Is 52.13-15 58 minutos 30/09/2012
Mauro Clark
13 Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime. 14 Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens), 15 assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão.
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Isaias (aprox. 750 aC) usou em muitas passagens a expressão “Servo do Senhor”, que se podem se referir a indivíduos ou coletivamente a Israel. Mas entre todas essas passagens, existem 4 que se referem ao “Servo do Senhor” de tal modo que não se pode aplicar a pessoas comuns ou mesmo a Israel. São as passagens conhecidas como “cânticos do Servo”, que falam de um personagem muito especial, com características reais e ao mesmo tempo de alguém que através do sofrimento iria pagar pelos pecados de todos os que nEle cressem, não apenas de Israel mas também dos gentios.
Dentre as 4 passagens, esta é a mais detalhada (as outras estão nos cap. 42, 49 e 50). O próprio NT deixa claro quem é esse personsagem: o Messias, Cristo.
Se procurássemos 3 passagens da Bíblia que melhor explicam o PROPÓSITO da 1a. vinda de Cristo, esse trecho final do cap. 52 e todo o cap. 53 estariam incluídos. Impressiona não apenas os detalhes que ocorreram com Cristo, mas a profundidade das explicações sobre o ministério dEle.
v.13
Alguns autores fazem um resumo da história e depois voltam e contam com detalhes. Isaias fez assim nesses 3 versos: resumiu o que escreveria com detalhes no cap. 53.
procederá c/prudência (ou “com sabedoria”)
* Ao defender a Sua própria Pessoa e Sua missão.
Isso envolvia respostas inteligentes aos fariseus; procedimento adequado para cada ocasião: dócil e duro.
* Ao exercer poder
- Quando os samaritanos Lhe recusaram acolhida, João e Tiago perguntaram se Ele queria que mandassem descer fogo do céu para consumir o povo. Jesus os repreendeu (Lc 9.51-56).
- Quando Pedro cortou a orelha de Malco, Jesus lembrou que poderia chamar mais de doze legiões de anjos.
Ele sempre utilizou o Seu poder de modo equilibrado e objetivo.
* Ao revelar coisas certas nas horas certas
- Ao povo: a sua mensagem era grande e complexa demais. Devia ser dificíl saber o que dizer, como dizer, e quando dizer.
- Aos discípulos: em Jo 16.12 Ele disse que ainda tinha o que dizer, mas os discípulos não podiam suportar.
Em suma: Jesus foi um homem muito prudente, sensato, equilibrado, agindo sempre com muita sabedoria.
Interessante: Ele mesmo nos recomendou prudência: Mt 10.16: ... como as serpentes. Agir com prudência e sabedoria é um verdadeiro segredo de vida. Quantas vezes perdemos boas oportunidades de falar de Cristo, dar bom testemunho, por mera imprudência ou falta de sabedoria.
Duas observações:
1. Em Seu esvaziamento, Cristo tornou-se totalmente dependente do Espírito Santo.
Se queremos agir com sabedoria, só há uma maneira: deixar-se dominar pelo mesmo Espírito Santo.
2. Veja a COERÊNCIA em nos mandar fazer algo que Ele mesmo deu exemplo.
Aliás, essa coerência é uma das grandes maravilhas da Pessoa de Cristo.
Isso nos ajuda muito no dever de Lhe sermos obedientes.
Agora, certamente Ele vai nos cobrar, como um pai cobra do filho: você não seguiu meu caminho porque não quis, mas exemplo não lhe faltou. Fique atento a isso.
Mas a expressão “procederá com prudência” pode também significar: agirá de tal modo que será bem sucedido
Essa idéia é quase consequência da primeira e se encaixa bem com o Messias. Afinal, há alguém mais bem sucedido no mundo do que Jesus Cristo? Que ser humano desempenhou sua missão no mundo de forma tão eficiente?
Imagine como se sente seguro um soldado liderado por um general experiente e com grandes vitórias no currículo. Pois é exatamente assim que devemos nos sentir com relação ao nosso General. Ele é bem sucedido, vitorioso. Ele mesmo disse: eu venci o mundo - Jo 16.33.
... exaltado, elevado, mui sublime (NIV: muitíssimo exaltado)
Antes de falar do sofrimento e da humilhação do Servo, o profeta adianta o final e usa três termos semelhantes para enfatizar o quanto seria exaltado aquele Servo.
