PREGAÇÃO

Abatida, por que?

Sl 42      57 minutos      23/10/2016         

Mauro Clark


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ABATIDA, POR QUE?

Salmo 42

 

Autor incerto, talvez cantor no templo e levita (era familiar com o templo).

De fato, num certo sentido, este salmo poderia ter sido escrito por qualquer um que ama a Deus, se debate com tristezas, é questionado pelos outros mas tem esperança em Deus.

 

v.1-2a: geralmente citados como passagem que expressa a sede, a ansiedade espiritual de um crente por Deus. Talvez um crente feliz, querendo conhecer mais a Deus.

Mas não é bem assim. Aque se trata de um crente em grande tristeza, muito abatido:

 

v.3a: as minhas lágrimas têm sido o meu alimento, dia e noite

Ele tem chorado muito, tão triste que tem perdido a vontade de comer e dormido mal.

 

É esse sofrimento que está causando secura de alma, provocando uma grande sede.

Mas SEDE DE QUE. De se aliviar, com prazeres, mulheres, amigos, dinheiro? Não:

 

...sede de Deus, do Deus vivo

Ele está convencido de que, do jeito que apenas a água vai passar a sede da corça, apenas o Deus vivo saciará a sua sede, lhe devolverá a alegria íntima que tinha antes.

E o seu Deus não é um deus inventado, de pau e pedra, mas um Deus VIVO, pessoal.

 

Quando sofremos, quantas vezes pensamos: se isso ou aquilo acontecesse, eu ficaria alegre e essa tristeza passaria.
Isso é pequenez de alma! De fato alguns alívios são bons e ajudam a eliminar nossas tristezas, mas são alívios temporários e superficiais. Não alívio de alma.

Esse tipo de alívio só Deus pode dar. E, em certa medida, mesmo em pleno sofrimento!

 

O salmista está tão convencido de que apenas o Deus vivo pode passar sua tristeza, que quase se desespera para ir logo de uma vez para a presença desse Deus:

quando irei e me verei perante a face de Deus?

 

À primeira vista, pensamos numa vontade de partir para o céu e ver Deus pessoalmente.

Pode ser que estivesse na mente do salmista, como Paulo em Fp 1.23.

Porém é mais provável que se refira ao templo (v.4).

Por algum motivo, ele está impedido de ir ao templo adorar. E isso o magoa muito.

Para a adoração dele era extremamente importante sacrificar, saber que foi aceito por Deus, ver os irmãos, sentir a presença de Deus.

 

Todo crente fiel sabe como se sente quando não pode vir à igreja por um longo período: “seco”, saudoso dos irmãos, das músicas, testemunhos e especialmente da pregação

 

O sofrimento do salmista era percebido pelos outros, que viam e perguntavam:

 

v.3b: o teu Deus, onde está?

Mas perguntavam com que sentido? Para ajudá-lo ou para caçoar dele?

Resposta clara nos v. 9-10 (o salmo repete algumas porções):

v. 9b-10: os meus adversários me insultam,dizendo e dizendo: O teu Deus onde está?

dizendo e dizendo: insistência dos adversários em afrontar e instigar.

E eles conseguem mesmo perturbar o coitado: esmigalham-se-me  os ossos.

 

É comum pessoas virem crente sofrendo e perguntar meio debochando:Cadê o teu Deus?

Observe que essa acusação é, antes de tudo, a Deus.

“Como você pode crer num Deus que permite uma tragédia dessa com alguém que se diz filho dEle? Que bondade é essa?”

E depois a nós, com insinuação maliciosa: “Você é tolo em se dedicar a um Deus desse”.

Isso abate, aumentando a tristeza.

Mas ruim mesmo é quando esse tipo de comentário realmente arranha a nossa fé.

E nos tornamos fracos, ainda mais miseráveis.

Não é à toa que o salmista sentia os ossos esmigalharem dentro dele.

 

v.4: Nesse processo, ele é levado a pensar em momentos alegres de adoração, quando conduzia pessoas ao templo, em grande alegria.

Este homem vibrava com as coisas de Deus. E essa lembrança o faz sofrer ainda mais.

E passa a um diálogo com a sua própria alma.

 

v.5a: por que estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas dentro em mim?

Ao fazer 2 perguntas a si mesmo, não significa que ele desconhece porque está triste.

Pode saber e pode não saber (como às vezes ocorre conosco).

Mesmo que não saiba, não está buscando saber.

As perguntas são retóricas, usadas como força de argumentação, para mostrar que, qualquer que seja o motivo, não justifica ele estar assim tão abatido.

Ou seja, pode até haver alguma coisa que explique, mas não justifica.

Não creio que o tom seja de repreensão a si próprio, mas de avaliação.

