2Co 6.1-2 55 minutos 01/03/2015
Mauro Clark
No v. 20 Paulo fez o seguinte apelo:
Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus
Na sequencia do texto, ele repete o apelo, só que mudando algumas coisas e introduzindo um elemento crucial para quem ouve o Evangelho.
v.1
E nós, na qualidade de COOPERADORES com ele...
Antes, Paulo falou que os crentes são embaixadores em nome de Cristo - já explicamos.
Agora, introduz um NOVO CONCEITO quanto à relação dos crentes com Deus.
cooperadores: συνεργεω sunergeo: sun (unido com) + ergow: trabalho, tarefa = trabalhar junto, ajudar no trabalho, ser parceiro no labor, juntar as forças com, ajudar.
Esse termo Paulo usou para os seus companheiros no trabalho de Deus:
Epafrodito: Fp 2.25; Filemon: Fm 1; Tito: 2Co 8.23
Veja o passo que Paulo dá aqui: antes disse que somos embaixadores de Cristo.
É uma função honrosa, sem dúvida, mas designada por um superior a quem temos de prestar contas. Há uma grande distância entre o embaixador e aquele que o envia.
Agora o termo demonstra muito mais intimidade.
Somos unidos com Deus num mesmo trabalho. Ele trabalha e nós O “ajudamos”.
Essa é uma noção belíssima!
Especialmente quando somos informados pelo próprio Jesus que o grande cooperador com o Pai é Ele próprio:
Jo 5.17: Meu Pai trabalha até agora e eu trabalho também
... trabalha: εργαζομαι ergazomai: variação de ergow, trabalho, visto acima.
Como se Jesus tivesse dito: “Todos vocês que se reconciliaram com Deus por meu intermédio, juntem-se a mim, no trabalho que faço juntamente com o Pai. Vamos todos trabalhar juntos!”
Na realidade, nosso texto não é o único em que crentes são chamados de cooperadores de Deus: 1Co 3.9
Mas o que Paulo faz na qualidade de cooperador com Deus?
... também vos exortamos...
... TAMBÉM vos exortamos: “Além de exortação anterior, de que se reconcilieis com Deus, temos mais uma exortação”:
... que não recebais em vão a graça de Deus
Antes de tudo, é importante esclarecer que esta passagem NÃO significa que é possível alguém receber a graça de fé, exercê-la em Cristo, ser salvo e depois verificar que tudo isso foi em vão, não serviu e a pessoa voltou a ser perdida.
A salvação é um novo nascimento, irreversível. A graça salvadora de Deus é irresistível!
Para saber O QUE significa, é importante entender o que significam duas coisas:
1. “graça de Deus” neste contexto.
A proposta de reconciliar-se com o pecador via Cristo, ou seja, a oferta do Evangelho, a possibilidade de salvação por tudo o que Cristo fez.
2. receber em vão
O que significa exatamente “receber em vão”? Há várias interpretações.
Penso o seguinte:
receber: δεχομαι dechomai: sentido básico é mesmo “receber”, segurar, pegar.
Mas tem vários sentidos e nuances, inclusive “aprender” ou “acatar algo que ouviu”.
Em suma: entendo que aqui, “receber em vão a graça de Deus” é ouvir a oferta de salvação, até mesmo com atenção e respeito, fazer uma decisão, tornar-se praticante, envolver-se com a igreja, mas não acatar no coração, não tomar para si, não se beneficiar com ela. Em suma, não passar pelo processo completo de transformação.
Paulo está se dirigindo a crentes ou a não crentes?
Acho que esta pergunta simplesmente não estava na mente dele.
Embora a carta fosse para a igreja, ele bem sabia que fazer parte de numa igreja cristã não significa ser salvo.
Que cada um refletisse sobre essa advertência conforme a própria situação.
A Bíblia fala de pessoas que aparentemente receberam a graça de Deus em vão:
Himeneu (1Tm 1.20; 2Tm 2.17), o mágico Simão (At 8.9-24), Hb 6.4-8
Jesus falou disso na Parábola do Semeador: dos quatro tipos de solo, em dois a semente germina mas não se desenvolve, morre logo.
Esse é autoexame que o crente deve fazer durante toda a vida.
Paulo agora aborda outro aspecto do apelo, um fator fundamental: o tempo.
Um convite sem prazo é solto, indefinido, quase sem sentido.
Imagine um convite de casamento sem a data!
Ou um convite para jantar na casa de um amigo, sem dizer o dia.
É exatamente o que Paulo introduz agora.
Primeiro faz um apelo vigoroso e duplo - que o ouvinte se reconcilie com Deus e que não receba em vão a graça do Evangelho.
Agora ele precisa indicar a data marcada no convite.
Quem marca a data é quem faz o convite.
E como Deus é o autor do convite para que o pecador se reconcilie com Ele, seria o caso de perguntar:
- Mas Paulo, por quanto tempo devo me preparar para essa reconciliação. Ou: quando Deus estará disposto a realmente efetivar Sua reconciliação comigo?
Qual o prazo do convite?
v.2
Ele poderia responder pulando a citação de Is 49.8 e ir diretamente para:
eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação
Mas ele quis basear sua resposta numa passagem do AT, Is 49.8:
Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação
Com base no AT, Paulo garante que Deus socorre a quem clama por ele e livra da morte do momento certo.
Detalhe: pelo contexto, é Deus falando com o Servo de Deus, o Messias!
Esta é uma passagem muito difícil, não apenas pela interpretação do próprio texto de Isaias, mas como explicar a citação de Paulo neste exato contexto.
De maneira geral, acham que Deus garante ao Messias que o apoiaria quando viesse encarnado, na missão de salvar o mundo.
E essa promessa feita a Cristo é extensiva a nós, os beneficiários da salvação.
Tenho uma sugestão pessoal para interpretar:
A promessa de “salvação” refere-se ao próprio Messias, não obviamente no sentido de salvação eterna dos pecados. Mas no sentido de salvação de alguma outra coisa, ou libertação.
E de fato o Messias, Jesus Cristo, pediu socorro da cruz (Mt 27.46) e clamou por libertação, no caso da morte física: Hb 5.7 (livrar: gr. σωζω sozo: salvar)
E 850 anos antes, através de Isaías, Deus garante que socorreria o Messias naquele momento e de fato o livraria da permanência na morte, ou seja, o ressuscitou!
É como se Paulo usasse o exemplo de Jesus como uma garantia de que Deus atenderia todo e qualquer que clamasse por Ele.
E devidamente inspirado pelo Espírito Santo, Paulo teve a autoridade de citar um texto do VT aumentando a sua abrangência, do Messias para todos e aplicando o termo salvação para o sentido espiritual de salvação da morte eterna.
E, com essa mesma autoridade, ainda vai além, afirmando que não apenas é certo que Deus atende e salva a quem clama por Ele, mas que, ao chegar a hora oportuna para Ele, faz isso IMEDIATAMENTE!
E então afirma com extrema ousadia:
... eis, AGORA, o tempo sobremodo oportuno, eis, AGORA, o dia da salvação
É como se alguém perguntasse:
- Tudo bem, Paulo, Isaias me garante que Deus me ouvirá no tempo da oportunidade. Mas quando é esse tempo?
Resposta: AGORA!
- E também sei que Deus me socorrerá no dia da salvação. Mas quando é esse dia?
resposta: AGORA!
E aqui está o elemento crucial para quem ouve o Evangelho, de que falei: a necessidade de se posicionar com URGÊNCIA!
Mas por que tanta urgência?
Próxima pregação.
Que Deus nos abençoe. Amém