Existem assuntos tão vastos e importantes, que fazem o pregador adiar quando pensa em abordá-os numa pregação, com receio de tratar de modo superficial.
Vou abordar agora um desses, sem exaurir, tentando dar uma visão panorâmica.
O assunto é TEMOR DE DEUS.
Definição literal, linguística:
- Hebraico: ter medo, reverenciar, respeitar, honrar, ter admiração.
- Grego: fobia: mesmo sentido: ter medo, respeitar, ter reverência.
Na Bíblia não há definição conceitual, explicando exatamente do que consiste.
O que há são passagens que falam de certas características do temor a Deus ou mesmo de fatores que lhe são inerentes.
Cada passagem dessa é como se fosse uma face de um brilhante.
A pregação consistirá em examinar rapidamente algumas dessas passagens, tentando tirar uma visão panorâmica desse brilhante. Depois, darei minha própria definição.
Antes de tudo, duas observações:
1) Temer a Deus é dever de todo homem:
Dt 13.4 – “Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis”;
Ec 12.13 – “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem”;
1 Pe 2.17 – “Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei”.
Is 11.1-2 – “Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR”.
Veja que interessante: o próprio Messias, como ser humano que era, teve temor de Deus:
2) Temor a Deus é para ser algo tão importante e vital na vida dos homens, que é referido quase como sinônimo de religião verdadeira, do andar correto com Deus:
Sl 34.11 – “Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR”;
Jr 2:19 – “A tua malícia te castigará, e as tuas infidelidades te repreenderão; sabe, pois, e vê que mau e quão amargo é deixares o SENHOR, teu Deus, e não teres temor de mim, diz o Senhor, o SENHOR dos Exércitos”.
Porque Deus deve ser temido?
Entre muitos outros motivos, darei quatro:
1) Ele é santo:
Ap 15.4 – “Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos”.
2) Ele tem o poder de perdoar a nós, pecadores:
Sl 130.4 – “Contigo, porém, está o perdão, para que te temam”.
3) Ele é Deus dos deuses, grande, poderoso:
Dt 10.17 – “Pois o SENHOR, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno”.
Uma tempestade, uma grande onda, um barulho, um clarão, desperta temor em nós. Quanto mais o Deus que criou tudo isso.
É impressionante como muita gente se treme com o relâmpago, mas não teme a Deus.
4) Ele vai fazer valer o seu Juízo:
Ap 14.7 – “Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”.
Muitos não levam isso muito a sério, pensando que é muito remoto. Mas um dia chega.
Quatro características do temor a Deus:
1) Consiste em aborrecer o mal
Pv 8.13 – “O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço”.
A expressão “consiste” não está no hebraico.
Literalmente ficaria assim: “O temor do SENHOR é aborrecer o mal”.
Conceito interessante: a maior demonstração ou prova de que alguém teme a Deus é odiar o que é mal, ou seja, odiar o que Ele odeia.
A melhor maneira de perceber a força dessa idéia é vendo o contrário: quem não aborrece o mal, ou seja, pratica gostosamente o mal, prova que não teme a Deus.
É como se desconsiderasse a existência dEle e das suas ações contra o pecado.
Cada vez que você ver o pecado chegando, não fazer nada para evitar e se enlamear nele, pode concluir: eu não agi com temor a Deus.
2) Sinônimo de sabedoria, ou mesmo do princípio dela:
Jó 28.28 – “E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento”.
Sl 111.10 – “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre”.
Quando você vir um cientista prêmio Nobel, a maior autoridade no mundo sobre física quântica, mas evolucionista, que despreza a Palavra de Deus, que tem zero temor a Deus, nunca confunda esse homem com um sábio. Pode ser um gênio, mas não um sábio - coisas bem diferentes.
Quem quer se candidatar a sábio, o jardim de infância é temer a Deus.
Já que sabedoria deve ser um dos maiores alvos do crente, ele deve estar sempre muito atento ao seu temor a Deus.
3) Tesouro.
Pv 15.16 – “Melhor é o pouco, havendo o temor do SENHOR, do que grande tesouro onde há inquietação”.
Quem teme ao Senhor tem um tesouro. Mas que tipo de tesouro?
A resposta está no contraste “temor ao Senhor x inquietação”.
