Gl 5.22 61 minutos 03/02/2018
Mauro Clark
Um casamento em paz - Frutos do Espírito no casamento - 2/9
Gl 5.22
Mas o fruto do Espírito é... paz
A que tipo de paz o texto se refere?
Não é exatamente paz com Deus, pois a paz com Deus é estabelecida no momento da conversão, quando exercemos fé em Cristo e somos justificados: Rm 5.1.
Nesse exato momento cessa a nossa situação de guerra contra Deus, em que estávamos desde o nascimento ou mesmo antes dele.
O texto Gl 5.22-23 fala de várias características benignas ou virtudes que são transmitidas pelo Espírito Santo ao crente, sempre no sentido de aperfeiçoá-lo, como que fazendo limpeza na sua personalidade, tirando o que não presta, o que é carnal e não agrada a Deus, e dando características do agrado de Deus.
À medida que vai recebendo cada parte desse fruto, o crente vai se tornando mais espiritual, mais parecido com Cristo.
Em suma, o fruto do Espírito trata de trabalho interno de Deus na pessoa do crente.
Assim, a PAZ referida aqui é, antes de tudo, uma PAZ INTERNA, um estado de alma.
Evidentemente essa paz interior é consequência direta da paz que passou a ter com Deus no momento da conversão.
Antes da fé, todos estávamos em guerra contra Deus e isso trazia graves sequelas para o nosso ser: entre outras, não tínhamos entendimento das coisas espirituais, incluindo os aspectos existenciais da nossa vida.
Por isso tantas pessoas falam em se encontrar, em acharem um sentido para a própria vida, etc.
O homem natural tem um vulcão dentro de si, onde ardem as chamas da incerteza, das dúvidas não respondidas, das indagações mais profundas, do pavor da morte, do medo do desconhecido:
* Não sabe quem é, de onde vem, o seu papel no mundo, tem uma vaga noção de Deus e uma necessidade intrínseca de adorá-Lo, mas não sabe como nem quer adorá-Lo.
* Sabe que precisa amar as pessoas, mas não quer, e quando quer, não consegue.
* Sabe que é errado ser desonesto, mas muitos são com ele e termina sendo com muitos.
* Sabe que deve ser fiel à mulher, mas por outro lado a vida é curta e precisa ser aproveitada: terrível choque de sentimentos.
* Promete a si que não fará mais o que acha errado, mas logo repete.
* Sente falta do Seu Criador, mas não reconhece. E, se reconhece, procura buscá-Lo de modo errado e não O encontra.
Tudo é confuso dentro dele, gera grande irrequietude, instabilidade, falta de paz.
Este homem se converte, imediatamente tem o seu relacionamento reatado com Deus. Acabou-se a guerra. Paz com Deus. Muitas das respostas começam a ser respondidas. Encontra um rumo para a vida, uma razão de ser para a própria existência.
Começa a crescer no conhecimento de Cristo e isto lhe fascina.
Que prazer maravilhoso, que antes não conhecia.
A neblina das dúvidas e da confusão vai desaparecendo com a vinda do sol da verdade. É a paz invadindo aquele coração antes tão conturbado. É a paz de Cristo. É a paz do Espírito.
Em poucas palavras, é assim que eu explico a paz como fruto do Espírito.
Mas o EFEITO dessa paz não é apenas uma sensação de tranquilidade interna, um conforto íntimo. Vai muito além. Passa do interno para o externo, do coração para a ação.
Quem está em paz com Deus e consigo mesmo, com certeza desejará estender essa paz para as pessoas ao seu redor.
E se tornará um pacificador - como Cristo disse que todo discípulo dEle seria.
O crente, em princípio, deve ser alguém não apenas avesso a briga, mas que se empenha em ter paz com quem é possível.
E mais: promover a paz entre pessoas.
Isso, em todas as áreas e circunstâncias da vida. Inclusive e especialmente, o casamento!
- Mas pastor, não é perder tempo falar em paz no casamento? Ora, se é um relacionamento em que os dois se amam, em que há carinho e sexo livremente, cada um dedicou toda a sua vida para cuidar do outro até na doença, ainda precisa pregar e incentivar a paz? É claro que a paz vai reinar absoluta naquele lar!
Infelizmente, a realidade é que até quem casou há uma semana sabe que essas palavras são bonitas, mas... teóricas.
Não preciso gastar tempo mostrando pela Bíblia que ainda temos pecado dentro e, portanto, frequentemente agimos de maneira carnal, incluindo brigando e guerreando.
O casamento não é e nem poderia ser exceção, especialmente porque é um relacionamento de enorme intensidade, sujeito a desgastes dia após dia, mês após mês, ano após ano.
Mas, tratando-se do casamento, ainda há um motivo bíblico para que nos preocupemos em insistir sobre a necessidade de paz no lar: Gn 3.16
Não sabemos bem se a 2ª. parte é uma ordem ou apenas predição.
