não era a vontade de Deus para você.
* A prática visível e contundente do bem, que resulte em bocas caladas - 1Pe 2.15
Pelo contexto, trata-se de uma vida correta como cidadão, sendo ordeiro, obediente às autoridades.
Alguém que não gosta de crente lhe conhece e sabe que você, mesmo crente, é modelo de cidadania. Fica difícil para ele lhe criticar.
Pois saiba que Deus se agrada com isso. É da vontade dEle calar a boca dessa pessoa pelo seu procedimento.
* Sofrimento por praticar o bem - 1Pe 3.17
Paulo deve ter sofrido muito com as falsas acusações. Mas certamente pensava: Estou sofrendo por estar desempenhando um apostolado que Deus me deu. Esta é a vontade de Deus em minha vida.
A certeza de que o sofrimento como consequência direta da prática do bem é uma vontade expressa de Deus, deve servir como BÁLSAMO no meio da angústia.
Voltando:
... à igreja DE DEUS que está em Corinto...
Apesar de todos os problemas graves, a igreja de Corinto era de Deus!
- Mas, e os falsos mestres e incrédulos, eram de Deus?
Claro que não. A afirmação é de maneira geral, olhando a igreja como comunidade.
Lição:
Cuidado quando falar de uma igreja problemática, de comportamento estranho, com divisões e brigas, etc.
Pode ser (e deve ser mesmo) uma igreja de Deus. Embora nem todos sejam salvos lá.
Não é errado apontar problemas específicos ou mesmo pessoas específicas de certa igreja, mas cuidado com generalizações tipo “essa igreja não é de Deus”.
E graças a Deus por podermos dizer que a nossa igreja é uma igreja de Deus. Mas dizer sem arrogância e com muita humildade e gratidão.
Que Deus nos abençoe. Amém