Quem teme a Deus no sentido pleno (ou seja, é salvo) não tem motivo para se inquietar. Está protegido pelo Deus Todo-Poderoso, que é fonte de vida:
Pv 14.26-27 – “No temor do SENHOR, tem o homem forte amparo, e isso é refúgio para os seus filhos. O temor do SENHOR é fonte de vida para evitar os laços da morte”
Essa passagem associa temor a Deus com segurança, proteção.
Ora, tranqüilidade interna, paz interior, é a maior riqueza com que alguém pode sonhar. Pois quem teme ao Senhor é riquíssimo nessas coisas:
Is 33.6 - “Haverá, ó Sião, estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do SENHOR será o teu tesouro”.
4) Quem teme a Deus não precisa temer os homens
Is 8.12-13 – “Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por temível. Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto”.
Boa parte do sofrimento de qualquer ser humano, é por temer outras pessoas: medo físico (agressão dos pais, maridos, assaltos); medo de situações danosas (perder emprego, humilhação, perseguições etc.). e outros.
Pois quem realmente teme a Deus pode se dar ao luxo de perder o medo de homens.
Deus ofereceu esse privilégio aos profetas Jeremias (Jr 1.7-8) e a Ezequiel: (Ez 2.6).
Mesmo que não consigamos perder totalmente o medo, mas pelo menos boa parte desaparece.
A conversão a Cristo traz enorme alívio nesta questão de medo.
É muito vantajoso trocar o medo de homens por temor a Deus.
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Agora a minha própria definição:
“Temor a Deus é o reconhecimento reverente e respeitoso de que Ele é o Deus único, Todo-Poderoso e Santo, que exige obediência e executa a Sua justiça com amor e rigor”.
Observe que na definição não há a palavra medo.
Medo é uma conseqüência possível do temor, mas de modo algum obrigatória.
Imagine alguém que reconhece que há um Deus no céu, sua consciência o acusa de pecador, mas não ama esse Deus e nem o obedece. É natural que surja aí um temor quase sinônimo de medo. E não é fora de propósito esse medo, pois a pessoa que age assim será condenada. E “horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo” - Hb 10.31.
No Novo Testamento temos dois exemplos de pessoas que temiam a Deus e O buscavam com seriedade, mas não eram salvas. É possível que pessoas assim tivessem muito medo no dia a dia.
Detalhe gostoso: Deus providenciou a salvação de ambas:
1) Lídia - At 16.14-15.
2) Cornélio - At 10.1-2; 11.14.
Quanto ao salvo em Cristo, embora tema a Deus no sentido de reverência, não precisa ter medo dele.
Dois exemplos do Velho Testamento: Abraão (Gn 15.1) e Gideão (Jz 6.22-23).
No Novo Testamento: Os discípulos de Jesus (Mt 14.25-27; 17.7; 28.10) e o apóstolo João (Ap 1.17).
Aliás, muito mais do que apenas não ter medo, o crente deve ter é alegria no temor:
Sl 2.11 – “Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor”;
Vimos que o Messias teve temor de Deus. Mas, além disso, Ele se deleitou nesse temor:
Is 11.3 - “Deleitar-se-á no temor do SENHOR; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos”
Palavra final aos salvos em Cristo:
Sempre sonhamos em aumentar a nossa intimidade com Deus.
Pois aqui vai uma valiosa dica: “A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” - Sl 25.14.
Formas de temer a Deus:
- Louvando-O: Sl 22.23 – “Vós que temeis o SENHOR, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel”.
- Servindo-O: Hb 12.28 – “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor”
Palavra aos não convertidos:
Quer temer a Deus? Peça, pois esse temor vem dEle:
Jr 32.39 – “Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos”.
- Mas, e quanto a alguma providência da minha parte, posso fazer alguma coisa?
Sim! Veja o conselho do próprio Deus:
Pv 2.1-5 – “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o coração ao entendimento, e, se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus”.
Talvez você seja como Lídia ou Cornélio, já teme a Deus, tem respeito, reverência, mas ainda não abriu o coração, não se subordinou, não se arrependeu dos seus pecados, pedindo perdão. Se é assim, você ainda precisa ser salvo.
Pois faça como Lídia e Cornélio: se exponha à Palavra de Deus e peça fé.
Palavra a todos:
Deus se agrada de quem O teme:
Sl 147.11 – “Agrada-se o SENHOR dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia”.
Que Deus lhe ajude a aumentar dia a dia o temor por Ele.
- Amém -