2Co 12.11-18 45 minutos 20/12/2015
Mauro Clark
Após o famoso trecho do “quando sou fraco então é que sou forte”, Paulo volta a falar de que estava sendo insensato em falar tanto de si e do seu constrangimento em ter de abrir tanto o coração e até mesmo se gabar (mesmo sendo em Cristo).
v.11
Tudo aqui é repetição: que ele foi constrangido pelos coríntios a se defender, que chegou ao ponto de se tornar insensato e que em nada era inferior aos tais apóstolos.
Mas a repetição serve para mostrar a dimensão do constrangimento de Paulo.
Como ele gostaria de escapar daquela desagradável e sufocante situação!
Às vezes Deus nos coloca em situações assim. Não adianta se desesperar. Faça o que é certo, tenha paciência e aguarde Deus agir.
v.12
Paulo prova que eles não tinham motivo para dar ouvidos a esses falsos mestres e desconfiarem tanto dele.
E para isso, afirma três coisas:
1. O verdadeiro apóstolo tinha credenciais
credenciais: σημειον semeion: sinal, marca, aquilo pelo qual uma pessoa ou algo é distinto de outros e é conhecido.
Também tem o sentido de “prodígio, portento, i.e., uma ocorrência incomum, que transcende o curso normal da natureza, de milagres pelos quais Deus confirma as pessoas enviadas por ele, ou pelos quais homens provam que a causa que eles estão pleiteando é de Deus.” - Strong
Aqui é usada no primeiro sentido: credencial.
Não era qualquer um que podia chegar e dizer que era apóstolo de Cristo.
2. Quais credenciais eram estas. Três termos:
a. Sinais: mesma palavra, σημειον semeion, agora usada no segundo sentido: algo incomum, milagre.
b. Prodígios: τερας teras: prodígio, portento, milagre
c. Poderes miraculosos
δυναμις dunamis: poder, força, habilidade; poder para realizar milagres
Embora não idênticas, as três são quase sinônimas, resumindo todo o conjunto de milagres, curas e poderes excepcionais exercitados por Paulo (e os outros apóstolos).
3. Todas essas credenciais foram utilizadas por ele entre os coríntios.
E mais:
com toda a persistência
persistência: υπομονη hupomone: perseverança, tolerância, sofrer com firmeza
Interessante: Os tremendos poderes de Paulo não eram usados de maneira fanfarrona, exibicionista, mercadológica.
Mas ao longo de um ministério duro, difícil, sofrido.
Seja como for, milagres foram feitos e os coríntios tinham obrigação de considerar seriamente isso como uma demonstração da autenticidade do ministério de Paulo.
Qual a diferença entre os apóstolos e os crentes que tinham dons de cura, milagres, etc?
Parece que os apóstolos era muito mais poderosos, tinha tudo isso em mais abundância.
Seja como for, é evidente que o uso desses recursos era para a geração dos apóstolos.
Não seria algo que continuaria séculos adentro na história da Igreja Cristã.
Interessante: até o final do 1º. século, o uso de milagres, curas, etc, aliada a uma excelência de atitudes cristãs, indicavam autenticidade num ministro.
Hoje, para identificar um verdadeiro ministro deve-se continuar procurando atitudes cristãs em alto grau, mas não mais essas coisas sobrenaturais.
Essas coisas foram substituídas por outra: absoluta fidelidade à Palavra de Deus, que não estava completamente revelada no primeiro século.
O uso de milagres, profecias, etc, servia como substituto à revelação total da Palavra.
Hoje em dia, o uso de recursos sobrenaturais deve causar suspeita e, via de regra, vem acompanhada de fraca fidelidade à Bíblia.
v.13
Parece que os falsos mestres insinuavam que Paulo tratava a igreja de Corinto de maneira inferior às outras.
Paulo argumentava: “Isso não é verdade. Como vocês podem ver, todos os sinais do meu apostolado foram abundantemente, e até sofridamente, apresentados entre vocês. Onde está a desconsideração?”
Neste ponto, faz uma afirmação curiosa, que parece ironia, mas, no fundo não é:
“Aliás, reconheço que num ponto eu fiz algo que mostrou desconsideração: não ter sido pesado para vocês”.