Sem entrar em detalhes, resumo:
o teu desejo será para o teu marido: o original hebraico não é exatamente “desejar, mas “voltar-se ou virar-se para”. Como a mulher se afastou de Deus e quis ser independente dEle, agora não estaria livre para realizar os seus próprios desejos, teria de estar constantemente se voltando para o marido, como que subordinada a ele.
... e ele te governará: pode ser um mandamento, no sentido do marido ser o cabeça da mulher (doutrina desenvolvida no NT).
Pode ser apenas uma predição de que marido iria abusar da mulher, explorar, humilhar (como de fato tem acontecido ao longo desses 2000 anos, até há pouco tempo no Brasil e no Ocidente e mesmo atualmente em muitos países do mundo).
Seja como for, em qualquer hipótese uma coisa é certa: o texto prevê enormes tensões no casamento. Isso desde o tempo de Adão!
É bom estarmos sempre lembrados disso, não para nos desanimarmos, mas para:
1) Nos conscientizarmos que faz parte do casamento os conflitos e não sermos pegos de surpresa (o pior inimigo é o que ataca de surpresa)
2) Nos tornarmos exímios desarmadores de bombas, apagadores de incêndio, pacificadores, dentro no nosso casamento.
Algumas sugestões práticas para que a PAZ no nosso relacionamento conjugal seja semeada com mais eficiência e se torne uma realidade mais presente em nossos lares:
1. Valorizar a paz no casamento
Nunca assumir como coisa natural. Se há paz, dar graças a Deus, comentar com o outro, ficando ambos bem conscientes de que estão gozando grande benção. E se concentrar em manter essa paz.
2. Quando a paz for quebrada, esforce-se para não deixar passar de uma pequena desavença, sem se transformar numa guerra atômica.
Algumas vezes um se aproveita para descarregar tudo ao menor sinal de briga.
O outro cai na armadilha e segue o mesmo rumo. Resultado: em poucos segundos, o que antes era um campo de paz, transformou-se em palco de uma guerra feia.
Quanto menos tempo durar a guerra, melhor.
Os esforços diplomáticos de ambos devem ser intensos, no sentido de fazer voltar a paz. Dará trabalho (conversas, entendimentos, acordos), mas vale a pena: 1 Pe 3.11
3. Nas brigas, não permita que outros aliados venham dar força a um dos lados.
Refiro-me a filhos, sogra, parente, etc. Isso é atiçar lenha na fogueira. Resolvam as suas brigas a dois, em quarto fechado.
(Ressalva: quando ambos concordam em pedir opinião de terceiros).
4. Se tiver de lutar, lute limpo.
Até os homens pecadores e gananciosos que fazem as guerras, têm as suas éticas.
Por que nós não teremos?
Muitas vezes o maior obstáculo à paz não é nem o assunto em si que levou à discussão, mas a maneira como um ou os dois se comportaram.
Não use golpes baixos, como cinismo, ironia, mentira, risos sarcásticos, agressão pessoal ao cônjuge ao alguém da família dele. Seja franco, sincero, direto, palavras elegantes.
Ex.: Casal está arranhado, vai dialogar. Na 2ª frase, a mulher diz: “Você acha que eu agi assim, como, aliás, você adora fazer? Não sou idiota, não”.
O desentendimento virou briga feia, e rápido. Uma palavra estraga tudo!
Se a paz tiver de ser ameaçada, que seja pelo menos por algo sério, que valha a pena discutir para se entenderem. Não por um motivo tolo. Infelizmente, muitas vezes é exatamente o que acontece.
5. Tenha a humildade de ser o primeiro a levantar a bandeira branca
Isso vale quer você tenha sido o culpado ou não. (Aliás, geralmente ambos são culpados).
Tome a iniciativa de procurar o entendimento.
Mesmo que você tenha sido o ofendido, não é humilhante procurar a paz.
Não deixe que o diabo lhe leve a ficar remoendo e supervalorizando as ofensas recebidas (cuidado com a autoestima e auto piedade).
Todos somos pecadores, não temos motivo para ficar todo sensíveis e doídos porque sofremos uma agressão. Somos mestres em agredir também.
Basta essa atitude – HUMILDADE – para raramente a paz ser abalada num casamento.
6. Seja rápido no pedir perdão e no perdoar
Quando pede perdão, você reconhece que é fraco e pecador.
Quando perdoa, você reconhece que ama o outro mesmo com a fraqueza dele e que a ofensa não lhe perturbou tanto (mansidão).
Ambas as atitudes são balde de água fria numa briga.
Termino com Jo 16.33a e 1Ts 5.13b
Que no seu lar essas duas realidades se cumpram: abundância da paz de Cristo dentro de cada cônjuge, transbordando ao ponto de influenciar poderosamente o relacionamento conjugal. E que ambos, marido e mulher, vivam em paz um com o outro!
Que Deus nos abençoe. Amém