2Co 10.1-12 56 minutos 19/07/2015
Mauro Clark
Ao se defender, revela coisas pessoais e ministeriais que devemos ver muito mais que apenas biográficos, mas um verdadeiro Manual de Comportamento do crente!
v.1
Paulo começa com um pedido aos coríntios. E um pedido tão especial, que ele apela para algo extremamente valioso: dois atributos de Cristo:
pela mansidão e benignidade de Cristo
Por que esses dois? Talvez porque envolvia a questão da mansidão de Paulo entre os coríntios e para contrastar a benignidade de Paulo e a falta dela nos seus acusadores.
Recurso do crente: em pedidos muito especiais, apelar para o nome de Cristo.
Ainda antes do pedido em si, Paulo revela algo interessante sobre si mesmo:
quando presente entre vós, sou humilde; mas, quando ausente, ousado...
Ele diz isso porque (como veremos no v.10) seus caluniadores diziam que a presença pessoal dele era fraca e a palavra, desprezível. Acusações fortes.
Paulo se defende como se dissesse: “O que alguns chamam de fraqueza é humildade”.
Há pessoas que se “especializam” em ver certas qualidades nos outros como defeitos.
Em vez de humildade, vê fraqueza. Em vez de mansidão, covardia. Em vez de paciência, desinteresse. Em vez de capacidade de perdoar, vê fraqueza moral.
Isso é típico do diabo, que mente, inventa, distorce, deturpa.
Uma maneira de se prevenir, é treinar o olho e o coração a ver coisas boas nas pessoas.
Quanto à ousadia de Paulo quando ausente, certamente era porque os problemas apareciam mais na ausência dele.
Mas se precisasse ser ousado na próxima ida lá, ele seria - embora a contragosto.
E é exatamente o pedido que faz:
v.2: ... em disposições de mundano proceder: lit.: na carne
carne: σαρξ sarx - carnal
Alguns criticavam Paulo de agir de maneira carnal, conforme os padrões do mundo.
Se essas acusações continuassem quando Paulo chegasse lá, mesmo achando ruim, ele seria obrigado a ser firme (ousado) com elas.
Ele pede que não o obrigassem a ter de agir assim.
Que exemplo de liderança!
A intenção era ser humilde perante os irmãos da igreja. Essa era o ideal, o agradável.
Mas se fosse difamado, acusado injustamente, não hesitaria em agir com dureza.
Em outras palavras, se ele fosse duro, jamais seria pelo abuso da autoridade que tinha sobre eles, mas por obrigação - mesmo uma obrigação desagradável para ele.
Mas se fosse necessário, ele não deixaria de ser duro pelo fato de ser desagradável, ou por medo, ou covardia, ou comodidade, por motivo nenhum.
Há dois tipos de erros comuns em líderes:
1. Ser duro sem necessidade, apenas como maneira de exibir ou impor autoridade, ou pensando que ser humilde, simpático, largo, é sinal de fraqueza.
2. Ir para o outro extremo e não ser duro mesmo quando necessário ou por timidez ou para não perder a simpatia e o apoio do povo.
Não aceitem isso dos seus líderes!
Voltando:
v.3: Paulo se defende quanto à acusação de se que comportava conforme a carne.
E usa uma forma de mostrar o quanto era sutil e malicioso o que estavam dizendo dele.
... embora andando na carne...
Primeiro ele admite que, de fato, andava na carne, repetindo a mesmíssima expressão utilizada pelos acusadores - como se concordasse com eles.
Como explicar essa aparente contradição?
Porque a palavra “carne” no grego (e no português) pode ter o sentido moralmente neutro (como algo na natureza humana) ou negativo (pecaminoso).
No primeiro sentido, é claro que Paulo “andava na carne”, como qualquer ser humano.
Só que os acusadores queriam dar o segundo sentido: que seu comportamento era condenável, por ser mau, capcioso.
E quanto a isso Paulo obviamente discorda, completando:
... não militamos segundo a carne.
... militamos: termo militar: lutar como soldado, ir para a batalha
Paulo muda totalmente de tom e passa a falar como um combatente em plena guerra.
E tira o foco dele próprio e joga nas armas que se utiliza.
Quando vemos um soldado todo armado numa batalha, não importa o nome dele, o jeito, mas as armas que usa e como usa. É como se estivesse “despersonificado”.
