2Co 10.13-18 53 minutos 13/09/2015
Mauro Clark
Na pregação passada, ao falar do v.8, comentei que Paulo preveniu que faria longa defesa da sua autoridade apostólica, recebida diretamente do Senhor Jesus.
E não se envergonharia ou se incomodaria se disserem que ele só queria intimidar os irmãos por carta.
Interessante é que ele ainda discorre sobre o fato de que vai se gloriar - como se quisesse adiar por estar muito constrangido em ter de fazer isto.
v. 13-16
Resumo deste trecho:
Além das críticas sobre o caráter de Paulo e a legitimidade do trabalho dele, ele estava sendo criticado quanto aos lugares físicos onde atuava, como se estivesse se metendo em trabalho de outros.
Nesse caso, é como se ele tivesse feito mal indo a Corinto.
É incrível o cinismo dos opositores. Esses, sim, haviam entrado no trabalho dele, sem qualquer legitimidade ou autorização da parte de Deus.
Paulo se defende com alguns argumentos:
* Se gabaria do seu ministério não de maneira vaga, mas precisa, objetiva, palpável.
* Ele tinha uma esfera de ação bem definida, demarcada pelo próprio Deus e respeitava rigorosamente esses limites.
esfera de ação: κανων kanon (uma cana reta, i.e. vara): régua, padrão, área de ação
* Esse limite alcançava os coríntios: se ele chegou a Corinto foi porque Deus mandou.
* O objetivo único dele era levar o Evangelho de Cristo
* Ele não entrava no trabalhos de outro e muito menos se gloriava no trabalho de outros
* Se eles aumentassem na fé, se tornassem espiritualmente mais maduros, o deixariam liberado para outros campos, além das fronteiras deles.
E mesmo que esses campos já tivessem sido trabalhados, ele não se gabaria desses trabalhos alheios. Como sempre, o grande objetivo era levar o Evangelho.
Lições:
1. Tem gente que rapidamente se identifica como “evangélico”.
Mas logo gagueja quando se pergunta qual a igreja a pertence, ou é membro. Ou quando se indaga sobre o que faz na igreja, que trabalho recebeu de Cristo para realizar.
Se é o seu caso, procure definir bem sua igreja, seus dons, seu trabalho.
2. Seja ético no seu trabalho cristão, quer seja abrangente ou pequeno e concentrado.
3. Sempre examine: meu ministério tem como objetivo central disseminar o Evangelho?
Pode ser para quem nunca ouviu, ou para crentes maduros, não importa.
O verdadeiro trabalho para Cristo só tem sentido se tiver esse foco.
Voltando:
Desde o v. 13, ele usou 3 vezes o verbo “gloriar-se”, sempre tendo em vista o ministério.
Parece que, de tanto falar no assunto, procurou estabelecer um critério saudável para quem quisesse se gabar - ou ele próprio ou os seus opositores.
É quando escreve o famosíssimo v.17:
v.17
Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.
Interessante: do jeito a Bíblia é taxativa “não mintais”, “não cobiceis”, bem poderia ser “não vos glorieis”.
Mas não é assim, há um maneira de se gabar que é permitida.
Em princípio, isso é bom, pois o ser humano gosta de se gabar.
O problema é que, como tudo o que faz, há pecado misturado.
E quase sempre se gaba de maneira errada, por motivos errados, de coisas erradas, com propósitos errados.
Claro que isso é ruim, como o próprio Paulo denuncia
Mas o gabar-se de modo correto não é mal.
Não é errado gabar-se no sentido de falar de algo ou mostrar algo que você tem, com o propósito de glorificar a Deus por isso e edificar outros.
Nesse sentido, o próprio Deus se gaba... e muito!
Ele fala abundantemente dos próprios atributos.
Só que, veja duas coisas:
1. Ele fala absolutamente a verdade e do que lhe é próprio (Soberano, Santo, Criador)
2. É muito benéfico para as pessoas conhecerem as maravilhas do Deus que as criou!
É para o bem delas que Deus se gloria.
Ora, qualquer um que queira se gabar dentro dessas características é não somente permitido, mas ESTIMULADO a fazer.
Paulo então resume tudo na expressão “no Senhor”. Quer se gabar? Gabe-se no Senhor!
Indo um pouco mais fundo, o que seria exatamente “gabar-se no Senhor”?
Tres exemplos do que é:
a. 1Co 1.26-31
Gloriar-se no Senhor é reconhecer humildemente que não é nada, é fraco, é desprezível e que foi graciosamente escolhido por Deus para ser dEle em Cristo, que é a própria sabedoria, justiça, é Santo e tornou-o o nosso grande Redentor.
E se nos tornamos intimamente ligados com Cristo a ponto de também termos nos tornado santos, sábios e praticantes da justiça, é pela pura graça de Deus.
E se adquirimos poder para envergonhar os sábios e os fortes, e para reduzir a nada as que são alguma coisa, é apenas na condição de instrumentos nas mãos de Deus que somos assim. E, sempre é bom repetir, porque fomos ESCOLHIDOS para isso.
Em suma, gabar-se no Senhor é reconhecer que tudo o que você tem de bom foi Deus quem deu e quando você expõe alguma virtude, é para a glória de Deus e para o benefício de quem ouve.
b. Jr 9.23-24
Gloriar-se no Senhor é reconhecer que o fato de conhecer pessoalmente a Deus é o que a pessoa tem de mais valioso, de mais digno de ser gabado, mais do que qualquer virtude ou condição.
c. Rm 5.10-11
Gloriar-se no Senhor é ter absoluta convicção que tudo que nós somos é porque Cristo se tornou o nosso mediador, nos reconciliou com Deus e nos salvou na cruz (Gl 6.14)
Tres exemplos do que NÃO é gloriar-se no Senhor:
a. Arrogância espiritual, como que imune ao pecado: 1Co 5.6
b. Arrogância de fazer planos futuros à parte de Deus: Tg 4.16
c.: Veja o v.18:
v.18
... não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva.
louvar: gr. exibir, recomendar.
Ou seja, quem recomenda a si próprio não está se gloriando no Senhor.
Quem a si mesmo se recomenda, mesmo que esteja falando de virtudes que realmente têm, está com o objetivo de jogar o foco sobre si mesmo.
Isso é uma forma de arrogância e obviamente não aprovado, agradável.
Esse era exatamente o caso dos críticos de Paulo.
Agora, quando é o Senhor quem recomenda, ali está alguém realmente aprovado.
Mas como saber se alguém é recomendado pelo Senhor se não ouvimos a Sua voz?
Checar o comportamento (obras, palavras, vida) de duas maneiras:
a. Pelas Escrituras
b. Pelo testemunho dos irmãos
Em suma:
* Procure definir de modo mais preciso possível a(s) sua(s) atividade(s) para Cristo.
* Seja ético, especialmente no seu trabalho cristão
* Seja muitíssimo cuidadoso ao falar ou exibir as suas virtudes
* Sempre credite a Deus por tudo o que você tem de positivo
* Sempre envolva Cristo no seu relacionamento com o Pai
* Deixe que Deus lhe recomende (pela Bíblia e pela sua igreja)
E você, amigo, se você tem a mínima vontade de chegar a Deus, deixe o orgulho e a vaidade de lado e corra a Cristo e humildemente jogue-se aos pés dEle!
Que Deus nos abençoe. Amém!