Última etapa da conversa de Jesus com os discípulos, a caminho do Monte das Oliveiras, onde foi traído.
v.25: Estas cousas: talvez resumo de tudo o que havia falado nos 3 anos de ministério.
Mc 4.33-34: Jesus falava tudo por parábolas, conforme a capacidade dos ouvintes.
E mesmo explicando em particular aos discípulos, a capacidade de entendimento espiritual deles ainda era muito pequena.
Vem a hora… vos falareis claramente a respeito do Pai:
É difícil saber exatamente a que OCASIÃO Jesus se refere.
Ele não era muito preciso em questão de tempo, certamente porque para Ele o mais importante era dizer que determinado FATO iria ocorrer no futuro.
Quanto ao momento exato, era secundário.
Pode se referir aos 40 dias pós-ressurreição e antes da subida ao céu, em que, nesse casso, falaria de modo mais aberto, mais claro, mais detalhado sobre o Pai.
Mas é mais provável que se refira ao período pós-ascensão, quando falaria através do Espírito Santo, que iria ensiná-los toas as coisas que Jesus não tinha dito.
Seja como for, viria fase nova e mais rica de revelação sobre o Pai.
v.26-27a: Naquele dia pedireis em meu nome
Deve ser à época de AUSÊNCIA DELE, além de indicar o costume que iria começar.
Ou seja: a nova fase da habitação Espírito Santo neles.
Novamente toca no assunto de oração, lembrando que não mais seria diretamente com Ele, mas em nome dEle.
E acrescenta informação muito interessante:
não vos digo que rogarei ao Pai por vós. Porque o próprio Pai vos ama
Parece contradição ao ministério dEle como INTERCESSOR: Rm 8:34; Hb 7:25; 1Jo 21.
Mas não é. Não entrarei em detalhes sobre esse assunto estimulante e muito agradável.
RESUMO: o ministério intercessor de Jesus é baseado na OBRA que Ele realizou, NÃO no poder de argumentação junto ao Pai de que o Pai deveria nos amar mais, ter mais misericórdia conosco, não deveria esquecer o que Cristo fez, etc.
Em suma, a intercessão consiste muito mais na mera PRESENÇA de Cristo junto ao Pai, com o poder que Ele adquiriu de se tornar o Salvador do mundo.
Opinião minha: Se há palavras do Filho ao Pai (e deve haver), deve ser mais no sentido de transmitir como Ele se sente feliz em ter vencido a morte e o Diabo, do quanto Ele ama os discípulos, de que Ele se agrada em saber que não há mais condenação para eles,etc.
Mas posso afirmar que nunca visando CONVENCER o Pai a amar os crentes.
Ele disse explicitamente: O Pai vos ama!
É como se dissesse: “NÃO PRECISA eu pedir ao Pai por vocês. Vocês não podem imaginar O QUANTO Ele já ama vocês. Aliás, antes mesmo de vocês existirem!”
Importante: Jesus fazia questão que Seus discípulos conhecessem melhor o Pai.
Havia dito que o Pai daria tudo o que eles pedissem no nome dEle (v.23).
Depois dissera que viria a hora em que Ele falaria claramente a respeito do Pai (v.25). Agora diz que o Pai os amava.
É como se estivesse incomodado pelo fato de que eles POUCO conheciam o Pai e se constrangia de que Ele tinha se exposto mais aos discípulos que o Pai.
Parece que queria COMPENSAR essa diferença falando muito no Pai.
Por outro lado, o Pai por duas vezes disse “Este é o meu Filho amado, a Ele ouvi”, fazendo questão de mostrar que queria que os homens O conhecessem e obedecessem.
Além disso, o Pai e o Filho enviavam o Espírito Santo para a tarefa maravilhosa de habitar nos crentes, ensiná-los.
O Espírito Santo, por sua vez, exalta o Filho no coração dos crentes.
Em suma, vemos cada uma das 3 Pessoas da Trindade intensamente interessada em levar os homens (em particular aos crentes) a adorar TAMBÉM as outras duas Pessoas.
Voltando: Alguém poderia perguntar: Jesus se refere a QUE TIPO de amor do Pai pelos discípulos? O amor de Jo 3.16, “Deus amou o mundo”? Resposta:
v.27b: visto que me tendes amado e tendes crido que eu vim da parte de Deus
O amor do Pai pelos discípulos estava diretamente vinculado ao fato de que eles amaram a Cristo e além disso creram que Ele vinha de Deus, ou seja, que Ele era o Filho de Deus.
Certa vez ouvi mãe dizer: “O que você está fazendo pelo meu filho é como se fosse para mim.” Depois corrigiu: “Aliás, é MAIS do que se fosse para mim.”
Pois alguém amar a Cristo e crer nEle “derrete” o coração do Pai.
O Pai dedica então ao crente um amor muito especial.