Paulo faz isso aqui: coloca toda a ênfase nas armas supridas pelo exército a quem serve..
v.4-5
Duas coisas sobre as armas que usava:
1. Origem, natureza:
Não são carnais... - pertencem a uma outra esfera, a outra natureza.
... e sim poderosas em Deus: são extremamente poderosas, um poder não carnal, não humano, mas diretamente emanado de Deus - um poder divino.
2. Do que são capazes essas armas de poder divino.
1º.: Nos inimigos: destruir fortalezas:
fortaleza: οχυρωμα ochuroma: “lit.: castelo, fortaleza, lugar seguro; met. qualquer coisa em que alguém confia, inclusive dos argumentos e raciocínios pelo qual um disputador esforça-se para fortificar sua opinião e defender-la contra seu oponente” - Strong
Ou seja: destruir argumentações e raciocínios do inimigo, usados na guerra espiritual contra os interesses de Deus.
Como se processa essa destruição?
anulando sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus
anular: καθαιρεω kathaireo: tirar (sem ou com violência - caso aqui); arrasar, demolir
sofismas: λογισμος logismos: pensamento (NVI: argumento), no caso, hostil à fé cristã
Linguagem misteriosa, mistura de termos militares com espirituais.
As armas de Deus tem poder invisível sobre o inimigo.
De alguma forma, os argumentos anti-Deus usados pelos inimigos de Cristo são combatidos e destruídos num nível espiritual, imperceptível para nós, mas muito real e de efeito catastrófico para os interesses do diabo.
Mesmo que as aparências sejam o contrário e o mundo pareça cada vez mais nas mãos do diabo, o controle está nas mãos de Deus.
No final, o diabo terminará preso e Cristo reinando na terra!
Essa verdade deve ter um poderoso efeito prático no crente.
Ele é um soldado e deve se armar com as armas de Deus e utilizá-las bem - mesmo que não veja nitidamente os resultados. Aliás, mesmo que os resultados pareçam contra ele, desanimadores, parecendo uma batalha perdida.
É o contrário: nossa luta é um batalha ganha! Nossa fé nos garante isso! Trate de lutar!
2º.: As armas de Deus tem atuação nele próprio, Paulo:
... levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo,
Faz parte do arsenal da batalha espiritual do crente a vontade e o poder de ser submisso a Cristo - ao ponto de tomar cada pensamento, prendê-lo e levá-lo à presença de Cristo para ser aprovado ou rejeitado.
A linguagem continua misteriosa, mas não é difícil compreender e colocar em prática.
O crente precisa se acostumar a sujeitar a Cristo seus pensamentos, suas ideias, seus raciocínio, suas reações, tudo o que se relaciona com a sua mente e espírito.
Somente assim ele será um grande soldado de Cristo.
v.6: ... prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão
Continua o tom firme de quem tem autoridade para punir.
Ele não diz exatamente do que consistiria a punição (repreensão, disciplina, expulsão).
Essa punição (de uma minoria) viria depois que a igreja como um todo se submetesse à autoridade dele.
Todo crente precisa se submeter à autoridade dos pastores (limitada) e da igreja (total).
v.7: Argumento simples, quase óbvio, mas eficiente.
Numa polêmica, se alguém pensa que é de Cristo, admita que é, ou pode ser.
Tenha cuidado ao considerar alguém como não sendo de Cristo, se ele afirma que é.
Você tem esse direito, mas sugiro que, só chegue a esse ponto depois de estar convencido que ele não vive o que confessa ou crê em heresias.
v. 8-12
Paulo previne que fará longa defesa da sua autoridade apostólica, recebida diretamente do Senhor Jesus.
E não se envergonhará por isso e nem se incomodará se disserem que ele só quer intimidar (grego: aterrorizar) os irmãos por carta.
Repete que usará da autoridade na presença deles, se necessário.
E deixa claro que seu padrão não é dos insensatos que servem de padrão a si próprios, à parte de qualquer chamada de Deus. Paulo foi comissionado diretamente por Cristo.
Termino comentando:
... a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa
destruição: mesma palavra usada no v.4, num contraste: o poder de destruição das armas espirituais são para os inimigos de Deus.
Para os crentes é o contrário: o ministério de Paulo é para construir, aperfeiçoar.
Quer avaliar seu ministério? Veja se tem sido causa de edificação ou prejuízo de irmãos.
Que Deus nos abençoe. Amém