PREGAÇÃO

Senhor, como traço os meus limites? (Série ECLESIASTES 28)

Ec 7.15-18      74 minutos      17/10/2021         

Mauro Clark


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Em pregação recente de Eclesiastes sobre o suborno, falei: Não seja muito frouxo ao estabelecer seus limites e nem muito rigoroso, talvez saindo da própria realidade.

E fiquei de ver isso nesse trecho de hoje, aliás, dos mais difíceis do livro.

Há muitas variações nas interpretações. Apresentarei a minha sugestão:

 

v.15

Tudo isto vi nos dias da minha vaidade...

Talvez se refira ao período quando vivia sem limites, experimentando a vida, tentando compreendê-la.

Aqui se refere a duas coisas que testemunhou e que parecem ferir o razoável:

 

I) ... há justos que perecem na sua justiça

Perecer: hebr.: lit.: morrer, ser exterminado; fig: desaparecer

Uma ideia é que o justo, pereceu exatamente por causa da sua justiça. Ou seja, o fato de ser correto foi o causador da sua ruína.

Outros pensam (como eu) que o justo pereceu não exatamente por causa da sua justiça, mas apesar de ter um comportamento correto, como interpreta a NVI:

NVI: ... um justo que morreu apesar da sua justiça,

 

Seja  como for, o fato é que justiça não garante nenhum tipo de segurança nesta terra.

Claro que o tempo de Salomão era bem diferente, quando a morte era decretada com muito mais facilidade do que hoje.

Mesmo assim, não é dificil aplicarmos em alguns exemplos hoje:

* Cidadãos inocentes presos injustamente. (Caso extremo: pena de morte, onde há).

* Pessoas corretas punidas por ferir alguma lei não razoável (multa por furar sinal vermelho alta noite em lugar perigoso).

* Pessoas honestas que despertam a ira dos colegas por se recusarem a agir mal.

* Ciadadãos decentes que são alvos de complô.

 

II) ... e há ímpios que prolongam os seus dias na sua maldade.

RA:  ... e há perverso que prolonga os seus dias na sua perversidade.

NVI: ... e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade.

Mesmo raciocínio, só que ao contrário:

* Bandidos que subornam autoridades para agirem livremente

* Corruptos que escapam de prisões

* Exploradores e desonestos que se locumpletam por serem amigos de poderosos

* Mentirosos que não apenas mentem, mas espalham mentiras

* ... e a lista não teria fim

Como falei, são fatos lamentáveis, mas é a realidade.

 

Após dizer o que viu, Salomão como que apresenta uma solução.

v.16

Não seja demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que você destruiria a si mesmo?
Pessoalmente vejo aqui não um anúncio solene e formal (tipo:Ec 12.13).
Creio ser apenas uma maneira de dizer, num sentido bem geral, algo assim:

Já que o mundo funciona de modo injusto e cruelmente pragmático, os extremos no comportamento não dão bons resultados. Vou então mostrar uma maneira prática de conviver com isso:  

Ser exageradamente correto, sábio ou justo (ultra detalhista, altamente cri-cri, certinho ao ponto de irritar, exagerado no cumprimento de cada detalhe das normas) pode resultar na própria destruição ou prejuízo (como ele observado no v.15).

 

De fato, muitas leis são imperfeitas, feitas por legisladores desonestos, interesseiros etc.

As pessoas obviamente são cheias de más intenções (mesmo misturadas com boas).

Querer ser perfeito em tudo irá contrariar interesses, criar inimizades, resistências, até mesmo perseguição legal!

Quantas histórias há de injustiça e maldade contra pessoas decentes?

Na própria Bíblia, há várias. Exemplo: Acabe e Nabote.

Há também leis antigas, num contexto hoje sem sentido, e que não foram revogadas.

É patético e impraticável praticar um lei dessa.

 

Ouvindo até aqui, alguém poderia reagir:

De fato, querer ser correto demais nesta vida torta não dá certo, é até perigoso.

Então, vou praticar o mal. E com gosto. O mundo é maldoso, injusto, cruel? Serei igual. Vamos ser bem parecidos, vou me dar muito bem!

 

Mas Salomão alerta que essa ideia também não funciona:

v.17: Não seja demasiadamente perverso, nem seja tolo; por que você morreria antes da sua hora?
RA: 17 Não sejas demasiadamente perverso, nem sejas louco; por que morrerias fora do teu tempo?

NVI: Não seja demasiadamente ímpio e não seja tolo; por que morrer antes do tempo?

Ser perverso como princípio, praticar maldade como algo normal, também não funciona.

Mesmo sendo um mundo perdido, há cidadãos decentes, há leis corretas, há polícia, há alguma resistência contra o mal, há certa medida de justiça.