Alguns estudiosos associam esses três expressões com a ressurreição dEle, a ascenção ao céu e à sublime entronização à direita do Pai: Cl 3:1; Hb. 1:3; Fp 2.9
Fica evidente que o sofrimento e a humilhação dEle seriam provisórios.
Essa passagem deveria ser lida por quem gosta de colocar crucifixo com Jesus morto. Ele não está mais morto, mas extremamente exaltado.
v.14
… pasmaram muitos à vista dele, pois o seu aspecto estava mui desfigurado
Refere-se ao aspecto físico dEle durante julgamento: inchado pelas bofetadas, cabelos duros e avermelhados pelo sangue coagulado; o rosto também sujo de sangue que escorreu da cabeça.
As feições dEle devem ter impressionado muito: mistura de amor, de pena, de tristeza, de decepção, de pavor pela separação do Pai que iria suportar logo mais na cruz.
E sabe o que mais? Constrangimento como qualquer pessoa sente quando se expõe a situação vexatória. Pois Ele sentiu, suportou, tudo por nós! A reação dos presentes foi de pasmo.
Até que ponto você seria capaz de se expor por esse Personagem que suportou tudo isso em seu benefício? Por causa de Cristo, você estaria pronto para receber bofetadas no rosto na Praça do Ferreira? Por amor a Cristo você se disporia a ficar sem roupas num sábado à tarde no calçadão da Beira-Mar? Para defender o nome de Cristo, você está pronto para ser ferido, derramar seu sangue, sentir dor, morrer?
Agora o profeta salta para o futuro.
v.15
Obs: algumas versões, em vez de “causará admiração”, traduzem “aspergirá”, tomando uma palavra parecida no hebraico.
Como no AT a aspersão que o sacerdote fazia era assciada com perdão de pecados, nesse caso, seria a idéia de salvação pelo sangue dEle, aspergido sobre o que crê.
Mas parece que é melhor a opção de “causará admiração” (hebraico lit. “saltar, pular”). Inclusive tem o apoio da Septuaginta.
O mesmo homem que causou tanto pasmo por causa do sofrimento, vai causar muita admiração pelo motivo oposto: pela glória e pelo poder que vai assumir.
Detalhe: a sua humilhação foi vista por algumas dezenas ou centenas de pessoas. Mas a sua exaltação causará espanto a nações e a reis.
A INTENSIDADE dessa exaltação será muito maior do que a intensidade da humilhação.
Rm 15.20-21 nos ajuda a entender esse verso. Paulo cita exatamente essa passagem ao explicar a sua estratégia de pregar apenas onde Cristo não tinha sido ainda anunciado.
Tudo indica então que a admiração de que trata o v. 15, além de referir-se ao tempo em que Cristo voltar em glória, inclúi a reação à Pessoa de Cristo que o Evangelho iria causar onde que quer que fosse levado. De fato, onde o Evangelho chegava provocava admiração, reações fortes.
Alguns se entregavam totalmente, outros rejeitavam. Autoridades se convertiam, outras perseguiam. Todas falavam, comentavam. Famílias se dividiam. Governadores escreviam a reis, pedindo orientação sobre o que fazer com os cristãos.
E ainda hoje o verdadeiro Evangelho onde chega causa reações fortes.
Mas o v. 15 ainda aguarda um cumprimento pleno, mais à frente: a 2a. vinda. Naquela ocasião Ele virá com todo poder e glória para reinar.
Todos O verão. Em Israel, os judeus O reconhecerão como o Messeias e se lamentarão pelo que fizeram com Ele. Haverá conversão em massa dos judeus. E também julgará os gentios. Reis estarão perante Ele. Alguns vão se converter e mudos se ajoelharão à sua frente. Os que continuarem rebeldes, serão mortos. O mundo verá o que é poder.
Então Ele iniciará o Seu reinado de mil anos. Nesse período, as nações virão a Israel para adorá-Lo. O mundo nunca terá visto tanta glória como a glória que o Messias e Salvador exibirá.
Que essa imagem de Cristo, vencedor e glorioso, não saia das nossas mentes. Isso nos dará ânimo para as dificuldades e e mais vontade de falar dEle aos outros.
Quanto a você, amigo, reaja ao Evangelho dobrando-se diante desse Personagem maravilhoso e implorando que Ele salve a sua alma.
Nos próximos dois domingos exporemos o cap. 53 de Isaias, que, conforme falei, expande mais o que foi dito nesses três versos do cap. 52.
Que Deus nos abençoe. Amém