PREGAÇÃO

Até quando vos sofrerei?

Mc 9.14-27; Lc 9.37-43; Mt 17.14-18       65 minutos      22/07/2018         

Mauro Clark


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Até quando vos sofrerei?

Mc 9.14-29 (paralelas Lc 9.37-43; Mt 17.14-18)

 

Episódio ocorrido no dia seguinte à Transfiguração.

Ao descerem o monte, Jesus e os 3 que foram com Ele (Pedro, Tiago e João), encontram os outros discípulos discutindo com os escribas e grande multidão ao redor. 

Chega a Jesus um homem angustiado, pois o filho tinha problema sério.

Falando bem alto e com humildade, pede ajuda. (Mt: homem se ajoelhou)

 

Qual era o problema do filho?

v.17: espírito mudo

Mt 17.15: lunático: gr.: que sofria de doenças mentais, tipo epilepsia. VRev: epilético.

Lc 9.39: um espírito se apodera dele.

Afinal, o que o pai falou? Certamente as duas coisas. Possessão demoníaca estava causando graves problemas mentais e físicos.

O garoto sofria muito nas mãos do demônio que o possuía: jogava-se no fogo e na água, gritava de repente (embora não falasse normalmente), tinha convulsões e espumava.

Estava definhando, certamente se alimentava mal.

Mesmo depois de muito o maltratar, o demônio raramente o deixava.

 

Ainda hoje, 2000 anos depois, embora haja reconhecidas doenças mentais, continua havendo possessão demoníaca e às vezes é muito difícil distinguir uma da outra.

 

Parece que o homem procurara ansiosamente por Jesus, mas não O encontrou, pois estava no monte, com os 3 apóstolos. Deve ter apelado para os outros nove.

 

v. 18b (Lc 9.40; Mt 17.16)

Os discípulos tentaram expulsar o mau espírito do menino, mas não conseguiram.

Surge discussão entre os discípulos e os escribas. Jesus chega e o pai lhe conta tudo.

Jesus tem uma reação surpreendente e muito forte.

 

v.19: Ó geração incrédula (Mt: e perversa)! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?

incrédula: gr. απιστος apistos = sem fé.

perversa: gr. διαστρεφω diastrepho = torcer, perverter.

Talvez tradução melhor fosse “pervertida” (praticamente sinônimo de “pecadora”).

 

Situação rara em que Jesus mostra certa irritação, desgaste com as pessoas.

Talvez a única vez em que Ele praticamente se queixa do Seu ministério nesta terra.

Motivo: estava no meio de uma geração sem fé (mesmo os que tinham fé, era fé pequena, como veremos) e também geração pervertida.

COM QUEM Ele se chateou? Com os escribas, que discutiam com os discípulos? O menino, que era pecador? O pai do menino que tanto lhe implorava? Os próprios discípulos, que não conseguiram expulsar o demônio?

Com nenhum deles em particular e com todos em geral.

 

Geração: termo geral.

Em uma só cena, Ele viu muitos estragos: sofrimento do menino, angústia do pai, frustração dos apóstolos, discussão e atrito com os escribas.

Tudo por causa do pecado que entrou no mundo, contaminou todos os homens e passou a caracterizar a geração humana.

 

Jesus abre o coração e revela grande desconforto em viver cercado de pecadores.

Três lições:

1) Quando falamos nos sofrimentos de Cristo, pensamos nas agressões verbais e físicas, que culminaram na crucificação e no sofrimento espiritual de ser abandonado pelo Pai.

Mas ainda há este: um Ser absolutamente SANTO, ter de suportar pecado por todos os lados e de todas as formas. É muito amor por nós!

 

2) O normal é o crente ter algo daquele desconforto que Cristo sentiu.

Afinal, somos santificados pelo Espírito de Cristo que habita em nós.

Devemos ser santos como Ele foi santo.

Quanto mais santos nos tornamos, maior será esse desconforto.

Às vezes poderemos simplesmente nos retirar, mas outras, temos de suportar.

 

3) Jesus ansiava para ir embora, de volta ao Seu Pai querido.

É como se houvesse dito: “Está difícil suportar vocês, vocês são pecadores demais. Não vejo a hora de retornar para o lado do meu Pai.

 

Esse tipo de intenso desejo de ir para o céu é excelente sinal para o crente.

Mostra que ele está afinado com Jesus, imitando-O até nos desejos mais íntimos dEle.

Paulo desejava isso: Fp 1.21; 2Co 5.8

Você tem desse desejo de ir encontrar-se com Cristo?

 

Em suma: Jesus suportou esta geração infiel. Suportemos também.

Ele desejou profundamente voltar para o céu. Desejemos também.

 

Voltando: Após expressar o seu lamento, o que fez Jesus?

v. 19b-24: Cena viva, chocante e tocante.

Quando viu Jesus, o demônio jogou o menino no chão e o agitou fortemente.