Qualquer um que resolve praticar abertamente a impiedade e faz da deliquência a sua rotina, rapidamente será resistido, processado, preso, destruido (até mesmo morto – legalmente, se há pena de morte ou ilegalamente – comum em qualquer lugar do mundo).

 

E Salomão dá uma solução “salomônica”, pragmática:

18a: Bom é que você retenha isto e também não abra mão daquilo...
RA: Bom é que retenhas isto e também daquilo não retires a mão...

NVI: É bom reter uma coisa e não abrir mão da outra...

À primeira vista parece aconselhar que o bom é reter a justiça, correção, mas sem exagero e, ao mesmo tempo, é bom cometer alguma impiedade, também sem exagero.

Mas como essa é uma conclusão esquisita e estranha aos princípios bíblicos, muitos pensam que Salomão estava sendo cínico, irônico, não falando conforme pensava.

 

Minha sugestão: pelo contexto, acho que essa frase é apenas uma repetição do que falou acima, só que com outras palavras e em forma de conclusão.

Ou seja: embora esteja implícito que ser correto é uma boa virtude, a triste realidade é que ser correto demais é impraticável, não funciona.

Exemplos para hoje:

* Não assinar nenhum documento de 20 páginas que termina com “Li e concordo”, sem de fato ter lido cada vírgula.

* Na Declaração do IR, insistir em registrar como receita até os presentes em dinheiro.

* Não comprar um algodão doce sem recolher o INSS do vendedor ambultante

* Não comprar um clipe sem Nota Fiscal.

* Não ultrapassar um quilômetro além da velocidade permitida na placa do trânsito.

 

Em cada situação dessa, foi cometido algum delito? A rigor, sim. Bem pequeno, mas foi!

Pois é isso o que acho que Salomão está dizendo:

É bom que você retenha isto (a justiça, retidão), mas sem exagero a ponto de ficar fora da realidade.

Por outro lado, já que é quase impossível deixar de praticar alguma irregularidade (formalmente caracterizado como tolice ou perversiade, com algum exagero) o melhor é  assumir que de vez em quando você é obrigado a ir por essa caminho não ideal. Mas não abuse e nem faça disso um modo de vida.

Ou seja, creio que é um conselho geral, altamente pragmático, aplicável tanto na época de Salomão como na nossa, com diferenças de situações e intensidade, por conta do tempo e da cultura.

 

Penso que, até aqui, essas considerações e conselho de Salomão são para todos.

Agora, no finalzinho do texto, acho que vem vem a chave de tudo isso, para o crente.

 

v.18b:

... pois quem teme a Deus sai ileso de tudo isto.

Salomão mudou de um grupo geral para um particular, os que temem a Deus (crentes).

E esses têm uma vantagem enorme sobre os outros: mesmo enfrentando o mesmo tipo de dilemas, sairão ilesos.

 

Sair ileso: hebr.: basicamente sair ou vir de, com vários significados derivados.

Um deles é escapar, ou sair são e salvo.

Ou seja, enquanto os que não temem a Deus dificilmente conseguirão agir com equilíbrio no trato dessas tristes realidades embaixo do sol, os que temem a Deus conseguirão!

 

Duas perguntas cruciais:

1. O que teme a Deus sai ileso diante de quem?

De si mesmo? Dos outros? Acho que a resposta é óbvia: diante de Deus, ou seja, dAquele a Quem ele teme.

 

2. Por que o que teme a Deus sairá ileso diante de Deus nesses impasses da vida?

Porque tem comunhão com Deus e pode colocar diante dEle essas questões, pedir por orientação do Espírito Santo e, assim, seguir a própria consciência, consciência essa santificada pela habitação do Espírito Santo.

 

Mas isso é garantia absoluta de que o crente saberá em todas as ocasiões os limites exatos em que agradarão a Deus?

Não! Mas no caso de erro ou mesmo pecado, Deus conhece a atitude daquele crente, e sabe que ele tentou acertar e agradá-Lo.

E mesmo que venha a ter de disciplinar o crente, levará isso em consideração e será uma disciplina cheia de compaixão, compreensão e até mesmo carinho de Deus.

Para mim, isso é sair ileso das armadilhas dessa vida!

Então, você, crente, sempre coloque diante de Deus essas questões difíceis no proceder diário, trace seus limites diante dEle, diga que não quer magoá-Lo e, como temor e tremor, siga em frente!

Que Deus nos abençoe. Amém! 

Mauro Clark, 72 anos, pastor, pregador e conferencista, foi consagrado ao ministério em 1987. Iniciou em 2008 a Igreja Batista Luz do Mundo, que adota a posição Batista Regular. Mauro Clark é também escritor. Produziu artigos em jornal por dez anos e tem escrito vários livros de orientação e edificação cristã. Em 2004 instituiu o Ministério Falando de Cristo.
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