Ec 8.5-9 58 minutos 28/11/2021
Mauro Clark
Salomão dispara uma série de afirmações curtas e independentes entre si (algumas repetições do que já falara antes, mas sempre acrescentando algo novo).
Eis a minha sugestão de separar as frases (pouco diferente da divisão dos versículos):
v.5b-6a
... e o coração do sábio conhece o tempo e o modo certo de agir. Porque há um tempo e um modo para todo propósito...
Interessante: aqui ele repete 3.1, mas com um detalhe valioso: nessa questão de tempos e propósitos, o sábio tem a vantagem enorme de saber quando agir e como agir em cada situação, com as respectivas peculiaridades.
Não que saiba tudo, mas o suficiente para, pelo menos, ser prudente no seu caminhar – num contraste em relação aos não sábios.
v.6b-7
... porque é grande o mal que pesa sobre o ser humano. Ninguém sabe o que vai acontecer. Pois quem poderá lhe dizer o que vai acontecer?
Acho que esse mal a que se refere é o que vem a seguir, ou seja, a total incapacidade do ser humano de saber o que irá acontecer.
... quem poderá ... dizer o que vai acontecer?: retórico, com resposta óbvia: Ninguém!
Então não é a cartomante? Não! E nem o espíritos dos mortos? Não!
Esta é uma passagem que combate o predizer do futuro pessoal de cada um.
Interessante é que a Bíblia chama claramente de mal essa incapacidade humana.
Como será sem esse mal na vida eterna? Saberemos o nosso futuro pessoal? Não sei.
v.8
Não há ninguém que tenha domínio sobre o espírito para o reter; nem tampouco quem tenha poder sobre o dia da morte.
espírito: heb: espírito, vento
RA: Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter
Se for vento, seria semelhante a Pv 27.16 e afirmação seguinte sobre a falta de poder sobre o dia da morte seria um segundo exemplo de incapacidade humana.
Se for “espírito” a incapacidade sobre o dia da morte seria quase uma repetição da primeira, para ênfase.
Ninguém pode impedir o espírito de partir, de adiar o dia marcado para cada um morrer.
Seja como for, quase todos os seres humanos gostariam de poder adiar o dia da morte.
E é curioso como Salomão qualifica isso: uma luta!
Não há como escapar desse combate...
RA: ... nem há tréguas nesta peleja...
Pensando bem, é exatamente isso! A ansiedade por mais um dia de vida é tremenda, desde o dia do nascimento até o dia da morte. É uma luta terrível!
Há maneiras corretas de lutar (procura sadia de sobreviver), mas também maneiras extremadas, exageradas, desesperadas, que chegam a ser erradas e até ilegais.
E os limites não são claros: Entuba ou não um ente querido? Toma remédio não aprovado pela ANVISA? Para uns “sim”, outros “não”.
... e a maldade não poderá livrar os que a praticam.
Difícil. Talvez lembra que a morte é consequência da maldade e ninguém escapará dela.
Ou apenas dizendo que procurar escapar de alguma situação fazendo o mal, não é solução, pois a maldade será cobrada.
v.9a
Tudo isso vi quando comecei a pensar no que se faz debaixo do sol.
Tudo isso: ou é um resumo do que falou até aqui ou do que ainda falará à frente.
Na prática, pouca diferença faz, pois Salomão, já passando da metade do livro, começou a repetir vários pontos do que falara antes sobre “o que se faz debaixo do sol”, ou seja, a vida na terra. E esses pontos eram todos negativos.
E mesmo os pontos que ainda serão apresentados pela primeira vez, também serão negativos.
Em suma, já ficou bem claro para o leitor que a vida aqui, à parte das coisas acima do sol, à parte de Deus, é sem sentido, confuso, cruel, etc.
Mais uma observação de Salomão:
v.9b
Há um tempo em que uma pessoa tem domínio sobre outra pessoa, para seu próprio mal.
RA: há tempo em que um homem tem domínio sobre outro homem, para arruiná-lo.
Salomão já havia falado sobre opressão
5.8: O ser humano é explorador nato, explora quem pode: um rico é explorado pelo mais rico, um poderoso, pelo mais poderoso e o pobre é explorado por todos.
7.7: Embora haja níveis de opressão de um povo, comunidade, grupo, ou um só indivíduo, a opressão é generalizada no mundo.
Até um sábio, se oprimido, perderá sua lucidez, e, de alguma maneira, ficará perturbado.
A humanidade sofre tremendamente com o mal da opressão de uns sobre os outros.
Agora volta ao assunto de opressão, com ênfase num aspecto interessante e que serve de consolo: por mais que seja danosa (ao oprimido – como pensa a maioria, ou ao próprio opressor – como pensam outros), em princípio, toda opressão é provisória.
Irmão mais velho opressor, colegas na escola, chefe cruel, governante ditatorial etc.
Lição óbvia: espere que passa!
Certamente se alguém pode escapar da opressão, que escape!
Mas não podendo, a melhor opção é ter paciência e aguardar.
Exceção: opressão pelo cônjuge. Como casamento é para toda a vida, uma opressão ininterrupta na passará senão pela separação – que é exatamente o que acontece, mesmo a contragosto do oprimido, mas por pura falta de condição de suportar.
Mesmo sendo óbvio, sempre é bom lembrar: nunca oprima ninguém!
Que Deus nos abençoe. Amém