Refere-se ao fato de ter trabalhado com as próprias mãos em Corinto, fazendo tendas.
Parece ironia porque não ter sido pesado parece consideração, não desconsideração.
Mas, no fundo, terminava sendo mesmo uma espécie de desconsideração, porque tirava deles o privilégio de ajudarem no sustento de Paulo.
E termina se desculpando por não ter “puxado” por eles, e assim ter dado a oportunidade de crescerem espiritualmente.
Normalmente consideramos um ônus ter de ajudar alguém de alguma forma.
Mas, em vez de olhar para o ônus, veja o privilégio de mostrar amor e aliviar alguém.
Paulo se refere a uma terceira visita que fará a Corinto, mas antes de dedicar um longo trecho (até 13.10) a essa visita, insiste na questão de não ser pesado aos coríntios:
v.14-15
Se não havia sido pesado no passado, também não seria na próxima visita.
lit.: ... não procuro o de vocês, mas vocês
“Vocês” como? Resposta no v.15a
Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma
Paulo estava interessado na alma deles!
E para isso, se disponha a se desgastar pessoalmente:
O 2º. verbo traduzido por “gastar” é bem mais forte que o primeiro: gastar totalmente!
O pastor fiel procura não o dízimo do irmão, uma doação, um empréstimo, um troca de favores. Procura o próprio bem dele, da sua alma.
Voltando ao v.14:
Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos.
entesourar: armazenar, reservar
Princípio limitado até a adolescência, antes da fase adulta do filho.
Quando os pais estão velhos e debilitados é obrigação do filho cuidar deles: 1Tm 5.8
Só o fato de citar esse princípio, mostra que Paulo via a igreja de Corinto, que ele fundou, como uma igreja criança ou adolescente, precisando de um pai para ajuda-los até a fase adulta.
Não sou nenhum Apóstolo Paulo, mas com o privilégio de ter iniciado esta igreja, que ainda fará oito aninhos, saibam que sinto uma grande responsabilidade na condução da igreja nessa fase jovem. Peço que orem por mim!
Continuando:
v.15b
Paulo faz uma pergunta dura, revelando pontinha de tristeza:
Se mais vos amo, serei menos amado?
Como se dissesse: “É evidente, irmãos, o quanto tenho provado o meu amor por vocês. Mas quanto mais eu vos amo, parece que vocês me amam menos!”
Lição: não fique muito decepcionado quando der amor cristão e receber indiferença, incompreensão e até mesmo ingratidão. Faz parte!
v.16-18
Paulo resume afirmando que, seja como for, ele nunca foi pesado aos irmãos.
E mais: não apenas ele agia assim, mas fazia questão que os integrantes da sua equipe andassem no mesmo espírito.
Os auxiliares dele tinham o mesmo comportamento (Tito e outro irmão).
Quando uma equipe funciona bem, com certeza tem muito a ver com o líder, que se empenha para ser assim.
Termina esse trecho com uma frase meio irônica, talvez até brincalhona, e bem gostosa:
sendo astuto, vos prendi com dolo
dolo: δολος dolos: astúcia, engano, fraude, malícia (palavra muito forte).
Os inimigos é que estava acusando Paulo de “dolo”, então ele usou o termo ironicamente.
“Fui tão amoroso com vocês, que lhes deixei sem outra opção cristã, a não ser me amarem também. Caso não o façam, estarão falhando feio, sem desculpas. Vocês estão num beco sem saída! Essa foi a minha fraude.”
Que dica! Saia por aí, com muita astúcia, prendendo os irmãos nos laços do seu amor.
Deixe-os sem jeito, sem saída, a não ser aprenderem também a amar, pagarem com amor o seu amor e, por sua vez, também prendendo outros com o amor deles.
Como foi bom termos sido presos com o amor de Cristo. Que prisão gostosa!
Como somos constrangidos com o amor dEle por nós. Que constrangimento gostoso!
Pois ame a ponto de deixar os outros constrangidos também.
E você, amigo, corra até Cristo e conheça esse amor!
Que Deus nos abençoe. Amém