 

Ao se encontrarem frente a frente com Jesus, os demônios reagiam com desespero.

O poder que eles têm sobre os humanos, evaporava-se na frente do poder de Cristo.

 

O pai disse que aquilo acontecia desde que o garoto era criança. E complementa:

Se Tu podes alguma cousa, tem compaixão de nós e ajuda-nos

O tom não era de desafio, mas de humildade e falta de convicção (talvez agravada pelo insucesso anterior dos outros apóstolos).

 

Jesus se mostra quase ofendido com a resposta e dá uma profunda lição de fé:

Se podes! Tudo é possível AO QUE CRÊ.

Esperaríamos algo como: “Tudo é possível PARA MIM, que sou o Filho de Deus”.

Mas ele dá algum crédito de uma realização divina sobre quem exerce fé.

No caso particular, era praticamente como se dependesse da fé do pai do garoto.

Se ele cresse, haveria milagre. Implícito que, se não cresse, não haveria.

 

O homem ficou maravilhado ante a perspectiva do milagre ser feito, pois de certa forma dependia dele e ele desejava muito ver o filho curado.

Mas ao mesmo tempo ficou angustiado, pois sua, que fé seria crucial, era tão pequena:

Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé. (v.24)

Literalmente: Eu tenho fé; ajuda-me na minha falta de fé!

Calvino: parece contradição, mas qual de nós não sente isso constantemente?

 

O pobre homem apenas quer dizer que tem fé bem pequena, insegura.

A saída que encontra é perfeita: implora que Cristo que o ajude nessa dificuldade.

 

Aqui tem algo sutil de ser notado, mas de muito valor para nós:

O homem confiava que Jesus podia/queria curar o menino.

O problema é que essa confiança era pequena, não muito firme.

Mas em vez de entrar em pânico, mostra humildade e abre o jogo:

“Senhor, infelizmente, se depender do tamanho da minha fé nada será feito. Porque, eu creio, sim, mas pouco!”

 

Então dá um passo importante e mostra confiança pela segunda vez no poder de Cristo. E mostrou que tinha fé que Cristo poderia lhe aumentar a fé.

Obviamente Jesus ajudou o homem no seu grau de fé, pois sentiu-se satisfeito o suficiente para realizar o milagre.

 

v.25-27: Com muito poder, Jesus expulsa o demônio e o menino fica totalmente curado.

Lc 9.43: E todos ficaram maravilhados ante a majestade (grandeza) DE DEUS.

Não “grandeza de Jesus”, mas de Deus (Pai) a quem Jesus sempre exaltava.

 

Mas a história não termina aqui:

v.28 (Mt 17.19-21)

Discípulos, que tentaram e fracassaram, queria saber porque haviam fracassado.

Jesus dá dois motivos (um citado por Mateus e o outro por Marcos);

1) Mateus: Por causa da pequenez da vossa fé

Talvez autoconfiantes por conta do poder que receberam de Jesus para expulsar demônios, não consultaram devidamente a Deus (como Marcos ressaltou).

Acabaram sem estar afinados com Deus para aquele milagre em particular.

É essa falta de sintonia, de intimidade com Deus, que Jesus chamou de pequena fé. Bastaria um pouco disso, para mover o ENORME poder de Deus à disposição de quem crê nEle.

 

Será que essa afirmação de que NADA VOS SERÁ IMPOSSÍVEL, não é muito forte? Será que é assim mesmo? Sim, é exatamente assim mesmo.

A questão é que normalmente não temos DA PARTE DE DEUS uma fé específica em alguma coisa particular.

O assunto é complexo, mas da nossa parte falta intimidade com Deus para isso.

Ex.: Não tenho fé de que se orar, vai surgir uma coberta aqui ao lado.

Mas se eu tivesse tal intimidade com Deus e Ele quisesse colocar no meu coração essa certeza, com certeza iria acontecer.

Ex: Elias orou para não chover e não choveu. Depois orou para chover, e choveu. Por que? Porque Deus colocou no coração dele essa fé.

 

Segundo motivo do fracasso dos apóstolos:

2) Marcos – v. 29: Esta casta não pode sair senão por meio de oração [e jejum:]

Os discípulos falharam em deixar de orar de maneira séria e intensa e consultar a Deus sobre aquele assunto. (Ou talvez estavam falhando na oração do dia a dia).

(Jejum: não consta nos melhores textos. Parece que Jesus não encorajava que os discípulos a jejuar enquanto Ele estivesse na terra).

 

Em suma, o que faço com o tamanho da minha fé?

a. Busque incessantemente aumentar sua intimidade com Deus, inclusive orando.

b. Reconheça que tem fé pequena e peça que Deus a aumente - tanto nas coisas reveladas na Bíblia, como na convicção de algo pontual que Deus queira fazer com você.

 

Que Deus nos abençoe. Amém

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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