PREGAÇÃO

Injustiça aparente (Série ECLESIASTES 34)

Ec 8.10, 12-14      65 minutos      03/04/2022         

Mauro Clark


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Já comentei que, a partir do v.5, Salomão dispara uma série de afirmações curtas e independentes entre si (algumas repetições do que já falara antes, mas sempre acrescentando algo novo).

Eis a minha sugestão de separar as frases (pouco diferente da divisão dos versículos):

 

10 Assim também vi os ímpios serem sepultados com honra, ao passo que os que frequentavam o lugar santo foram esquecidos na cidade onde fizeram o bem. Também isto é vaidade.

Primeiro Salomão observa algo específico e revoltante: ímpios sepultados com honra, enquanto pessoas de bem, fiéis a Deus, foram simplesmente esquecidos – pelo contexto, sepultados sem nenhuma honra ou consideração, desprezados, precisamente onde fizeram o bem.

 

No v.14, o autor volta ao mesmo tema, agora aprofundando e generalizando:

14 Ainda há outra vaidade sobre a terra: justos que são tratados segundo as obras dos ímpios, e ímpios que são tratados segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade.

Aprofundando porque no v.10 ele falou do tratamento injusto ao ímpio e ao benfeitor depois que morreram – no enterro e na memória.

Agora ele afirma que essa disparidade ocorre mesmo durante a vida!

E generalizando porque agora não é mais uma observação específica, mas um princípio geral, dentro do mesmo contraste injusto e absurdo: justos tratados como se fossem ímpios e ímpios tratados como justos.

Embora não tenha dito, sabemos que esses ímpios tratados como justos geralmente são os ricos e poderosos.

 

Interessante é que, embora revoltante, aqui não está nenhuma novidade, pois isso é observável em qualquer lugar do mundo, em qualquer época.

O que impressiona é que as pessoas não param para observar e tirar conclusões mais sérias sobre a vida.

Simplesmente dão como fato consumado e seguem em frente.

E uma grande virtude de Eclesiastes é levar o leitor sério a pensar nessas coisas e tirar conclusões realistas, embora desagradáveis, sobre a deformação da vida embaixo do sol.

 

Mas, independentemente do que cada um pensa, a Bíblia apenas afirma a existência dessa brutal injustiça e deixa por isso mesmo? Negativo!

 

12 Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e a vida dele se prolongue, eu sei com certeza que tudo correrá bem para os que temem a Deus.

13 Mas nada correrá bem para o ímpio, e ele não prolongará os seus dias; será como a sombra, visto que não teme a Deus.

 

Os mesmos dois tipos dos v. 14 são comentados aqui, com qualificações diferentes: em vez de “justo”, agora é “o que teme a Deus”. E em vez de “ímpio”, é o “pecador”.

1. O que teme a Deus:

... eu sei com certeza que tudo correrá bem para os que temem a Deus.

Vejam Rm 8.28 em pleno AT!

Parece que Paulo copiou Ec 8.12, apenas mudando “temem” por “amam” a Deus – o que, a rigor, não muda nada, pois quem teme a Deus, O ama, e quem ama a Deus, O teme.

Obviamente, Salomão não está dizendo que o crente não terá problema – o que seria um afirmação completamente fora da realidade.

O que significa então?

* Olhando para esta vida: tudo o que ocorre com o crente na vida (inclusive os sofrimentos, incluindo agressões causadas por homens maus) está dentro de um propósito de Deus altamente benigno.

* Olhando para depois desta vida: independentemente do que ocorra neste mundo, o crente está com uma eternidade feliz garantida.

 

Qualquer que seja a opção, irmão em Cristo, é excelente para o crente. E ainda dizem que Eclesiastes é um livro “para baixo”!

 

2. O pecador

Contraste: enquanto TUDO correrá bem para o crente, NADA correrá bem para o ímpio.

Interessante: no v.12a, Salomão reconhece que muitos homens ímpios vivem até a velhice (vida prolongada) fazendo o mal e aparentemente livres para agir.

E nessa “liberdade” aparente para agirem, prejudicam e maltratam os tementes a Deus.

À primeira vista, parece que os maus tem a vantagem.

Mas o v.13 esclarece a questão. Três coisas sobre o pecador:

a. Nada correrá bem para ele...

Mesmo raciocínio quando falei do crente:

* Olhando para esta vida: tudo o que ocorre com o ímpio na terra, incluindo os momentos alegres, servirá para compor uma vida reprovada diante de Deus, o que, obviamente, não é nada bom.

* Olhando para depois desta vida: independentemente do que ocorra neste mundo, nada de bom ocorrerá eternamente com o ímpio.

 

b. Não prolongará os seus dias

Parece uma contradição direta com v.12a! Vejo duas opções:

I. O v.12 admite que alguns ímpios vivem longamente na terra, mas é exceção. O normal seria o pecador viver pouco e ser disciplinado com a morte cedo. Na época do AT era normal relacionar vida longa com bençãos de Deus e vida curta com disciplina.

Mesmo assim, não creio que podemos afirmar que todo ímpio morria novo.

 

II. Não terá os dias prolongados após a morte, ou seja, não terá vida eterna – e, sim, morte eterna.

A dificuldade dessa opção é que, no AT, o assunto de vida e morte eterna era bem obscuro e pouco comentado.

Mesmo assim, prefiro esta opção.

 

c. Será como a sombra, visto que não teme a Deus.

Sombra dá a ideia de passageiro, fugaz.

Interessante é que a Bíblia diz que toda vida humana é fugaz: 1Pe 1.24; Tg 4.14

Por que aqui, ao contrastar com o crente, sugere que isso ocorre apenas com o ímpio?

Obviamente todos tem vida curta na terra, comparado com a eternidade.

Mas quando a chega a morte, o que o ímpio tinha para viver, no sentido de aproveitar a vida, terminou! Foi como um sopro.

Mas todo ser humano não terá existência eterna?

Sim, mas o estado eterno do ímpio não é considerado vida. É morte eterna, separado de Deus, sem alegria, sem qualquer grão de felicidade.

Resumo: mesmo que o justo seja injustiçado na terra e o ímpio exaltado, no final será o contrário. Os padrões deste mundo são invertidos com relação aos de Deus.

Que Deus nos abençoe. Amém

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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