 

v.5b: espera em Deus, pois ainda O louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu

Ele argumenta consigo mesmo que:

a. Não há motivo para desespero porque ele tem um Deus em quem esperar.

 

b. Esse Deus lhe auxilia, lhe ampara, lhe ajuda (implícito que esse amparo vem nos momentos que Deus determina e muitas vezes não o livra de sofrimentos).

 

c. Esse Deus é o Deus dele.
Mas isso é óbvio, não? Pode ser, mas semre é bom repetirmos isso a nós mesmos.
Sempre estamos falando de Deus, mas às vezes esquecemos que Ele é o nosso Deus, no sentido de dependermos totalmente dEle, de que Ele nos auxilia, etc.

 

d. Que esse sofrimento é PROVISÓRIO, pois ele ainda vai louvar esse Deus novamente.
Talvez fale do louvor no Templo, quando tinha aquela alegria de que agora tem saudades.
Mas também se refere ao íntimo, pois intimamente ele estava em dificuldade de ter comunhão com Deus. E sem comunhão íntima, não adianta adoração externa.

Aqui, segredo de ouro para você enfrentar tristezas e sofrimentos internos:

* Não desesperar, pois você pode esperar no Deus poderoso e bondoso, que lhe ajuda;

* Crer que a crise será provisória, pois você ainda louvará alegremente esse Deus.

Provavelmente aqui mesmo nesta vida. E mesmo se não for, na glória.

 

O salmista continua a pesquisar a si próprio, tirando conclusões:

v.6: Como no v.5, começa falando do seu abatimento, mas logo procura mostrar a si mesmo que em Deus há saída.

E pensa saudoso em lugares onde, tudo indica, teve bons momentos com Deus, provavelmente orando e adorando.

Seja como for, ao fazer esse simples exercício, ele consegue elevar de maneira fantástica os pensamentos a Deus.

 

Faz bem pensar em Deus. Não apenas nos feitos bíblicos, mas em momentos marcantes que VOCÊ teve com Ele.

Em momentos de frieza, poderá ser dificil, mas com certeza será muito benéfico e ajudará a sair da crise.

 

v.7-8

Mesma coisa: começa falando do sofrimento e logo levanta a cabeça e olha para Deus.

v.7: passagem poética para descrever como foi atingido por problemas.

v.8: Confirma o que dissera no v.5b: Deus é o seu auxílio.

Mesmo em pleno sofrimento, Deus o estava assistindo continuamente.

 

Durante o dia, através da Sua misericórdia.

Talvez pequenos alívios em que via a mão de Deus, ajudando-o um pouco.

 

E à noite, apesar do abatimento, ele conseguia cantar. Era Deus o ajudando.

Não é à toa que muitas pessoas alivia suas tristezas cantando!

 

Duas observações importantes sobre os 4 últimos versículos: o 5, o 6 e os 7-8 juntos:

1) O salmista não foge da realidade de que está profundamente abatido.

2) Em vez de se acomodar, ele reage buscando firmemente motivos para sair da crise. Motivos basedos em Deus.

 

Quando estiver triste, deprimido, não fuja da realidade, mas reconheça o fato, e olhe para o alto, aguardando de Deus o livramento. (Claro que, em situações mais agudas e insistentes, esse livramento pode incluir tratamento, medicação, etc).

 

v. 9a: Digo a Deus, minha rocha, por que te olvidaste de mim?

Passa do tom de alívio do v. 8 para novo lamento: gangorra de sentimentos!

Faz parte da crise depressiva esses altos e baixos.

 

v.9b-10: Já comentamos.

v.11: Exatamente o mesmo v.5. O que significa essa repetição?

Que ele continua abatido e continua esperando em Deus, convicto de que virá alívio, não apenas aqui, mas no futuro.

 

Existem salmos em que autor começa triste, muda no meio e termina alegre.

Mas este não é assim. O autor começa abatido e termina abatido.

 

Frustrante, vermos o salmista passando por uma tristeza prolongada, sofrida e sem registro de alívio imediato, não é?

Não. Ao contrário. Deve nos animar, pois vemos o salmista exatamente como nós!

Essa é a nossa realidade. Enfrentamos dificuldades de toda ordem, algumas duradouras, que nos moem por dentro.

Oramos, nos sentimos melhor, e voltamos a cair de novo. E tendemos a nos desesperar, deixando tudo de lado. Mas isso é um erro.

 

Aprendamos com o salmista, que estava exatamente nessa situação. Em resumo:

1. O alívio eficaz terá que vir de Deus (tanto aqui na Terra como, definitivamente, no céu)

2. Deus não falha, é digno de se esperar nEle

3. Mesmo enquanto o alívio não vem, Ele está conosco, cheio de misericórdia, em Cristo!

 

Que Deus nos ajude e abençoe. Amém

 

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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