Jo 17.1-5 58 minutos 22/09/2013
Mauro Clark
Entramos no capítulo da famosa oração sacerdotal de Jesus.
Noite da traição, após Ceia, andando para o Monte das Oliveiras, onde foi traído.
Após conversar com os discípulos, animá-los, chega a hora de Ele próprio receber ânimo. E Ele faz isso buscando o Pai, conversando com Ele, desabafando, pedindo.
Jesus era o grande apoio para os Seus discípulos.
O Pai era o grande apoio para Ele.
O momento é de intensa emoção.
Apesar do tom extremamente íntimo, Jesus ora em voz alta.
Por que? Para que os discípulos compartilhassem com Ele momento tão especial.
E nós! Como teríamos acesso a algo tão belo, se João não tivesse registrado por escrito?
Passagem bíblica especialíssima: uma Pessoa da Trindade conversando com Outra.
A oração é dividida em 3 pedidos:
1) v.1-5: por Ele mesmo (HOJE)
2) v.6-19: pelos discípulos da época
3) v.7-26: pelos discípulos do futuro (nós!)
v.1a
Pai, é chegada a hora
Que hora: a Sua morte. Hora mais importante da humanidade, desde a Criação.
Hora em que os homens mostrariam...
… a eles próprios o quanto são instáveis, que passam do aplauso para a perseguição num piscar de olhos, que têm ódio no coração pronto para explodir à menor centelha.
… a Deus a sua incapacitação espiritual, a cegueira, o coração de pedra.
Como CONTRASTE, era também a hora em que Deus mostraria aos homens…
… AMOR e capacidade de PERDOAR, embora sem abrir mão da justiça santa.
… veracidade das Escrituras, no cumprimento de muitas profecias.
Hora em que Deus mostraria a Satanás a derrota dele (ainda parcial).
Jesus vê a imponência da hora e diz ao Pai.
Não informando, obviamente, mas reconhecendo que SABIA O QUE ESTAVA POR VIR. Nada foi surpresa, tudo voluntário.
glorifica a Teu filho, para que O FILHO TE GLORIFIQUE A TI
glorificar: honrar, render glórias, prestar homenagem.
Jesus desejava intensamente glorificar o Pai naquela hora especial que se aproximava.
Hora terrível e maravilhosa ao mesmo tempo.
Terrível: sofrimento e morte.
Maravilhosa: única maneira da salvação dos homens ser possível.
Mas Jesus não estaria glorificando ao Pai pela 1a. vez:
v.4
Toda a Sua vida havia sido um ato de glória a Deus.
Em cada milagre, em cada resistência ao pecado, em cada quilômetro percorrido pregando o Evangelho, em cada tarefa cumprida - em tudo o Pai era honrado pelo Filho aos olhos do mundo.
Imagino que você deseja sinceramente glorificar ao Pai na sua vida. E isso é ótimo.
Mas meio vago. Para avaliar melhor, veja se está disposto a certos detalhes:
* Chamar um irmão que lhe ofendeu e tratar, mesmo sabendo que a obrigação é dele
* Doar valor que pesa no bolso, para ajudar alguém ou uma causa do interesse de Deus
* Desfazer-se de ligações que desagradam a Deus (sentimentais, profissionais, etc)
* Cumprir com suas obrigações como cidadão (impostos, obediências às leis, etc).
* Falar de Cristo numa roda em que todos achariam tudo muito infantil
Voltando: Faltava um passo para Jesus enfrentar o mais importante, o mais doloroso, o mais difícil momento da Sua vida: a própria SEPARAÇÃO do Pai (provisória) e a morte.
Se no último momento desistisse de se entregar, todo o plano da salvação viria abaixo.
A cruz estava bem à frente. Aquele seria o GRANDE momento de honrar o Pai, cuja vontade era salvar os eleitos e não haveria outra maneira senão com o sangue do Filho.
Mas a grandeza do Pai era TÃO ESMAGADORA perante o estado esvaziado de Jesus, acrescido do estado emocional, que Jesus humildemente diz ao Pai, na frente dos discípulos, que só teria condições de prestar tão grande honraria SE O PAI O GLORIFICASSE TAMBÉM.
v.1b
glorifica a Teu filho PARA QUE o Filho te glorifique a ti.
Como se dissesse: “Eu só poderei te glorificar na cruz, se tu também me glorificares”.
v.2
Não é muito clara a ligação lógica desta frase com a anterior.
