Ec 2.12-23 65 minutos 22/11/2020
Mauro Clark
v.12
Então, passei a considerar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia.
Após se decepcionar com vários fatores da vida quanto a dar sentido à existência debaixo do sol (alegria, vinho, riqueza, consumismo, divertimento, sexo), Salomão olha para a sabedoria, comparando-a com loucura e tolice.
Quem sabe se na sabedoria esteja a resposta?
Que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram.
Frase difícil, várias interpretações.
Provável: Seguir ao rei: não o sucessor dele, mas qualquer um que quisesse segui-lo no tipo de experiência e pesquise sobre o valor dos prazeres da vida.
“Ora, se eu, com todo essa poder e riqueza e sabedoria não achei valor nenhum, certamente ninguém conseguirá encontrar outra coisa, apenas concluirá como eu”.
v.13-14a:
Então, vi que a sabedoria é mais proveitosa do que a estultícia, quanto a luz traz mais proveito do que as trevas. 14 Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o estulto anda em trevas...
Mesmo debaixo do sol, a sabedoria (terrena) é muito melhor do que a tolice.
O sábio tem olhos, enxerga, analisa, compara e procura o melhor caminho.
O tolo anda no escuro. Vai tropeçar, cair.
Várias passagens de Provérbios alertam contra o tolo, insensato: Pv 14.7; 26.4-8
Em suma: é para guardar distância, ter muito cuidado com o tolo.
1ª. lição prática:
É errado achar que dois descrentes estão no mesmo nível moral e de padrão existencial pelo fato de não terem Cristo. Não é assim.
Há diferença. Saiba valorizar a pessoa com sabedoria de vida e usufruir dessa sabedoria. E saiba evitar o tolo, que só lhe trará prejuízo.
Mas... que pena: mesmo concluindo que há grande diferença entre sábio e tolo, Salomão volta à realidade dura da vida, com uma observação:
v. 14b: ... contudo, entendi que o mesmo lhes sucede a ambos.
v.16: Pois, tanto do sábio como do estulto, a memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto!
Seja alguém sábio ou tolo, duas coisas vão acontecer com ele: morrer e ser esquecido.
Obviamente então Salomão aplica para si próprio:
v.15: Pelo que disse comigo: como acontece ao estulto, assim me sucede a mim...
Inicia um diálogo consigo mesmo:
- Um momento: quer dizer que eu, o homem mais sábio do mundo, estou na mesma situação de um tolo, insensato?
- Sim, está!
- Se é assim, Por que pois, busquei eu mais a sabedoria?
Ao responder esta pergunta, Salomão engasgou: não havia uma resposta razoável!
Então disse a mim mesmo que também isso era vaidade.
Ou seja: buscar sabedoria no mundo como um meio de dar sentido à vida, de tornar a vida mais estável, ou mesmo fazer um trabalho mais duradouro, isso é vazio, frustrante.
Tudo se acabará no momento em que morre e depois será esquecido o que fez.
Essa conclusão teve impacto tremendo em Salomão:
v.17
Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento.
(NAA: perdi o gosto pela vida... penoso o trabalho...)
Aborrecer: expressão forte no hebr.: odiar, ficar contra.
Salomão perdeu o gosto pela vida. Desapareceu o entusiasmo pelo trabalho.
Talvez tenha entrado em depressão.
Temos aqui uma boa explicação para alguns casos de depressão: a pessoa passa a vida buscando com seriedade alguma sabedoria ou conhecimento, se cansa nisso, e de repente percebe que isso não deu sentido à sua vida, não o tornou melhor que os outros, tudo dará em absolutamente nada!
Bate um profundo desânimo e vem a depressão.
2ª. lição prática:
Cuidado com a obsessão de progredir, fazer mais cursos, ter mais diplomas, mais cultura, aprender de mais mestres do mundo - tudo visando apenas subir mais na vida, ser mais respeitado, impressionar mais pessoas, ou curiosidade, isto é, motivos debaixo do sol”.
A sabedoria terrena que vem disso, mesmo que traga alguma utilidade para a sociedade, não preencherá o coração do crente.
Parece que a menção no v.17 à “obra que faz embaixo do sol”, despertou em Salomão a vontade de perscrutar o seu trabalho. E o que percebeu foi outra decepção:
v. 18-23 – No trecho, vemos três observações frustrantes para Salomão:
1. A vida é duríssima, com trabalho, cansaço, doenças (dores).
Se pelo menos essas coisas gerassem uma sensação de realização, de desejo alcançado, até que valeria a pena.
Mas, como se fosse pouco todo o trabalho e fadiga, o que vem ainda é frustração, desgosto, preocupação, inquietude de coração à noite (insônia). Que coisa frustrante!
Para que trabalhar tanto, se cansar tanto? Tudo isso é nulidade!
3ª. lição prática:
Não adianta “se matar” de trabalhar.
Está correto o dito popular: “O trabalho é meio de vida, não de morte”.
2. Já que iria morrer, claro que deixaria tudo para os filhos (talvez apenas o mais velho).
Mas ele não fez nada para receber, de “mão beijada”, bens conseguidos às custas de muita sabedoria, conhecimento, raciocínio, planejamento e trabalho.
Isso é um... grande mal.
3. Se pelo menos o herdeiros fosse sábio, soubesse aproveitar com sabedoria o que herdou sem fazer nada, isso o consolaria.
Mas, seria o caso? Daria para se assegurar disto?
De maneira nenhuma. Ninguém poderia prever de antemão a maneira como o herdeiro iria se utilizar de tudo. Isso era terrivelmente frustrante.
4a. lição prática:
Cuidado para não trabalhar demais para os filhos e nem ter obsessão de deixar muitos bens para eles.
v.20, embora no meio do trecho, é uma conclusão:
Então, me empenhei por que o coração se desesperasse de todo trabalho com que me afadigara debaixo do sol. Tradução confusa.
Nova Almeida Atualizada: Então tratei de fazer com que o meu coração perdesse a esperança de todo trabalho com que me afadiguei debaixo do sol.
Corrig.: Pelo que eu me apliquei a fazer que o meu coração perdesse a esperança de todo trabalho em que trabalhei debaixo do sol.
NVI: Cheguei ao ponto de me desesperar por causa de todo o trabalho em que tanto me esforcei debaixo do sol.
Parece que Salomão conscientemente se determinou a não ficar cheio de esperança com o fruto do trabalho dele na vida.
É impressionante o vigor com que o rei escritor tenta desesperadamente encontrar um sentido, um motivo para esperança ou alegria, nesta vida debaixo do sol, e não consegue!
Essa sofrida tentativa continuará ao longo do livro, com lances de pessimismo, mescladas com observações muito úteis e conselhos práticos.
Pelo menos, de vez em quando ele salta para “acima do sol” e fala em Deus.
Um alívio na carga que se acumula sobre os ombros de quem lê.
É o que faz nos próximos três versículos, que veremos na próxima pregação.
Que Deus nos abençoe. Amem