Não o amor geral de Jo 3.16, como Criador, mas amor de Pai.
v.28: A conversa chegava ao fim e Jesus faz um resumo do que vinha dizendo até aqui.
v.29-30: Os apóstolos sentiram que estavam entendendo mais e se alegraram.
E viram que Jesus estava disposto a falar coisas do alto, sem que ficassem perguntando.
Parece que a mente deles começava lentamente a se abrir. Mas ainda faltava muito.
v.31-32: Jesus não se empolga com a declaração de fé deles.
Aliás, O motivou a fazer uma afirmação dura do que iria acontecer.
Não que discípulos estivessem fingindo, ou tivessem fé irreal, mas IMATURA, frágil, não suficiente para sustentá-los na crise.
Algumas vezes Jesus vibrava com demonstração pública de fé forte, real, pura:
* Mulher fenícia: “Ó, mulher, grande é a tua fé. Faça-se contigo como queres" (Mt 15.28)
* Centurião: Nem mesmo em Israel achei fé como esta". (Mt 8.10)
Por outro lado, Ele não se deixava influenciar por afirmações de efeito a seu favor, meio exageradas, baseadas talvez em emoção:
* Mulher na multidão: Lc 11.27-28 - resposta fria.
* Os que creram nEle sem convicção: Jo 2.23-25
Voltando, parece que Ele achou a afirmação incompatível com a realidade da fé deles.
Devemos ter cuidado com o que dizemos para Deus em nossas orações.
Cuidado para não dizer algo DESPROPORCIONAL ao que o seu coração está absolutamente convicto e nem INCOERENTE com o seu andar com Deus.
É mau gosto um garoto desobediente, mas jeitoso, dizer: “Pai, tu és um pai exemplar, tenho orgulho de ser teu filho, meus colegas não sabem o que ter um pai de verdade”.
Nunca pense que MERAS palavras de efeito vão impressionar a Deus e sensibilizá-lo.
Ele sempre examinará se as palavras são COERENTES com o seu coração e com o nível de obediência e confiança nEle.
Voltando: Jesus claramente prevê o terrível e triste momento (que ocorreria nas próximas horas), em que todos O abandonariam e O deixariam completamente só.
Quantas vezes falamos bonito e minutos depois estamos numa encruzilhada: Cristo ou o pecado. E nos entregamos às garras do pecado, deixando Cristo de lado e entristecendo o Espírito dEle que habita em nós. Como somos fracos!
Cuidado com uma autoconfiança, que terminará em arrogância espiritual.
Após dizer que ficaria só, Jesus completa:
contudo, não estou só, porque o Pai está comigo.
Como se dissesse: Estarei só em termos de companhia humana, mas em termos reais, MINHA ALMA não estará só.
Esse privilégio da presença constante do Pai, repassou aos Seus discípulos.
Nunca estamos só. O Pai e o próprio Jesus fazem morada em nós, pelo Espírito Santo.
O Deus triuno está conosco.
Um soldado preso no país inimigo, isolado na mata, num cubículo de 1m2, longe de tudo e de todos, SE É CRENTE, não pode dizer que está só. Deus está com ele.
E se Deus está com ele, companhia humana fica secundária: Eu e Deus somos maioria!
v.33: Últimas palavras da longa conversa. Palavras belíssimas.
estas cousas vos tenho dito para que tenhais paz em mim
Não para deixá-los tristes, irrequietos, confusos. Mas por um só motivo: PAZ EM MIM.
Se desse a entender que a paz nEle seria garantia de ausência de aflição no mundo, estaria CONTRADIZENDO tudo o que havia dito até aqui.
Então repete com toda a clareza: no mundo passais por aflições
À 1a. vista pode parecer contradição falar em PAZ e AFLIÇÃO ao mesmo tempo.
Mas a NATUREZA da paz e da aflição são diferentes.
A aflição é no mundo, no percurso desta vida. A paz é nEle, ou seja, é INTERIOR, dentro da alma. Uma paz transmitida por Ele.
Todos nós crentes conhecemos esta experiência de aflição no mundo e a paz em Cristo.
Você, amigo, só conhece a parte ruim: aflição no mundo. Não exatamente como a do crente, pois você não é perseguido.
Mas tristeza, frustração, você conhece. Que tal conhecer a outra parte, a paz em Cristo?
A última frase é de puro ânimo:
“Não desanimem. Com a ajuda do Pai, minha e do Espírito Santo, vocês podem vencer. Falo isso por experiência própria. Eu venci o mundo. Fui tentado de todas as formas e não caí. Nunca desobedeci o Pai. Deixei-me dirigir pelo Espírito Santo.
O resultado está aí para quem quiser ver: vitória sobre o mal, sobre o Diabo, sobre a morte. VITÓRIA TOTAL!”
Que Deus nos abençoe. Amém