Provavelmente Jesus queria DAR BASE ao pedido de ser glorificado.
Como se argumentasse: “Tu já me glorificaste antes de maneira extraordinária dando-me autoridade sobre toda carne, para que eu dê a vida eterna aos que me deste. Pois agora estou precisando que me honres de maneira muito especial.
Do que se trata exatamente essa glorificação a que Jesus se refere?
Pergunta difícil, para não dizer impossível. Muitas opiniões: crucificação; além da crucificação também ressurreição; e ainda o retorno ao céu.
Pessoalmente tenho sugestão, sem dogmatizar:
v.5
glorifica-me, ó Pai, CONTIGO MESMO…
Jesus não se refere a uma homenagem pública do Pai a Ele perante pessoas, como nas ocasiões em que o Pai falou em voz alta e na transfiguração, perante três apóstolos.
Aqui a homenagem é íntima, pessoal, só entre os dois, assunto entre Pai e Filho!
Jesus chega a especificar com exatidão o TIPO de glória que Ele queria receber do Pai:
… com a glória que eu tive JUNTO DE TI, ANTES QUE HOUVESSE MUNDO
Frase cheia de nostalgia.
Vemos aqui Jesus com o coração aberto, confessando saudade da comunhão que tinha com o Pai nos tempos eternos, antes da fundação do mundo.
Jesus queria sentir as delícias daquele relacionamento de amor com o Pai.
Quanto ao TEMPO em que Jesus esperava que o Pai o glorificasse, certamente inclui o céu. Mas não sabemos quando se iniciaria essa glorificação.
Certamente o Pai atendeu prontamente aquela oração, como sempre fez com o Filho.
LIÇÃO: expresse ao Pai seus desejos mais íntimos e deixe com Ele atender ou não.
* Quer uma comunhão com Deus que teve anteriormente e perdeu? Diga para Ele.
* Está triste por não conseguir alcançar um estado espiritual mais elevado? Diga para Ele.
Voltando: notaram que pulei um versículo?
v.3
Parênteses que Jesus usa para explicar a vida eterna, a que se referira no v.2.
Como o Pai não precisa de explicação, claro que Jesus disse para os discípulos ouvirem.
Joia teológica: definição da vida eterna dita pelo próprio Jesus ao Pai!
Definição simples e direta: compara a um RELACIONAMENTO, conhecimento pessoal.
Conhecer: na Bíblia pode ter sentido forte de relacionamento íntimo, experiência pessoal.
Vida eterna não é apenas “ouvir falar” de Deus ou apenas conhecer doutrinas, mas CONHECER em envolvimento pessoal, ESPIRITUAL, duas pessoas divinas:
1) o Pai: a ti, o único Deus verdadeiro
2) o Filho: Jesus Cristo, a quem enviaste
É impossível conhecer o Pai sem incluir uma aceitação pessoal do Filho (ninguém vem ao Pai senão por mim - Jo 14.7).
Também não adianta qualquer tipo de relacionamento com Jesus que não inclua o reconhecimento que Ele é Filho de Deus e enviado por Ele.
As duas coisas têm que vir juntas.
(Jesus não falou do Espírito Santo, mas outras passagens afirmam que envolve também a 3a. Pessoa da Trindade, inclusive chamado também de Espírito Eterno!).
Note que, na definição, Jesus não falou em TEMPO, tipo “vida eterna é passar toda a eternidade no céu” ou “nunca mais morrer”.
Por que? Porque o tempo é elemento secundário.
Se estamos intimamente ligados a um Deus eterno, essa relação durará eternamente.
Não é correto dizermos que temos vida eterna porque vamos para o céu. É o contrário: vamos para o céu porque temos vida eterna, já estamos ligados com um Deus eterno!
Observe que a certeza de vida eterna não é garantida por…
* … fazer parte de determinada religião;
* … praticar ou deixar de praticar certas coisas (tipo “Não bebo, não fumo, não danço”).
Mas CONHECER o Pai e o Filho.
É assim que cada pessoa que se confessa crente deve se avaliar.
Quanto a você, amigo, não se conforme com o que você conhece de Deus. Vá mais fundo a ponto de conhece-Lo verdadeiramente e, através de Cristo, receber vida eterna.
Que Deus nos abençoe! Amém